Alguns cientistas, dão o aquecimento global como algo certo. James Lovelock, por exemplo, afirma que a Terra atingirá um estado quente e estável, em resposta a atividade humana. Para Lovelock, os 7 bilhões de habitantes que habitam o planeta causaram tanto impacto (mudança na cobertura do solo, poluição do ar com sua atividade industrial, agropecuária, etc) que chegamos em um ponto onde é impossível retroceder: o planeta vai esquentar e não tem jeito!
Em seu livro Gaia: Alerta Final, Lovelock cogita a possibilidade de que ondas migratórias ocorrerão em decorrência do aquecimento global inevitável. Os sobreviventes do aquecimento global deixarão as áreas tropicais e passarão a ocupar os territórios localizados em altas latitudes, que terão temperaturas mais amenas e confortáveis para as atividades humanas.
O IPCC (painel mudanças climáticas, checar) é o maior órgão em nível mundial, criado para estudar o aquecimento global, divulgar resultados e discutir políticas mitigatórias contra o aquecimento global.Tanto o IPCC quanto Lovelock afirmam que o clima do planeta está mudando e caminhando para um estado mais quente que a média. Como argumentos, usam:
1) Dados de modelos climáticos (leia sobre modelos aqui): modelos climáticos são programas de computador desenvolvidos por pesquisadores em universidades e centros de pesquisa. Esses programas simulam a atmosfera: através de dados observados no instante atual e conhecendo as leis da física que regem a atmosfera é possível fazer um prognóstico do estado da atmosfera em um futuro.
2) Observações meteorológicas. Há no mundo estações meteorológicas que funcionam há muitos anos. Em grande parte dessas estações é possível notar uma tendência de elevação da temperatura média.
Na Figura 1, um teste de hipótese (T de Student) da correlação ano x temperatura média foi aplicado. O valor deu t=13,0. Como são n-2 graus de liberdade (77), consultando a tabela da distribuição de T de Student, verificamos que a correlação é significativa. Sendo assim, nessa estação meteorologica (usada como exemplo), a temperatura média realmente tem aumentado ao longo dos anos, mesmo com as flutuações interanuais.
3) Observações oceanográficas. Em diversos pontos no mundo, são feitas medições do nível médio do mar. Com o aumento da temperatura, o nivel do mar deve subir por duas razões: derretimento das geleiras e expansão/dilatação da água.
4) Comparação entre concentração de CO2 e variação de temperatura. E aqui temos o gráfico mais famoso, retirado de um trabalho de Charles David Keeling. No gráfico, é possível observar que a concentração de CO2 aumentou, assim como a temperatura também aumentou, sugerindo uma correlação entre os dois eventos. Embora o cientistas saibam que o CO2 é um gás de efeito estufa (ou seja, ‘prende calor’ na atmosfera), muitos são receosos ao afirmar correlação entre aumento de sua concentração e aumento de temperatura.
O item 4) talvez seja o maior alvo de críticas dos especialistas que são contrários ao aquecimento global. Virou até motivo de piada, nesse gráfico abaixo (Figura 4). A crítica é: é possível correlacionar qualquer coisa.
O IPCC, que é composto por vários cientistas e tomadores de decisão (políticos de diversos países), teve sua credibilidade abalada após uma série de escândalos, que foram chamados de Climagate. Pessoas ligadas ao IPCC foram acusadas de manipular resultados, de modo que os resultados dos modelos climáticos indicassem um aquecimento maior do que realmente calcularam. Infelizmente, com esse escândalo, muitas pessoas deixaram de dar créditos às informações veiculadas pela imprensa. Talvez muitos dos céticos do aquecimento global viram nesse escândalo um argumento adicional para suas críticas.
Os céticos quanto ao aquecimento global questionam principalmente os seguintes pontos:
1) Algumas estações meteorológicas estão mais bem localizadas que outras ou as áreas em torno delas tiveram crescimento urbano. Sendo assim, estariam sofrendo os efeitos da ilha de calor urbano. Como podemos dizer que é o que ocorreu na Estação Meteorológica do IAG-USP. Ao longo de seus quase 80 anos de operação, a Estação Meteorológica do IAG-USP viu a cidade de São Paulo crescer em torno da mata do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga , onde está localizada. Sendo assim, a tendência de aumento de temperatura apresentada na Figura 1 pode ser resultado também da ilha de calor urbano apenas.
2) Os céticos quanto ao aquecimento global também questionam a confiabilidade dos modelos climáticos. Muitos argumentam que a previsão para daqui 100 anos, por exemplo, é falha, pois outros fatores não previstos e não conhecidos pela ciência atual podem ocorrer, fazendo com que a previsão não corresponda ao que realmente ocorrerá no futuro.
