Meus leitores recorrentes já sabem que tenho esse costume de escrever em cadernos, fazer journals, etc. Esse costume de ter os meus caderninhos é bem antigo e apenas recentemente soube que existe o termo commonplace books (CPB) para designar esse tipo de caderno.
Na fotografia que abre a postagem, mostro uma compilação de informações que fiz ao participar da gravação de um podcast em que falei sobre aquecimento global e outras questões. Eu vou contar mais informações para vocês quando o podcast for publicado, mas eu acho que ficou bem bacana. Foi minha primeira vez participando de um podcast, eu fiquei um pouco nervosa, porém os hosts são pessoas super agradáveis e senti que estávamos na mesma sintonia.
Sempre que vou escrever um post mais longo ou vou falar com algum veículo de comunicação, eu tenho esse costume de organizar o que vou falar através de textos. Gosto de fazer isso principalmente quando preciso falar números, como foi no caso da gravação do podcast.
Enfim, um CPB não é exatamente um diário (no sentido de diário pessoal), embora em alguns casos possa ser organizado por data. Há quem tenha vários CPB, cada um abordando um tipo de pesquisa que se está fazendo. Eu tenho apenas um CPB, que eu organizo com marcadores de acordo com os assuntos que estou tratando, conforme contei nesse post.
A expressão “Commonplace” é a tradução do termo em latim locus comunis (do grego tópos koinós, topos literário) que significa “um tema ou argumento para aplicação geral”, como uma afirmação ou um provérbio. De uma maneira geral, um CPB seria um compilado de citações de autores famosos, por exemplo, conforme se vai tendo contato com essas citações através da leitura ou através de conversas. As pessoas provavelmente escreviam em seus CPB’s enquanto estavam lendo um livro, para guardar aquela citação importante, com o objetivo até de produzir um livro ou um ensaio futuramente. Muitos escritores utilizaram CPB’s, para organizar as ideias a respeito daquilo que estavam produzindo.
Entretanto, o conceito de CPB foi generalizado, deixando de ser utilizado apenas no contexto literário. O naturalista Carl Linnaeus, por exemplo, usou CPB para organizar o Systema Naturae (livro em que Carl Linnaeus (ou Carlos Lineu) utilizou para propor um sistema hierárquico de classificação das espécies.{x}
O termo CPB ficou popularizado na língua inglesa porque entre o século XVIII e início do século XX o recurso foi muito utilizado por personalidades da literatura, da arte e da ciência oriundos do Reino Unido ou Estados Unidos. Hoje a expressão inglesa é utilizada mundialmente. Grandes nomes de diversas áreas como Mark Twain, Charles Darwin e Isaac Newton usaram CPB’s (ou apenas pequenas cadernetas de anotações, muitas vezes o CPB se ‘mistura’ ao que chamamos de diário). Nomes mais recentes como Pablo Picasso e George Lucas também tem CPB’s{x}.
A Universidade de Harvard define um CPB como “uma coleção de passagens significativas que foram copiadas e organizadas de uma determinada maneira, através de tópicos ou títulos temáticos, para servir como registro de memória ou referência”. Esses cadernos (ou livros) são geralmente escritos à mão e podem conter não apenas textos como imagens e colagens. A informação é organizada de modo que possa facilitar a consulta posterior. {x}
Inclusive a Universidade de Harvard conta com um acervo de CPB’s (veja aqui). Aqui no Brasil eu sei que muitos escritores possuem seus manuscritos, que foram doados por suas famílias a Universidades e Bibliotecas. Talvez muitos desses manuscritos se enquadrem na categoria CPB (ou algo similar).
Um dos maiores nomes femininos da ciência, Marie Curie, também tinha seu caderno de notas e eu acho que podemos até chamar de CPB. Seu caderno até hoje é radioativo, uma vez que ela realizou muitos experimentos nessa área. Os cadernos de Marie Curie e Pierre Curie, além de outros itens pessoais do casal (como fotografias, por exemplo) estão na Bibliothèque Nationale, em Paris.
Quando li sobre CPB’s pela primeira vez eu percebi que eu sempre fiz CPB’s, porém eu não conhecia o termo. Ao pesquisar sobre o assunto, encontrei até tutoriais ensinando a organizar seu próprio CPB. Gosto da ideia dos tutoriais, porque inspira aqueles que querem começar a registrar seus achados cotidianos dessa maneira. Mas a verdade é que cada um acaba encontrando sua própria ‘fórmula de CPB’, de acordo com suas necessidades diárias e com sua área de interesse.
Comente