
No post de hoje falaremos sobre nomes de furacões. Já falamos sobre furacões em várias ocasiões aqui no blog (e ao final vou indicar links para vários posts sobre o tema). Entretanto, esse é um assunto muito procurado aqui no blog e é um tema que desperta curiosidade em muita gente, já que sempre me perguntam sobre furacões pessoalmente ou através das redes sociais.
Por ser um tema tão procurado, vou voltar a falar sobre o assunto por aqui. Segurem-se e acompanhem o post.
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Por que dar nomes próprios aos furacões?
De acordo com o NHC (National Hurricane Center), departamento da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), que é o órgão máximo de Meteorologia dos Estados Unidos, dar nomes próprios aos furacões foi algo que mostrou ao longo dos anos ser eficaz na comunicação meteorológica.
Antes de dar nomes próprios, os fenômenos eram identificados a partir de sua posição (latitude e longitude) esse método logo se mostrou ser complicado, pois poderia gerar erros e problemas de comunicação. Imagine as chances de um locutor de rádio errar ao ter que ficar falando tantos números, além de facilmente poder causar confusão não só por parte da imprensa, mas os próprios meteorologistas e técnicos poderiam se confundir enquanto se comunicavam. Várias estações meteorológicas, estações oceanográficas e navios trocam informações meteorológicas entre si, então usar um nome padrão para referir-se ao fenômeno ajuda a facilitar essa troca de informações.
Nomes próprios são facilmente lembrados, o que reduz muito a confusão quando duas ou mais tempestades tropicais ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, um furacão pode estar se movendo lentamente para o oeste no Golfo do México, enquanto exatamente ao mesmo tempo outro furacão pode estar se movendo rapidamente para o norte ao longo da costa do Atlântico. Na verdade, é bastante comum termos vários furacões ocorrendo simultaneamente no Golfo do México, como exemplo temos a imagem abaixo do dia 06 de setembro de 2017, quando 3 furacões estavam presentes na região (Katia, Irma e José).

No passado, confusão e rumores falsos surgiram quando avisos de tempestades transmitidos de estações de rádio foram confundidos com avisos sobre uma tempestade completamente diferente, localizada a centenas de quilômetros de distância.
Em outras palavras, com o passar do tempo a experiência mostrou que o uso de nomes próprios facilitava a comunicação.
História por trás dos nomes
Por muitos anos, muitos furacões nas Índias Ocidentais (Caribe) foram nomeados a partir do nome do santo do dia em que foi reportado. Ivan R. Tannehill descreve em seu livro The Hurricane as principais tempestades tropicais da história (período que se tem registro, claro) e menciona muitos furacões que receberam o nome de santos. Por exemplo, houve “Furacão Santa Ana” que atingiu Porto Rico com violência excepcional em 26 de julho de 1825, e “San Felipe” (o primeiro) e “San Felipe” (o segundo) que atingiu Porto Rico em 13 de setembro em ambos 1876 e 1928. Tannehill conta também sobre Clement Wragge, um meteorologista australiano que começou a dar nomes de mulheres a tempestades tropicais antes do final do século XIX.
Um dos primeiros exemplos do uso do nome de uma mulher para uma tempestade foi o romance Storm, de George R. Stewart, publicado pela Random House em 1941. Eu falei sobre esse romance nesse post, onde também dou mais informações sobre os nomes dos furacões.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a prática de dar nomes femininos aos furacões tornou-se mais difundida. Meteorologistas do Exército e da Marinha traçavam vastas cartas sinóticas, cobrindo boa parte do Oceano Pacífico. E no Oceano Pacífico também temos ciclones tropicais, só que por lá são chamados de tufões. E claro, por ocasião do armistício poder prever as condições meteorológicas com uma boa precisão era algo de natureza estratégica e que fazia toda a diferença no sucesso de uma incursão ou ataque.
Em 1953, os Estados Unidos abandonaram um confuso plano de dois anos para nomear as tempestades por um alfabeto fonético (Able, Baker, Charlie) quando um novo alfabeto fonético internacional foi introduzido. Naquele ano, os Estados Unidos começaram a usar nomes femininos para tempestades dentro com contexto de informação meteorológica para civis (comunicação para população).
A prática de nomear furacões utilizando apenas nomes femininos chegou ao fim em 1978, quando nomes de homens e mulheres foram incluídos nas listas de tempestades do leste do Pacífico Norte. Em 1979, nomes masculinos e femininos foram incluídos nas listas do Atlântico e do Golfo do México, de acordo com informações do NHC.
O NHC é um departamento da NOAA, órgão máximo de Meteorologia dos EUA, conforme mencionamos anteriormente. O NHC é portanto responsável por monitorar a ocorrência de furacões em áreas costeiras dos EUA, embora evidentemente acabe ajudando outros países no processo (os outros países que também fazem parte do Golfo do México). A propósito, muitos de nós aqui no Brasil quando pensamos em ciclones tropicais, logo pensamos no Golfo do México. Pensamos em turistas aflitos no Caribe (eu evitaria viagens entre junho e novembro, período em que os furacões costumam acontecer), porém não podemos nos esquecer que há ciclones tropicais em outras áreas do planeta.
