O crescimento da empresa foi incrível. No primeiro ano, ele teve apenas 3 pedidos. Entre 2010 e 2011, foram 12 pedidos e de acordo com a matéria publicada no The Guardian em agosto do ano passado, em 2017 foram 650 pedidos.
Os globos menores levam cerca de 3 semanas para serem concluídos e os maiores podem levar mais de 6 meses para serem finalizados. Os tamanhos dos globos variam entre 22cm até cerca de 150cm de diâmetro e os preços variam entre £1,200 e £79,000. Caríssimos, né? Mas vale lembrar que é um trabalho totalmente artesanal e as opções para personalização do globo são inúmeras.
Agora imagine um globo de 150cm de diâmetro? Segundo Bellerby, um cliente espanhol deve que derrubar a parede de seu escritório e depois reconstruí-la, para que o globo pudesse entrar no escritório {x}.
Os globos de Bellerby foram destaque em diversos sites de notícias e portais de curiosidades. O Mashable divulgou um vídeo que destaca o processo de fabricação desses incríveis globos:
This guy is one of the last artisan globe makers, but he's inspiring a new generation pic.twitter.com/KVGFYR4Pv2
— Mashable (@mashable) March 12, 2018
Construir um globo terrestre não é nada fácil. Além da técnica correta e da escolha de bons materiais, e necessário fazer vários cálculos para que o mapa terrestre se transforme em tiras ovaladas (em inglês, são chamadas de gores) de modo que elas possam ser coladas individualmente e perfeitamente ajustadas no globo de tamanho escolhido. Isso precisa ser feito com o máximo de precisão possível, para que não existam falhas entre cada uma dessas tiras de papel, depois de coladas no globo. Além disso, todo um cuidado com a escala e com a proporção da área dos países precisa ser tomado. Se um erro for cometido, a tira de papel terá que ser re-impressa e tudo precisará ser refeito. O trabalho é realmente de primeira: é um globo terrestre para durar gerações.
A imagem abaixo, como exemplo, mostra o formato dessas tiras de papel (no vídeo do Mashable que destaquei anteriormente é possível para ter uma ideia ainda melhor).

O vídeo que destaquei mostra a complexidade do processo de fabricação e Bellerby não guarda o “segredo a sete chaves”. Na verdade há diversos tutoriais mostrando como um globo terrestre (ou uma esfera celeste) são fabricados. A empresa também recebe aprendizes, que certamente são rigorosamente selecionados. É algo que mistura muito conhecimento técnico (geografia e matemática) e muito talento artístico.
A primeira menção a um globo terrestre é de 150 a.C., um globo desenvolvido por Crates de Malos, que foi o primeiro bibliotecário da Biblioteca de Pérgamo. O globo terrestre mais antigo que ainda resiste é o Erdapfel (1492), construído por Martin Behain (mencionei Behain nesse post) e não inclui as Américas, já que Cristóvão Colombo só retornou de sua viagem em 1493.

Já a esfera celeste mais antiga e que ainda resiste é a presente na escultura romana Atlas Farnese, do século II d.C. A escultura está no Museo Archeologico Nazionale di Napoli.

Bom tudo isso para dizer que esferas celestes e globos terrestres (o processo de fabricação é o mesmo) não são uma novidade, o interessante aqui é ver uma técnica artesanal de fabricação resistir ainda nos dias de hoje. Se formos em lojas de souvenirs, lojas de material cartográfico ou de material escolar, encontraremos desde globos baratinhos e pequenos até globos muito bem construídos e caros, porém feitos através de processos industriais.
O trabalho de Bellerby parece ser muito criterioso. Há todo cuidado, talento artístico e carinho para fazer algo incrível assim e eu acredito que pouca gente tem essa paciência e esse talento. É por isso que quem tem dinheiro e é fascinado por globos terrestres provavelmente não hesitaria em encomendar um com Bellerby. Eu encomendaria, se pudesse!
No vídeo, uma cartógrafa que trabalha com Bellerby ainda fala dos desafios ao representar certas ilhas no mapa. Ela menciona a Ilha da Decepção, na Antártica. Devido a localização dessa ilha, ela pode facilmente “cair” do mapa, provavelmente porque é pequena e fica entre duas dessas tiras de papel.
Globos terrestres, no passado, foram importantes instrumentos de navegação. Hoje são excelentes instrumentos de ensino, além de nos inspirarem. É muito fácil sonhar enquanto se fica observando um objeto tão interessante, imaginando a imensa quantidade de lugares que podem ser visitados. E um globo terrestre bonito e bem feito pode ser também um lindo objeto de decoração.
Indicação de livro
Como vocês já sabem, o Meteorópole é afiliado da Oficina de Textos, uma editora séria que reconhecidamente possui livros de qualidade em português para diversas áreas do conhecimento. Vou indicar alguns livros que tem total relação com o assunto abordado no post de hoje.
- Roteiro de Cartografia, de autoria de Paulo Márcio Leal de Menezes e Manoel do Couto Fernandes.
- Cartografia Básica, de autoria de Paulo Roberto Fitz .
- Cartografia geotécnica, de autoria de Lázaro V. Zuquette e Nilson Gandolfi
- Cartografia de paisagens, de autoria de Lucas Costa de Souza Cavalcanti
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Bibliografia
Além dos links mencionados ao longo do texto.
- Erdapfel
- Henricus Martellus Germanicus e seu mapa-múndi
- Atlas Farnese
- Crates de Malos
- A look inside one of the last globemaker’s studio on Earth
- Crates of Mallus
- Terrestrial Globe
- Terrestrial Globe gores
- Behind the scenes at London’s globe-making workshop – a photo essay
- Bellerby & Co, Globemakers
- Bellerby & Co
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