Quando meu filho nasceu, eu sabia que eu teria um período de minha licença maternidade e depois daquele período eu precisaria retornar ao trabalho. E a insegurança e as preocupações tomaram conta de mim.
Eu acredito que essas sensações são comuns para todas as mães que trabalham fora, principalmente quando estamos falando de mães de primeira viagem. E no meu caso, além de ser mãe de primeira viagem, eu também moro longe de meus familiares. Eu não tenho uma rede de apoio por perto. Meu esposo também trabalha fora, então minha melhor opção foi a escolinha, pois achei que seria uma solução mais viável do ponto de vista econômico e também do ponto de vista do desenvolvimento infantil. Nesse post, conto o que considerei ao escolher uma escolinha para meu filho. Ou seja, eu fiz uma decisão bem pensada e eu sei disso. Pesquisei bastante, conversei com outras mães e tive o apoio de minha família e algumas amigas próximas que são mais velhas do que eu e/ou também tem filhos pequenos. Porém, apesar de ser uma decisão consciente e bem pensada, claro que eu tive alguns medos e incertezas e falei sobre esses sentimentos aqui no blog também.
Então percebam, eu estava em um momento de fragilidade. Inclusive a depressão pós-parto pode aparecer vários meses após o nascimento do bebê. Os sinais de depressão podem não aparecer logo que o bebê nasce, por isso é necessário ficar atento à saúde mental da mãe, principalmente no primeiro ano de vida da criança.
São muitas as transformações após a chegada de um bebê. Há quem diga, por ignorância, que essas coisas não existiam antigamente. Existiam sim. Ocorre que o assunto era mais tabu do que é hoje. Além disso, muitas mulheres sofriam caladas, por pressão familiar ou social. Conversando com mulheres mais velhas, ouvi histórias de revolta, tristeza sem fim e rejeição ao bebê. Ninguém entendia, mas hoje a ciência sabe que são indícios de depressão pós parto. Na biografia da Princesa Diana, é dito que possivelmente a mãe dela sofreu desse mal, por exemplo.
Depois de narrar todo o cenário no qual eu me encontrava (bebê pequeno, incertezas, fragilidades, transformações, etc) quero contar para vocês o tipo de coisa que eu ouvia. Ouvi coisas que me fizeram mal, porém eu acredito que eu tenho alguma resiliência e consegui “aguentar o tranco”. Agora imagine se uma mulher com depressão pós-parto ou com qualquer outro problema da vida (a vida é bem difícil, gente) ouvisse certas coisas que eu ouvi. E as mulheres que são mães e trabalham ouvem, o tempo todo.
E sabe o que é pior, minha gente? Eu sei que as pessoas não falavam certas coisas por mal. Pelo menos a maioria delas não é um ser deliberadamente perverso que pensa: “Vou falar um monte de coisa horrível para transformar a vida daquela jovem mãe em um pesadelo”. As pessoas falam as coisas porque elas gostam de tagarelar, porque as palavras saem da boca sem qualquer tipo de reflexão prévia. O silêncio parece ser algo perturbador (não deveria ser) e as pessoas precisam preencher certos momentos “vazios” com palavras de qualquer natureza. E eu não me isento, sei que já falei palavras desnecessárias em vários momentos da minha vida. Por isso, o fato de ter vivido o que vivi me fez aprender a observar melhor a minha fala e os meus posicionamentos.
Sabe naquelas conversas ocasionais de elevador? Então, gente que dizia que meu filho era um coitadinho, indo para escola tão novinho. Também ouvi gente falando da vizinha-cunhada-conhecida que é uma guerreira, pois saiu do trabalho para cuidar do filho. Já chegaram a perguntar se eu não tinha dó de deixar meu filho na escola. Também me disseram que crianças que são criadas na creche nunca chamam suas progenitoras de mãe. Foram tantas coisas que pela minha própria sanidade, preferi esquecer, além esquecer também de quem as disse.