3) Alguns céticos também dizem que monitoramos a atmosfera há pouco tempo. Os satélites meteorológico, por exemplo, começaram a ser usados massivamente a partir dos anos 70/80. Segundo eles, é provável que alguns fenômenos que observamos hoje (furacões e derretimento das calotas polares, por exemplo), tenham ocorrido também em épocas remotas.
4) Muitos desses céticos não desconsideram o aquecimento global em si, mas questionam se este aquecimento é resultado da atividade humana (antropogênico). Esses céticos acreditam que outras forçantes, como o Sol e a inclinação do eixo da Terra, são mais intensas do que atividade humana e são as verdadeiras responsáveis pelas mudanças climáticas.
Aqui neste blog eu tenho a liberdade de dar minha opinião. Eu concordo com alguns pontos apresentados pelos céticos. Com relação ao item 1) apresentado pelos céticos, sempre imagino que a soma do efeito das ilhas de calor das grandes metrópoles do mundo podem fazer com que o aquecimento deixe de ser local, passando então a ser global. Com relação ao item 2), também concordo com os céticos. Os modelos climáticos precisam agregar novas considerações científicas e é de fato o que acontece sempre nos centros de pesquisas. Os modelos hoje já estão incorporando vegetação variável (dependendo da época do ano ou do avanço de pastagem e áreas de cultivo), por exemplo, característica que há alguns anos não era incorporada. Também concordo com o item 3), porém registros paleoclimatológicos podem também nos dizer, de maneira indireta, como foi o clima no passado. E finalmente, com relação ao item 4) apresentado pelos céticos, eu concordo que o Sol e o eixo da Terra são as forçantes mais importantes para determinar nosso clima, mas várias evidências tem mostrado que a atividade humana – digo mais, a atividade biológica de um modo geral – influencia no clima da Terra. O próprio exemplo das ilhas de calor urbana do item 1) apresentado pelos céticos é um exemplo desta influência, além é claro, dos próprios gases de efeito estufa. Esse ponto é um pouco longo de ser explicado e pretendo falar dele em outro post.
Quero aqui mostrar que o ceticismo é importante, mas é natural que cada um defenda um lado. A imparcialidade é impossível, principalmente em um blog pessoal. Até aqui, o leitor já deve ter percebido de qual dos lados, digamos assim, ‘eu visto a camisa’.
Toda esta introdução é para falar de uma reportagem que li esses dias no Daily Mirror. Tive conhecimento desta matéria ela através deste blog. Ok, talvez alguns argumentarão:
– Samantha, é o Daily Mirror. Um TABLÓIDE. É SENSACIONALISTA!
Sim, mas as informações são do MetOffice, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido. As informações na reportagem do Daily Mirror não foram inventadas ou mascaradas, pois foram de fato conclusões chegadas por pesquisadores do MetOffice. Segundo estes pesquisadores, baseados em dados de mais de 30.000 estações meteorológicas, a tendência de aumento da temperatura global foi interrompida em 1997. De 1997 até 2011, foi registrado na verdade um decréscimo da temperatura global, de acordo com este estudo.
O primeiro ponto que questiono é este. Entre 1997 e 2011 são apenas 14 anos. É pouco tempo, para estudos de climatologia, na minha opinião. Ciclos de manchas solares e El Niño são dois exemplos de fenômenos interanuais que provocam flutuações e que podem dar essa ‘impressão’ de redução de temperatura. Também existe a possibilidade dos pesquisadores do Met Office estarem certos e de fato a temperatura vai começar a cair. Eu acharia ótimo, já que odeio o calor.
O que me impressionou, negativamente falando, no blog que fazia um link para esta reportagem do Daily Mirror, foi este gráfico:
Aparentemente, este gráfico não faz parte do estudo do MetOffice. Infelizmente, o autor do blog não mencionou a fonte, apenas disse que trata-se de dados de temperatura da superfície do mar. Eu me pergunto como é possível traçar uma tendência (linha verde) nesses dados. Verifique a quantidade de ciclos nesses 11 anos de dados. Não creio que essa linha de tendência represente bem os dados. Um teste de hipótese estatístico (Teste T-Student, por exemplo) deveria ser feito e apresentado junto com o gráfico.
