Hoje vamos dar continuidade a série que trata da temporada de furacões de 2018. E no post-resumo de hoje, certamente o ponto mais interessante trata-se da areia do Deserto do Saara que chegou até o Canadá, graças às ondas de leste (que ajudam a gerar os furacões) e também graças ao Furacão Chris.
A areia do Saara cruzar o Atlântico não é uma novidade. Eu já tratei do assunto em alguns posts aqui do blog, como nesse por exemplo. A questão é que a areia cruzar a ponto chegar até o Canadá é algo muito incomum. A animação a seguir foi compartilhada pelo NWS (National Weather Service), da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), órgão norte-americano responsável pela previsão e monitoramento do tempo e do clima. Na animação, podemos ver o Furacão Chris (falaremos dele no post), poeira do Saara atravessando o Atlântico (a mancha bege que a gente vê se deslocando no Atlântico) e a ITCZ (Zona de Convergência Intertropical). O satélite que obteve essas imagens foi o GOES-EAST e elas correspondem a uma animação de um período de aproximadamente 5h (aproximadamente entre 10 UTC e 15 UTC) para o dia 11/07/2018.
I spy with my little ?
-Hurricane Chris
-Saharan dust
-ITCZ#GOESEast pic.twitter.com/Wp1xpq3Bdn— NWS (@NWS) July 11, 2018
Chegou ao Canadá, mas claro, também atingiu a América Central. A imagem abaixo é da República Dominicana, mostrando a poeira do Saara impactando a visibilidade e a qualidade do ar.
Saharan dust also impacts Dominican Republic affecting visibility and air quality. Tnx @JeanSuriel and @CLIMATEwBORDERS pic.twitter.com/GPRLFPPhwf
— WMO | OMM (@WMO) July 12, 2018
Na animação abaixo, o deslocamento da poeira do Saara nos últimos dias, em decorrência principalmente do furacão Chris, com dados do Copernicus:
How do get Sahara desert sand/dust to travel into Canada? Hurricane Chris off the U.S. east coast pulling it north out of the tropics.
And there’s a LOT more African dust on the way in waves.
Copernicus CAMS (https://t.co/Iq6wDzoalv) pic.twitter.com/pw3fCXgoMO
— Ryan Maue | weathermodels.com (@RyanMaue) July 12, 2018
A poeira do deserto do Saara pode atuar como núcleos de condensação para a formação de gotinhas de nuvens. Ou seja: uma poeirinha que veio de tão longe pode ajudar a formar uma nuvem no local onde ela chegou. A atmosfera é mesmo incrível!
No Golfo do México + Atlântico
Agora que falamos do transporte da areia do Saara que eu diria que é a característica mais marcante dos últimos dias no quesito furacões, vamos fazer um giro (desculpem o trocadilho) nos furacões e tempestades tropicais dos últimos 15 dias e dessa temporada como um todo.
Para o Golfo do México + Atlântico, os nomes para o Atlântico para a temporada de 2018 são:
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Curiosidade que ainda não mencionei sobre essa lista em uso para 2018: ela é a mesma lista usada na temporada de 2012, pois as listas são repetidas a cada 5 anos. Entretanto, em 2012 tivemos o furacão Sandy e por ter sido um furacão muito destrutivo, o nome foi aposentado da lista e Sara foi colocado em seu lugar. Se você chegou até aqui e ainda não sabe quais são as diretrizes para se nomear ciclones tropicais, clique aqui e saiba mais.
Observem que estamos na letra C dessa lista. Tivemos a tempestade tropical Alberto, o furacão Beryl e o furacão Chris. Alberto, apesar de não ter atingido o status de furacão, foi uma intensa tempestade tropical que causou um prejuízo de 50 milhões de dólares e foi responsável pela morte de 12 pessoas. O furacão Beryl atingiu categoria 1 e não causou danos consideráveis e nenhuma fatalidade registrada. Já o furacão Chris, que atingiu categoria 2, ainda não teve seus danos contabilizados e provocou a morte de uma pessoa.
Beryl se formou no dia 5 de julho e se dissipou no dia 7 de julho. Os ventos máximos foram de 80km/h, o que é pouco (inclusive trata-se apenas de um furacão categoria 1 na escala Saffir-Simpson). Como Alberto atingiu apenas o status de tempestade tropical, pode-se dizer que Beryl foi o primeiro furacão da temporada de 2018 no Golfo do México + Atlântico.
O furacão Chris formou-se por volta do dia 6 de julho e dissipou-se no dia 12 de julho. Atingiu categoria 2 na escala Saffir-Simpson, com ventos máximos de aproximadamente 100 km/h. Um homem morreu afogado na costa da Carolina do Norte, devido ao mar agitado em decorrência do furacão Chris. No momento (13/07) o furacão Chris já se dissipou totalmente, não é mais furacão e nem tempestade tropical. Se entrarmos no site do NHC não vamos nem ver os restos de Chris no momento, apenas uma área com probabilidade de cerca de 20% de desenvolvimento de ciclones tropicais para as próximas 48h (veja Figura 1 abaixo):
No Pacífico Oriental
Nos últimos dias, a atividade no Pacífico Oriental esteve bem tranquila. Ainda levando em conta o post anterior dessa serie, o último furacão que tivemos foi Fabio, que atingiu categoria 2 e não afetou nenhuma área habitada, porque se formou mais em alto mar.