Aqui cabe um parênteses, caso você ainda não tenha familiaridade com o termo técnico. Ciclone tropical é o nome técnico e os seus sinônimos são furacão e tufão. Eu já contei a origem dos nomes furacão e tufão e esses nomes tem uma origem mitológica, porém o nome ciclone tropical é o termo técnico utilizado para designar esses dois fenômenos.
A World Meteorological Organization (WMO) dividiu o mundo em 13 áreas de interesse, cada uma delas sob a responsabilidade de um comitê regional. Um mesmo comitê regional pode ser responsável por mais de uma área, que é o que acontece com as áreas I e II (veja na imagem a seguir) ambas sob responsabilidade do RA IV Hurricane Committee, basicamente envolve o NHC e órgãos meteorológicos de países vizinhos aos EUA que também possuem seus litorais dentro das áreas I e II.

Sabe aquela regra de listas de nomes de furacões sendo recicladas de tempos em tempos? Então, essa regra é do RA IV Hurricane Committee (área I e II da figura acima). Cada comitê tem seus próprios padrões de nomenclatura dos furacões, porém em todos os casos, nomes próprios ou nomes curtos são empregados.
Eu já tinha contado para vocês que são 6 listas de nomes de furacões, e claro, eu me referia ao RA IV Hurricane Committee. Como o RA IV Hurricane Committee está responsável por 2 áreas (I e II na figura acima), há dois conjuntos de 6 listas de nomes (um para cada área). A seguir, os conjuntos de listas anuais para cada uma dessas regiões:
Área IMar do Caribe, Golfo do México e Atlântico Norte – Nomes |
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2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 |
Arlene Bret Cindy Don Emily Franklin Gert Harvey Irma Jose Katia Lee Maria Nate Ophelia Philippe Rina Sean Tammy Vince Whitney |
Alberto Beryl Chris Debby Ernesto Florence Gordon Helene Isaac Joyce Kirk Leslie Michael Nadine Oscar Patty Rafael Sara Tony Valerie William |
Andrea Barry Chantal Dorian Erin Fernand Gabrielle Humberto Imelda Jerry Karen Lorenzo Melissa Nestor Olga Pablo Rebekah Sebastien Tanya Van Wendy |
Arthur Bertha Cristobal Dolly Edouard Fay Gonzalo Hanna Isaias Josephine Kyle Laura Marco Nana Omar Paulette Rene Sally Teddy Vicky Wilfred |
Ana Bill Claudette Danny Elsa Fred Grace Henri Ida Julian Kate Larry Mindy Nicholas Odette Peter Rose Sam Teresa Victor Wanda |
Alex Bonnie Colin Danielle Earl Fiona Gaston Hermine Ian Julia Karl Lisa Martin Nicole Owen Paula Richard Shary Tobias Virginie Walter |
Área IIPacífico Oriental – Nomes |
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2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 |
Adrian Beatriz Calvin Dora Eugene Fernanda Greg Hilary Irwin Jova Kenneth Lidia Max Norma Otis Pilar Ramon Selma Todd Veronica Wiley Xina York Zelda |
Aletta Bud Carlotta Daniel Emilia Fabio Gilma Hector Ileana John Kristy Lane Miriam Norman Olivia Paul Rosa Sergio Tara Vicente Willa Xavier Yolanda Zeke |
Alvin Barbara Cosme Dalila Erick Flossie Gil Henriette Ivo Juliette Kiko Lorena Mario Narda Octave Priscilla Raymond Sonia Tico Velma Wallis Xina York Zelda |
Amanda Boris Cristina Douglas Elida Fausto Genevieve Hernan Iselle Julio Karina Lowell Marie Norbert Odalys Polo Rachel Simon Trudy Vance Winnie Xavier Yolanda Zeke |
Andres Blanca Carlos Dolores Enrique Felicia Guillermo Hilda Ignacio Jimena Kevin Linda Marty Nora Olaf Pamela Rick Sandra Terry Vivian Waldo Xina York Zelda |
Agatha Blas Celia Darby Estelle Frank Georgette Howard Ivette Javier Kay Lester Madeline Newton Orlene Paine Roslyn Seymour Tina Virgil Winifred Xavier Yolanda Zeke |
Como são vários comitês, cada um segue a sua regra (e você pode ver as listas de nomes de cada um dos comitês nesse link). Há comitês que contam com 4 ou 5 listas que também se reciclam. Há comitês que contam apenas com 2 listas, uma principal e uma reserva, sendo a reserva a fonte de novos nomes para a lista principal quando um nome é riscado ou “aposentado” da lista.
