Eu estava auxiliando um repórter em uma matéria sobre frio extremo quando acabei lendo um termo curiosíssimo: desnudamento paradoxal.

Afinal, o que é o desnudamento paradoxal?
De 20% a 50% das mortes por hipotermia estão associadas ao fenômeno de desnudamento paradoxal {1}. Isso costuma ocorrer nos casos de hipotermia de moderada a severa, quando a pessoa fica completamente desorientada. Uma das consequências dessa desorientação é a remoção das próprias roupas.
As equipes de resgate treinadas para atender vítimas de hipotermia já estão treinadas e acostumadas a esse tipo de situação. Inclusive nos casos de vítimas de hipotermia em ambientes urbanos, quem não tem conhecimento a respeito desse fenômeno pode assumir incorretamente que o indivíduo foi vítima de abuso sexual.
Uma explicação para esse fenômeno é que o frio poderia induzir uma mau funcionamento do hipotálamo, parte do cérebro que regula a temperatura corporal. Outra explicação é que durante o frio extremo, os músculos contraídos acabam por também contrair os vasos sanguíneos periféricos (conhecido como perda do tônus vasomotor) que ficam exauridos e relaxados, levando a um aumento súbito de circulação sanguínea (e consequente sensação de calor) para as extremidades, enganando a pessoa que sente-se subitamente superaquecida.

Claro que com a remoção das roupas, a pessoa fica na verdade menos aquecida e isso pode acelerar a morte, caso a pessoa não seja rapidamente resgatada. O desnudamento paradoxal ocorre nos estágios finais de hipotermia, quando a pessoa está por muito tempo exposta a baixas temperaturas. Há ainda outro fenômeno curioso e igualmente triste associado com a hipotermia severa. É o Terminal Burrowing Behavior {2}, que poderia ser traduzido como “Comportamento de Entocamento Terminal” e também é conhecido como hide-and-die syndrome. Ocorre que muitas vítimas de hipotermia acabam sendo encontradas entocadas, encolhidas atrás de armários, debaixo de camas ou entre rochas. A razão é um instinto primitivo de hibernação ou entocamento, que possivelmente ainda esteja presente em nossos cérebros.
Mesmo aqui no Brasil, há casos de hipotermia, principalmente em São Paulo e nos Estados da Região Sul, embora eu já tenha visto casos de alertas da Defesa Civil referente ao frio da madrugada para Belo Horizonte também. As pessoas muito pobres, que vivem em casebres muito simples (na beira de córregos e sem janelas) e moradores de rua são as principais vítimas. Ainda nos casos dos moradores de rua, infelizmente o alcoolismo é uma recorrente nessa população e o álcool ‘engana’ o corpo pois tem um efeito vasodilatador e a pessoa sente-se aquecida, mas na verdade está perdendo calor. Em outras palavras, o álcool pode agravar a hipotermia.
Infelizmente lemos notícias de mortes devido ao frio no Brasil e por todo o mundo. Há uma população muito vulnerável no leste europeu, por exemplo. São países pobres, com uma rede de energia elétrica ineficiente e antiga. Há pessoas em dificuldade, que passam muito frio nessa região.
Anteriormente, destaquei um quadro de Adolph Northen (conhecido pintor que era especializado em cenas de batalhas) mostrando as tropas napoleônicas batendo em retirada da Rússia. O frio extremo provocou a morte de muitos soldados de Napoleão. Durante a Segunda Guerra Mundial, o frio extremo da União Soviética também foi um dos responsáveis pela resistência à invasão alemã {3}.
Bibliografia (além da linkada nos números)
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