Não sei se o termo certo em português é “negacionismo climático”. Em inglês, usa-se o termo climate denial. São pessoas que negam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo. E dentro desse processo de negação, alguns negam totalmente e outros negam papel do homem no processo (admitindo o papel das mudanças ditas naturais).
De qualquer maneira, essas pessoas estão ignorando diversos artigos científicos que já foram publicados e que constatam que a ação humana, na emissão de gases de efeito estufa e na mudança do uso do solo é responsável pelas mudanças que estamos enfrentando atualmente.
Vez ou outra surge um negacionista aqui no bloguinho. E os caras são chatos, viu! Percebo até que alguns são machistas, pois já chegaram a me tratar com condescendência e até ofensas em algumas ocasiões. Sinceramente? Em alguns casos é desconhecimento mesmo e em outros é aquela síndrome de “acho-que-sou-galileu-galilei”que acomete algumas pessoas. Elas querem ser “do contra” por razões superficiais, achando que dessa forma vão se destacar no futuro como alguém de visão. Acontece que Galileu Galilei e outros que vieram antes ou depois dele tinham argumentos sólidos que no final das contas, foram confirmados.
Uma coisa que a gente precisa levar em consideração é que existe um número infinito de “fés”. Alguns de meus leitores sabem que tive criação Protestante. Pois então, o que muitos, por ignorância ou simplicidade, chamam de “crentes”, é na verdade um emaranhado de igrejas pentecostais/neo-pentecostais/protestantes/etc. E cada uma dessas igrejas é mais ou menos fundamentalista, dependendo do ponto abordado.
Acontece que não existe uma união de igrejas “de crente evangélico”. Por exemplo, a Igreja Católica Apostólica Romana. Todas as Igrejas Católicas ao redor do mundo seguem os mesmos ritos, o mesmo calendário, etc. Porque existe um “órgão central”, o Papa no Vaticano, que coordena todas essas coisas. Não existe isso para igrejas evangélicas! Por isso o culto de uma Igreja do Evangelho Quadrangular é completamente diferente do culto de uma Igreja Presbiteriana e não tem nada a ver com o que é pregado dentro de um Salão do Reino das Testemunhas de Jeová.
Depois que Lutero traduziu a bíblia para o alemão e possibilitou que mais pessoas puderam ler, portas foram abertas para diversas interpretações do texto bíblico. E acreditem, as pessoas tem uma enorme dificuldade com linguagem figurada e contextualização histórica. As igrejas sempre exerceram muito lobby na política e na economia. No passado, esse papel era da ICAR (falo do cenário brasileiro). Hoje, a presença de políticos evangélicos é fortíssima, influenciando em decisões importantes dos direitos civis. Dessa forma, as igrejas acabam também pregando aquilo que lhes convém, independentemente do texto bíblico, em muitas situações.
Em um recente artigo do The Washington Post, indicado pelo meu amigo meteorologista Rodrigo J. Bombardi, foi publicado um diagrama muito interessante, relacionando fé e apoio a ciência do clima e à Teoria da Evolução. Como eu adoro diagramas, vamos republicá-lo aqui:
No diagrama, o 0 seria o equivalente a “não me importo com essas questões”. O -1 indica que “não apoio a teoria da evolução” ou “não apoio a ciência do clima”. E o 1 significa “apoio a teoria da evolução” ou “apoio a ciência do clima”. No eixo x, temos o “apoio à Teoria da Evolução”, variando de -1 até 1. E no eixo y, temos “Suporte a regulamentações ambientais (focadas em questões climáticas, no caso)”, também variando de -1 até 1.
Budistas, Judeus (exceto ortodoxos), Agnósticos e Ateus estão bem próximos do ponto (1,1), o que indica um esclarecimento científico nessas áreas. Perto do -1, temos as “Assemblies of God”, que são as Assembléias de Deus Norte-Americanas (alguns missionários dessa igreja ajudaram a fundar as Assembléias de Deus aqui do Brasil). Os membros da “Adventista do Sétimo Dia” não apoiam a teoria da evolução mas são um pouco favoráveis às regulamentações ambientais. Bom, alguns adventistas rejeitam a Teoria da Evolução de Maneira extrema, a ponto de ensinarem Criacionismo nas Escolas Adventistas.
Os Anglicanos em geral apoiam as duas questões apresentadas. Bom, a Igreja Anglicana tem se mostrado muito progressiva em outros pontos: por exemplo, união homoafetiva e ordenação de homossexuais. Luteranos e Presbiterianos (PCUSA) também estão um pouco deslocados do ponto (0,0), apoiando, mesmo que pouco, as duas questões apresentadas.
Minha impressão é de que a PCUSA é mais progressiva que a IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil). Há uns 11-12 anos assisti uma palestra de um “cientista criacionista” em uma IPB. Percebo que para muitos presbiterianos brasileiros a Teoria da Evolução é ainda considerada como “uma mentira”, entretanto eles são mais abertos para questões ambientais.
O tamanho dos círculos no diagrama tem relação com a quantidade de pessoas entrevistadas para a pesquisa Religion & Public Life, que deu origem ao diagrama. Para saber mais sobre a pesquisa, clique aqui.
Uma das conclusões interessantes do diagrama é que ciência e religião não necessariamente precisam estar em guerra. O estudo sugere que algumas religiões são mais pautadas no bom senso. De qualquer maneira, acho que depende muito de cada indivíduo e acho que só dá certo se a pessoa consegue viver uma vida sem fanatismo religioso e sempre pautada em críticas, leituras e novos conhecimentos.