Lembrando que no Pacífico Oriental na temporada de 2018 já tivemos os furacões Aletta e Bud, que chegaram a categoria 4 na escala Saffir-Simpson, porém felizmente também se formaram em alto mar e também não afetaram nenhuma área habitada.
Os nomes para o Pacífico Oriental para a temporada de 2018 são:
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No momento também há uma área, em alto mar, com probabilidade de cerca de 20% de desenvolvimento de tempestades tropicais no Pacífico Oriental. Se um furacão se desenvolver nessa área, também é muito possível que ele não afete nenhuma área habitada (Figura 2 a seguir):
Pacífico Central
Nenhum ciclone tropical foi registrado até então na temporada de 2018 e não há previsão de formação para as 48h, de acordo com o Central Pacific Hurricane Center (Figura 3):
Tufões no Pacífico Ocidental
Como meus leitores recorrentes já sabem, ciclone tropical é o nome técnico. No entanto, podemos chamar o fenômeno de furacão ou tufão dependendo da localidade. E lá no Pacífico Ocidental chamam os ciclones tropicais de tufões.
De acordo com aquele post sobre bacias de formações de ciclones, esse é o ESCAP/WMO Typhoon Comittee, área IV indicado no mapa abaixo:
Estou falando sobre o o ESCAP/WMO Typhoon Comittee porque eu precisava falar do tufão Maria, que atingiu categoria 5 na escala Saffir-Simpson. O sistema de nomenclatura do Pacífico Ocidental é bem complicado, porque se você observar a figura 4 vai observar que a área IV (costa do Japão) é circundada por outras áreas de observação e isso implica em nomes diferentes para um mesmo tufão, dependendo das águas por onde ele se movimenta. Sendo assim, o tufão Maria teve um nome diferente nas Filipinas: tufão Gardo. No entanto, o nome internacional é Maria e foi assim que ele ficou conhecido nos meios de comunicação. O tufão Maria afetou partes da costa Chinesa, Taiwan e Ilhas Marianas. Apesar de ter atingido categoria 5 (tendo ventos máximos de 195 km/h), Maria felizmente não deixou mortos, porém foram registrados 2 feridos e mais de 3000 desabrigados em Taiwan.
No Pacífico Ocidental já foram registrados 12 fenômenos na temporada de tufões de 2018, sendo destes 4 tufões, 5 tempestades tropicais e 3 depressões tropicais. O tufão Maria foi até agora o de maior categoria (embora o tufão Prapiroon , que atuou de 28 de junho até 4 de julho tenha atingido categoria 4 e quase chegou a 5).
Como eu mencionei anteriormente, a questão dos nomes no Pacífico Ocidental é um pouco complicada. Embora a maior parte dos países membros do ESCAP/WMO Typhoon Comittee concorde com o que chamam de uma lista internacional de nomes, as Filipinas acabam tendo sua própria lista de nomes. Para não deixar o post confuso, vou falar apenas da lista internacional de nomes (elaborada pelo ESCAP/WMO Typhoon Comittee) para a temporada de tufões de 2018:
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Fenômenos que atingem apenas o status de depressões tropicais, assim como no Pacifico Central, Pacífico Oriental e Atlântico, não recebem nomes.
E as enchentes e deslizamentos de terra no Japão?
Outro assunto meteorológico que está sendo muito divulgado na imprensa são as enchentes e os deslizamentos de terra em diversas localidades japonesas. Já são mais de 150 mortos, muitos desaparecidos e muitos outros desabrigados. É a pior catástrofe meteorológica a atingir o país (desde 1982). Uma das áreas mais afetadas é a cidade de Okayama, onde as buscas por sobreviventes são incessantes.
Essas enchentes não tem relação com a ocorrência de algum tufão específico, embora como mencionei anteriormente, seja temporada de tufões na região. Entretanto, as áreas de instabilidade que geram os tufões também provocam tempestades “comuns”. A estação chuvosa no Japão ocorre entre maio e julho, que trata-se do final da primavera e inicio do verão no país. Ou seja, estamos na estação chuvosa japonesa, ocorre que o volume de chuvas realmente está bem acima da média.
Achei relevante mencionar as chuvas intensas no Japão para que meus leitores saibam que elas não tem relação direta com os tufões que já aconteceram. Eu já vi alguns sites de notícia “misturando” chuvas no Japão e tufões, por isso fica o alerta.
Dica de livro
Agora vou falar de um livro em português que é super recomendado para quem está iniciando seus estudos em Meteorologia. Meteorologia: noções básicas conta com um time de autores excelentes (Rita Yuri Ynoue, Michelle S. Reboita, Tércio Ambrizzi, Gyrlene A. M. da Silva), todos professores de cursos de Meteorologia de diversas regiões do Brasil.
Hoje, o jornal em qualquer mídia apresenta e explica a dinâmica meteorológica. Embora façam parte de um sistema complexo, os fenômenos meteorológicos são apresentados nesta obra de forma simples e didática, desde os conceitos básicos de composição e estrutura da atmosfera até a previsão do tempo e do clima e as mudanças climáticas. {x}
Vale muito a pena comprá-lo! Na obra, há material introdutório sobre ciclones tropicais. Um excelente ponto de partida, sem dúvidas. Comprando o livro a partir do meu link, você ajuda na manutenção do Meteorópole, já que eu recebo uma pequena comissão. É uma maneira de ajudar o blog, pois como disse aqui, é através das propagandas que o site se mantém.
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