A síndrome do impostor também é chamada de fenômeno do impostor ou síndrome da fraude. E talvez você esteja sofrendo dela no momento. Bom, eu acho que eu sofro. Nunca fui a um psicólogo falar sobre isso (talvez eu deveria), mas eu percebo que tenho quase todos os sintomas desse fenômeno.

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Claro que não sou psicóloga e vou falar isso de maneira bem informativa. O que me fez ficar pensando nisso foi esse texto do The Huffington Post, que apresenta sete sinais de que você pode estar sofrendo dessa síndrome. Segundo a psicóloga Valerie Young, autora do livro “Os pensamentos secretos das mulheres de sucesso”, as pessoas que sofrem dessa síndrome se convencem de que os elogios e reconhecimento dos outros em relação às suas conquistas não são merecidos, atribuindo suas realizações ao acaso ou a algum fator externo.
Pelo o que li, as pessoas podem ter essa síndrome de maneira permanente, temporária ou recorrente. As vítimas desse fenômeno são incapazes de internalizar os seus feitos na vida e não importa o nível de sucesso alcançado em sua área de atuação e independentemente das provas externas de suas competências, quem sofre da síndrome do impostor parece convencido de que não merecem estar naquele lugar ou ter todo o reconhecimento porque sentem-se como fraudes.
Os estudos apontam que essa síndrome é mais comum entre mulheres, principalmente entre mulheres bem sucedidas em áreas que são tipicamente ocupadas por homens. É uma síndrome que atinge muita gente dentro do ambiente acadêmico. Se você for da área acadêmica, talvez entenda o que estou dizendo (e talvez até manifeste sinais de que esteja passando por esse fenômeno). E talvez você também conheça pessoas que também estejam passando por isso.
Agora vou falar um pouco de mim. Eu vou abrir o coração porque isso me faz bem e porque acredito que esse tipo de relato pode ajudar outras pessoas. Eu acho que sempre me senti uma impostora. Lembro quando eu estudava em uma escola pública da periferia e eu sempre fui a melhor aluna da sala. Eu sempre me senti tão limitada que eu não acreditava que eu era a melhor aluna. Conforme os anos foram passando e eu fui conquistando muitas coisas maravilhosas no âmbito profissional, fui percebendo que esse sentimento foi se amplificando.
Quando alguém diz que sou inteligente, eu agradeço, porém não internalizo. Eu conheço muita gente mais inteligente que eu (o que é um fato) e não entendo como podem me considerar inteligente. Talvez porque eu tenha a compreensão de que eu não sei tudo e sou ignorante em muitas áreas. E também porque eu compreendo que existem vários tipos de inteligência e eu provavelmente só me destaque em um desses tipos (e olhe lá). Bom, mas além dessa compreensão dos limites do meu saber, alguma coisa dentro de mim também diz: “sou uma fraude e um dia vão descobrir”.
Há alguns anos um colega super inteligente estava me dando algumas dicas sobre programação. Fiquei vários dias sentando ao lado dele e aprendendo algumas coisas que foram muito úteis para o meu trabalho. Em um dado momento do aprendizado, ele me disse que não sabia programar. Eu fiquei sem entender, extremamente surpresa, aquele rapaz ali sozinho tinha conseguido produzir muita coisa integrando diversas linguagens de programação e estava naquele momento me confessando que não sabia programar.
Esse colega concluiu isso porque ele “apenas pesquisava no Google”. Foi assim que ele me disse. Ele dizia que não se lembrava de sintaxes e detalhes das linguagens e sempre tinha que frequentemente recorrer à ferramenta de busca. E ele usou a seguinte expressão: acho que eu sou uma fraude. Eu fico pensando nisso até hoje. Porque eu não acho que meu colega seja uma fraude, pelo contrário, ele tem noções muito fortes de programação, sabe lógica e faz buscas apenas para lembrar de detalhes.
Quando eu vou escrever um post aqui no blog, eu preciso fazer buscas. Leio sites especializados, revistas científicas, textos informativos, livros, etc. E depois da pesquisa, eu escrevo. Outro dia fiquei pensando que talvez eu não soubesse nada sobre Meteorologia: o que eu sei na verdade é aquilo que já estava em outro material.