Nomes que são eliminados da lista – Nomes “aposentados”
A única possibilidade de ocorrer mudanças nas listas de nomes de ciclones tropicais previamente estabelecidas é se uma tempestade é tão mortal ou onerosa que o uso futuro de seu nome em uma tempestade diferente seria inadequado por razões de sensibilidade. Se isso ocorrer, em uma reunião anual dos Comitês de Ciclones Tropicais da WMO, o nome ofensivo é retirado da lista e outro nome é selecionado para substituí-lo. Nomes de tempestades infames, como Haiyan (Filipinas, 2013), Sandy (EUA, 2012), Katrina (EUA, 2005), Mitch (Honduras, 1998) e Tracy (Darwin, 1974) são exemplos dessa mudança na lista.
Como exemplo, no Atlântico (área I), os nomes de furacões que foram aposentados desde 1954 são apresentados na tabela a seguir:
1954 Carol Hazel |
1955 Connie Diane Ione Janet |
1956 | 1957 Audrey |
1958 | 1959 | ||||
1960 Donna |
1961 Carla Hattie |
1962 | 1963 Flora |
1964 Cleo Dora Hilda |
1965 Betsy |
1966 Inez |
1967 Beulah |
1968 Edna |
1969 Camille |
1970 Celia |
1971 | 1972 Agnes |
1973 | 1974 Carmen Fifi |
1975 Eloise |
1976 | 1977 Anita |
1978 | 1979 David Frederic |
1980 Allen |
1981 | 1982 | 1983 Alicia |
1984 | 1985 Elena Gloria |
1986 | 1987 | 1988 Gilbert Joan |
1989 Hugo |
1990 Diana Klaus |
1991 Bob |
1992 Andrew |
1993 | 1994 | 1995 Luis Marilyn Opal Roxanne |
1996 Cesar Fran Hortense |
1997 | 1998 Georges Mitch |
1999 Floyd Lenny |
2000 Keith |
2001 Allison Iris Michelle |
2002 Isidore Lili |
2003 Fabian Isabel Juan |
2004 Charley Frances Ivan Jeanne |
2005 Dennis Katrina Rita Stan Wilma |
2006 | 2007 Dean Felix Noel |
2008 Gustav Ike Paloma |
2009 |
2010 Igor Tomas |
2011 Irene |
2012 Sandy |
2013 Ingrid |
2014 | 2015 Erika Joaquin |
2016 Matthew Otto |
E se os nomes da lista de um determinado ano acabarem?
Como vocês podem notar, as listas anuais são finitas. Para o caso das áreas I e II (RA IV Hurricane Committee), são 20 e poucos nomes. E se os nomes acabarem e novos furacões acontecerem naquele ano? Bom, quando isso acontece, são utilizadas letras gregas (Alpha, Beta, Gamma, Delta, etc) para se referir aos furacões adicionais, convenção esta estabelecida pela WMO.
A temporada de furacões de 2005 por exemplo foi muito ativa: foi a mais ativa desde 1851, com 28 tempestades. Naquele ano, o uso de letras gregas foi necessário e chegou-se até a letra zeta. Lembrando claro que tempestades tropicais (estágio anterior ao ciclone tropical) já ganham nomes da lista. Tempestades tropicais são menos intensas que ciclones tropicais (furacões), porém podem causar danos se atingirem zonas costeiras habitadas, por isso é importante nomeá-las e verificar seu desenvolvimento. A temporada de 2005 ficou marcada pelos furacões Katrina e Wilma, extremamente destrutivos e mortais
Bibliografia dentro do blog (ou seja, outros posts sobre furacão que escrevi)
- A história por trás dos nomes dos furacões
- Por que furacões tem nomes de mulheres?
- Qual a diferença entre ciclone e furacão?
- Furacão Jose – Possivelmente o mais longevo da história do Atlântico
- Como se formam os furacões?
- O que são tornados, ciclones e furacões?
- Furacão Harvey
Bibliografia externa (além dos links já mencionados ao longo do texto)
- NHC – NOAA – About names
- WMO – Tropical Cyclone Naming
- Lista de temporadas de furacões no Atlântico
- Regional Specialized Meteorological Center
- 2005 Atlantic Hurricane Season
- Furacão x Tornado – Monolito Nimbus
Dica de livro
Agora vou falar de um livro em português que é super recomendado para quem está iniciando seus estudos em Meteorologia. Meteorologia: noções básicas conta com um time de autores excelentes (Rita Yuri Ynoue, Michelle S. Reboita, Tércio Ambrizzi, Gyrlene A. M. da Silva), todos professores de cursos de Meteorologia de diversas regiões do Brasil.
Hoje, o jornal em qualquer mídia apresenta e explica a dinâmica meteorológica. Embora façam parte de um sistema complexo, os fenômenos meteorológicos são apresentados nesta obra de forma simples e didática, desde os conceitos básicos de composição e estrutura da atmosfera até a previsão do tempo e do clima e as mudanças climáticas. {x}
O capítulo 9 de Meteorologia: noções básicas trata de Sistemas Atmosféricos e na seção 9.3 é possível ler sobre ciclones, onde há uma abordagem muito didática sobre ciclones tropicais (furacões). Se você quer começar das bases para compreender furacões e outros fenômenos meteorológicos, esse livro é sem dúvida muito indicado.
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