Eu pessoalmente, apesar de concordar com algumas coisas da Igreja Presbiteriana (da qual boa parte da minha família é participante), eu prefiro não frequentar a igreja porque discordo de muito o que é pregado e deixei de encontrar paz nesse lugar. Não pretendo mudar de religião (isso significaria readaptação, novos rituais, novos problemas etc), até porque a forma com que me relaciono com Deus é uma forma protestante. Por isso vou continuar fazendo minhas orações em casa.
Fonte:
– The surprising links between faith and evolution and climate denial — charted, The Washington Post
O Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social (NEPAS) desenvolveu uma pesquisa – Região da Grande Vitória / ES – voltada ao estudo comparativo da percepção ambiental de católicos e evangélicos frente à problemática das Mudanças Climáticas. A pesquisa na íntegra pode ser acessada em http://www.nepas.com.br (grupo sem fins lucrativos), permitido, se pertinente, sua divulgação.
Roosevelt
roosevelt@ebrnet.com.br
Nossa, que interessante. Vou dar uma olhada no site de vocês 🙂
MUDANÇAS CLIMÁTICAS – ORIGENS E EFEITOS
O QUE A SOCIEDADE CAPIXABA PENSA SOBRE O ASSUNTO
Em pesquisa realizada – única até hoje no Estado – pelo Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social / NEPAS, grupo sem fins lucrativos, que poderá ser acessada na íntegra via http://www.nepas.com.br , foi avaliado o perfil da percepção ambiental da sociedade na Região da Grande Vitória (Vitória, Cariacica, Serra e Vila Velha), tendo como base 960 entrevistas, com um erro associado de mais ou menos 3%.
Apesar da temática “Mudanças Climáticas” ser do pleno interesse da sociedade, com requerimentos protocolizados junto aos Conselhos Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA) e Estadual de Recursos Hídricos (CERH), por entidades da sociedade civil com assento nestes Conselhos (Junho de 2018 e Abril de 2019), até hoje, de forma inexplicável, nada foi feito por parte dos gestores ambientais no que se refere a convocação de reunião conjunta dos Conselhos para analisar e propor ações (corretivas e preventivas) que possam balizar a ação do Poder Público.
Merece destaque o fato de que o Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas, criado pelo próprio Poder Público, foi desativado, também por razões desconhecidas, há alguns anos.
Quanto a pesquisa, entre outros questionamentos, foi perguntado aos entrevistados se conheciam o termo “Mudanças Climáticas”, obtendo-se respostas afirmativas em percentual que oscilou entre 18 e 23%. Para “Efeito Estufa” oscilou entre 1 e 2%, “Aquecimento Global” 17 e 22% e para “Desenvolvimento Sustentável” entre 11 e 20%, o que evidência a distância entre a sociedade e os conceitos básicos do conteúdo da pesquisa, ou seja, a necessidade de estruturar e implantar ações / programas de Educação Ambiental que cubram tais objetivos.
Foi pesquisada a causa das Mudanças Climáticas, observando-se a seguinte resposta: “devido a atividade humana” (entre 15 e 19%), questionando-se também se o Aquecimento Global (causa das Mudanças Climática seria, na visão da sociedade, um problema sério , sendo que apenas 3 a 8% dos entrevistados confirmaram o fato, o que é um fato realmente preocupante.
A ação do Poder Público foi avaliada em termos de assegurar condições para a minimização do processo de Mudanças Climáticas, sendo, por 10 a 13% dos entrevistados, consideraram como uma ação fraca e, 7 e 8%, como muito fraca.
Questionados se as instituições de ensino superior (públicas e privadas) estão preparando adequadamente os profissionais que deixam as faculdades de modo a poder enfrentar o tema Mudanças Climáticas, apenas 4 a 8% indicaram que sim.
Consultados se conheciam alguma organização não governamental (ONG) que atuasse na região onde mora, 21 a 23% disseram que não, além de acusar um reduzido acesso a sites ligados à temática ambiental (0,5 e 2% disseram que sim).
Perguntados se teriam interesse em ter maiores informações sobre o tema Mudanças Climáticas, foi observado respostas entre 5 e 8%. Quanto a Aquecimento Global as respostas oscilaram entre 9 e 11% e em relação a Efeito Estufa, 4 a 5%.
Questionados se a sociedade teria poder para exigir ações do Poder Público em relação as Mudanças Climáticas, 9 a 14% indicaram que a sociedade tem pouco poder, mas que deveria lutar para reverter esta situação, o que enfatiza ainda mais a importância da discussão do assunto no âmbito dos Conselhos.
Visando entender como a sociedade percebe os efeitos decorrentes das Mudanças Climáticas, foram observadas as seguintes respostas: “aparecimento de efeitos climáticos extremos” (8 a 15%), “elevação do nível dos mares” (11 a 17%), “derretimento das geleiras” (12 a 19%), “redução na disponibilidade de água” (4 a 12%), “desertificação” (7 a 14%), “efeitos na agricultura” (2 a 11%) e “efeitos sobre a saúde da população” (4 a 12%), contexto que caracteriza uma visão muito limitada da problemática das Mudanças Climáticas.
Consultados se participaram de alguma palestra / evento sobre o assunto, apenas 17 a 21% indicaram que sim.
Concluindo, a nosso ver, fica evidente que a inserção do tema na pauta dos Conselhos, com a urgência que se faz necessário, é uma ação inadiável.
Roosevelt Fernandes
Membro do CONSEMA e do CERH
roosevelt@ebrnet.com.br