Engraçado que depois que eu escrevi o parágrafo acima, fiquei pensando no quanto esse pensamento é ridículo. Claro que eu sei Meteorologia! É evidente que eu não sei tudo, é evidente que eu não sou o maior destaque da minha área. Estou aprendendo todos os dias e acho que sei como obter a informação. Eu sei como pesquisar, essa é uma das coisas que a gente aprende estudando em uma boa universidade. E eu uso o que pesquiso para enriquecer aquilo que eu já tenho boas noções, para assim ter contato com novas informações e então acrescentar bons casos de estudo ou exemplos nos posts. Por outro lado, a sensação de fraude permanece.
Vejam, essa síndrome parece ser mais comum em mulheres. Muitas meninas crescem sem serem encorajadas, principalmente se elas tem preferências que são mais tipicamente masculinas. Imagino que essa falta de encorajamento na infância pode fazer com que a mulher sinta-se uma impostora quando estiver diante de suas próprias conquistas.
Eu vim de um bairro de classe média baixa, onde muitas vezes as crianças são desencorajadas em casa e até mesmo na escola. Desencorajadas devido a pobreza e a ignorância. E a ignorância tem um enorme papel no desencorajamento, pois pessoas que não compreendem que existe uma gama de oportunidades e possibilidades (vocês sabem, aquelas pessoas com uma visão mais estreita da vida), não conseguem encorajar seus filhos. Quando fui percebendo que eu adquiri conhecimento e com isso pude ter várias oportunidades, eu meio que entrei em choque. E essa surpresa se manifesta de diversas maneiras em minha vida: baixa auto-estima, sensação de não-pertencimento, etc. É gente, acho que eu preciso de terapia. Escrever já me ajuda bastante.
E você, se sente assim? Bom, como algo oposto à síndrome do impostor existe um efeito que na minha opinião é ainda pior: o efeito Dunning-Krueger. Sabe aquelas pessoas que tem uma sensação ilusória de superioridade (moral, intelectual e até financeira, etc)? Então, elas são vítimas do efeito Dunning-Krueger. Aposto que você também conhece assim. Na internet tem um monte, são aquelas pessoas que dão várias opiniões infundadas sem terem se informado apropriadamente e participam de debates muitas vezes até ofendendo os demais participantes.
Claro que sentir-se inferior (que eu diria que é uma das consequências da síndrome do impostor) é péssimo para você e muitas vezes te impede de dar novos passos. Acaba também sendo péssimo para a sociedade, pois é triste demais saber que alguém poderia contribuir muito com seu saber, porém não o faz por medo ou insegurança. Porém aquele que sente-se superior causa um enorme mal estar nos lugares onde frequenta e nas situações que se envolve.
Sendo assim, o ideal seria ter uma noção realista do que somos e do que podemos. Parece tão simples assim, escrevendo aqui. Mas a gente sabe que não é, pois cada um de nós carrega bagagens emocionais que muitas vezes impedem a compreensão fiel da realidade.
Bibliografia (eu não sei nada)
- Síndrome do Impostor: a incapacidade de reconhecer seus próprios talentos
- 7 sinais de que você sofre da síndrome do impostor
Sam, que assunto super interessante!
E não é? Quando soube que atingiam mais mulheres do que homens e quando rolou uma identificação de minha parte, achei que valia escrever a respeito!
🙂
Você escreve muito bem, e para um texto informativo, você está melhor que muitos jornalistas! Precisamos saber mais e falar mais abertamente sobre estes tantos distúrbios psicológicos e de identidade que nos atinge nos dias de hoje! Parabéns pelo blog 😘
Olá Marina!
Obrigada pelo comentário simpático. Pelo nome imagino que você seja filha de um querido colega meu, que sempre fala de vc com muito carinho. Ele disse que você lia meu blog, agora está aqui a prova :).
Obrigada pela visita, seja sempre bem-vinda.
Olá, tudo bem? Eu estava pesquisando sobre baixa auto estima intelectual – sofro bastante com isso, rs – e acabei sendo direcionado do seu texto à esta página, pois achei o assunto curioso. Você aborda temas interessantíssimos que com certeza é de extrema importância porque muitas pessoas como mim e você são sabotadas pelo nossos próprios sentimentos.
Fiquei pensando muito sobre o último parágrafo, mais precisamente sua primeira frase “Sendo assim, o ideal seria ter uma noção realista do que somos e do que podemos.”. Talvez por eu sofrer, afinal, com essa síndrome, mas deve ser dificílimo alguém ser realista sem se deixar cair em uma dessas duas armadilhas: a síndrome do impostor ou o efeito Dunning-Krueger. E se o que eu considero como síndrome do impostor for a minha realidade? hahahahahaha e lá vamos nós a mais meia-hora de paranóia.