Na minha opinião, fica mais uma vez o alerta sobre questionar tudo sempre. Busque informações, leia os argumentos daqueles que defendem ferrenhamente o aquecimento global causado pelo homem e leia também os argumentos dos céticos do aquecimento global. Formule suas próprias conclusões, sempre questionando os dois lados. Procure informações vindas de instituições gabaritadas e pessoas capacitadas. E indepedentemente de aquecimento global sendo de origem antropogênica ou não, o Planeta Terra é a nossa única casa no momento. Vamos cuidar dela, pois somos parte dela. Cuidando dela, cuidamos de nosso bem-estar 🙂
ROOSEVELT S. FERNANDES diz
Mudanças Climáticas – com quem está a verdade?
Em artigo recente no Wall Street Journal, assinado por dezesseis cientistas, o grupo apresenta uma carta aberta à sociedade – não necessariamente um documento científico – em relação ao que pensa do Aquecimento Global (causa) e as Mudanças Climáticas (efeitos).
No texto – polêmico, mas que deve ser respeitado – é feita a citação que não há motivo para pânico sobre o assunto. Enfatiza que há gente ganhando dinheiro na venda do que chama de “alarmismo climático”. Conclui dizendo que um grupo de cientistas está sendo deixados – propositalmente – fora da discussão, particularmente os que não defendem soluções drásticas para a solução do Aquecimento Global. Continua, criticando abertamente o IPCC e a ONU. Explícita – em tom de desabafo – que os modelos matemáticos utilizados por estas instituições estão superestimando os valores de previsão dos futuros efeitos do Aquecimento Global, ou seja, das Mudanças Climáticas.
Os cientistas vão mais longe; afirmam que o crescimento do nível de gás carbônico na atmosfera foi muito bom para a produtividade da agricultura, ou seja, o efeito estufa foi positivo sob este aspecto. Vão mais longe: o grupo dos cientistas alarmistas visou – e conseguiu – financiamento público para suas pesquisas voltadas aos seus interesses e não, necessariamente, com a verdade. Este fato propiciou a alguns governos a desculpa para criarem taxas e subsídios, ou seja, a saída para as necessárias soluções econômicas, disfarçadas por pressão ambiental.
Posições antagônicas como esta – digamos polêmicas em termos de convergência para uma verdade de consenso científico – têm sido, de forma cíclica, uma realidade em relação ao tipo de informações sobre o Aquecimento Global que chegam à sociedade. Para quem deseja – sem ser iniciado no tema – entender o que está acontecendo de verdade, acreditando que os cientistas é que deveriam ter as respostas para as suas dúvidas (digamos, as primárias) acaba por levar a sociedade a, cada vez mais, a se afastar da discussão, exatamente no sentido inverso que se faz necessário.
Muitas pesquisas mostram que a sociedade – no caso a brasileira – mostra envolvimento com a problemática decorrente do Aquecimento Global, entretanto outras pesquisas evidenciam que apesar de mostrarem envolvimento com o tema, não conseguem, com suas próprias palavras, explicar o que é Aquecimento Global (causa) e Mudanças Climáticas (efeitos). Respeitando as duas linhas de pesquisa fica a evidente a dúvida: a sociedade pode estar envolvida com um assunto que não consegue explicar?
O cenário é, no mínimo, preocupante, pois a tendência da discussão ainda continua na área científica – apoiada ou contestada por ambientalistas, governos e uma minoria de iniciados da sociedade – pano de fundo para várias conferências realizadas ao longo do mundo, voltadas ao tema.
Nosso foco neste artigo – sobretudo, pois não há espaço para tal – não é defender uma das posições (alarmistas x não alarmistas), mas colocar a discussão em termos da sociedade, ou seja, procurar esclarecer o aspecto de que ela não pode se excluir / omitir dessa discussão. Ou seja, acompanhar os fatos na mídia, estando consciente que, em algum momento, a sociedade terá de ser ouvida.
Simplificando, se é que é possível: partindo dos extremos, sem compromisso com nenhum dos lados, se as Mudanças Climáticas não serão críticas como dizem os “não alarmistas” ou se serão, como afirmam os “alarmistas”, em qualquer dos casos a sociedade já está pagando os ônus decorrentes (necessários ou não).
Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
roosevelt@ebrnet.com.br
Toshio diz
Belo post Samantha,
Temos que lembrar ainda que os modelos não parametrizam bem os aerossois e nem a participação dos diversões tipos de nuvens em reter calor ou refletir a luz do sol incidente.
Se a Terra voltar a ter um arrefecimento nem me surpreenderia, afinal a apenas alguns anos a moda era dizer que estávamos indo para nova era do gelo.
A minha opinião está mais pendente para as forçantes naturais do que antropogênicas, mas isso não quer dizer que concordo que poluam a vontade por ai.