Sim, o certo a se fazer é ignorar tudo isso. Deixar para lá, essas pessoas não fazem parte da minha vida. Tudo isso é verdade, porém por isso em prática é muito difícil. E esse assunto não é novidade no blog, falei várias vezes como é ser mãe e trabalhar fora, como nesse post do começo do ano. Mas acho que nunca fui tão aberta aqui no blog a ponto de admitir que não sou toda essa fortaleza e que as palavras das pessoas realmente me machucaram. E que me fizeram refletir, pois conversando com outras pessoas percebi que muitas mães são machucadas dessa mesma forma.
Eu sei, as mulheres que decidem deixar de trabalhar fora de casa também são muito julgadas e algumas colegas e amigas já me contaram algumas coisas. Mas só posso falar de minha vivência como mãe que trabalha fora de casa. Enfim, como já disse anteriormente, acho que a mulher que está gravida deve pensar bem e fazer o que a razão e a emoção (cada uma com seu papel) mandarem. Pense bem, converse com seu companheiro e tome sua decisão. Porque a sociedade vai te julgar mesmo, seja qual for sua decisão, então faz o que você quiser!
Essas coisas que ouvi me fizeram pensar no poder das palavras. Se não tem nada para falar, não fale nada! É bastante simples e acredito que é o melhor a se fazer. Se a gente pensar que acho que quase todas as sociedades atuais ou do passado tem provérbios relacionados ao silêncio, acredito que eu não estou dizendo nada de novo. Seria apenas um reforço.
O que eu “sofri” me fez pensar que EU preciso tomar cuidado com minha postura, com minhas palavras e minhas colocações. Não sabe sobre o que falar? Fale sobre o tempo. Se bem que eu preciso tomar cuidado ao falar sobre o tempo, já que me empolgo demais?.
Mas falando sério e voltando ao assunto, precisamos aprender a ter esse cuidado com o que se fala. Nós não sabemos pelo o que o outro está passando e nem sabemos da realidade do outro. Outro dia eu estava ouvindo um vídeo de uma Youtuber que mora fora do Brasil há anos e contava que precisou deixar seus filhos no Brasil, para trabalhar fora e garantir uma vida melhor para eles. A Youtuber em questão é muito simpática, gosto muito de seu carisma e sinceridade. Eu fiquei pensando o quanto essa mulher forte deve ter sido julgada até por membros de sua família (e evidentemente, julgada pelo famoso tribunal da internet). É aquela história, ninguém ajuda a pagar os boletos, mas para ajudar a tacar pedra aparece uma multidão.
Minha conclusão é de que é melhor ficar quieto. As melhores pessoas que conheço são econômicas com as palavras. Elas podem até ter opiniões controversas e erradas, mas elas guardam para elas mesmas. Digerem, observam e raramente emitem palpites. Eu acredito que é a melhor postura para se ter. E nessa era de velocidade de informação, as pessoas parecem querer fazer seus comentários e suas piadas o mais rapidamente possível e eu me pergunto se essa é a postura mais adequada a se ter.
Claro que é importante cultivar uma força de caráter e uma resiliência, a ponto de não se abalar com certas coisas que nos dizem. Também sei que há pessoas que se melindram facilmente, que por qualquer bobagem sem sentido algum dizem que foram ofendidas ou que estão sendo perseguidas. Mas como eu mencionei antes, a gente nunca sabe como está o emocional do outro, principalmente quando você não conhece o outro (ou conhece muito pouco). O melhor é se calar. E por ter ouvido certas coisas que ouvi, acho que estou num processo de rápida consolidação desse aprendizado em particular.
Ralph diz
A prioridade deve ser sempre o nenem. Se vc acha que ele ganha mais com voce trabalhando fora ou dentro de casa, quem sabe isso é só você. Palpiteiros que elegem um lado não passam de palpiteiros.
Samantha diz
Ótimo comentário, Ralph. Fazia tempo que não via você por aqui, seja sempre bem-vindo.
O único ponto que destaco é que apesar de suas palavras fazerem todo sentido, é complicado. A pessoa está fragilizada devido ao parto e as mudanças, nem todo mundo tem essa força. As vezes pela insegurança, a pessoa acaba ouvindo palpiteiros (e quando tem gente da própria família que fala besteira?). Enfim, como vc disse, a prioridade é sempre o nenem!
Obrigada pelo comentário!