
Hoje recebi a triste notícia do falecimento do Prof. Ernst W. Hamburger, professor de Física do IFUSP e uma figura marcante. Nascido na Alemanha, mudou-se para o Brasil com a família aos 3 anos de idade, no período da ascensão nazista. Casou-se com a Prof. Amelia Hamburger, sua colega de universidade e também cientista do IFUSP. Com ela, teve 5 filhos, dentre eles o aclamado diretor de cinema Cao Hamburger.
Além da história de vida super interessante e do currículo inspirador (veja aqui), Prof. Hamburger tinha algo que poucos professores que deram aula para mim na USP tinham. Ele demonstrava paixão pela Ciência e tinha profundo carinho pelos seus alunos, carinho que certamente era recíproco. Um apaixonado por divulgação científica, idealizou o Laboratório de Demonstrações do IFUSP e a Estação Ciência, local que infelizmente foi fechado, mas que inspirou muitos jovens a gostarem de Ciência. E eu fui uma dessas: fui na Estação Ciência mais nova (e depois fui outras vezes, já mais velha) e eu tive a oportunidade de ter aulas com ele na Universidade.
Com ele aprendi a gostar de Física. Eu já gostava, é verdade. Mas eu não tinha dimensão do que era Física e poder vislumbrar um pouquinho dessa maravilha através dos olhos e do conhecimento do Prof. Hamburger foi uma experiência muito marcante na minha vida. Eu tinha apenas 19 anos, estava em meu primeiro ano na Universidade e fiquei honrada ao saber que meu professor de Física 1 seria ele. Em suas provas, havia questões onde tínhamos que elaborar gedankenexperiment para ilustrar algum conceito físico ou descrever algum experimento do Laboratório de Demonstrações em palavras. As provas dele não tinham apenas problemas e equações: ele queria ver se a gente estava mesmo se apaixonando por Física.
Em uma ocasião, escrevi Prof. Hamburguer 🍔 na prova. Ele escreveu, em tom de brincadeira, que iria descontar um ponto 😂. Foi um excelente professor, desses que realmente se tornam inesquecíveis tanto pela qualidade das aulas quanto pelo carinho e respeito que demonstrava. Que ele descanse em paz e que Deus conforte os corações de seus familiares.
Bom, hoje eu também dei aula para um grupo de estudantes de um curso de cultura e extensão, que são esses cursos livres e curtos que as Universidades ministram para o público externo. Como a Universidade onde trabalho tem essas iniciativas para estimular a participação da terceira idade, havia muitos jovens de mais de 60 anos em minha sala. Dentre esses alunos, cardiologistas, professores aposentados, donas de casa, etc. Independentemente da história profissional de cada um, pude ver durante 1h de aula que eles estavam realmente interessados em aprender, porque certamente tem paixão pelo conhecimento. Pensar nos meus alunos e pensar no Prof. Hamburger me fez refletir naquilo que espero para minha maturidade.
Eu quero acumular sabedoria e conhecimento. Quero saber o momento certo de falar e o momento certo de me calar. Quero continuar com brilho nos olhos quando eu aprender algo novo ou quando eu ver algo que toque meu coração. Eu quero poder me maravilhar! Quero continuar com aquele espírito alegre de criança, sem me deixar levar pela rabugice e enfado de quem já viu muita coisa nessa vida (e certamente já viu muita coisa se repetindo). Eu quero inclusive aproveitar que já vi muita coisa para poder pensar melhor sobre o sentido da vida.
Quero ainda sentir vontade de aprender. Tem gente de mais de 40 anos (idade a qual me aproximo) que acha que não precisa aprender mais nada ou acha que não tem condições de aprender mais nada, porque não tem a mesma disposição e perspicácia de um jovem de 20 anos. Discordo! E acredito que essa percepção errada tem a ver com o preconceito que as pessoas mais velhas sofrem em nossa sociedade. Ao me aproximar dos 40 anos, já me torno uma pessoa “velha” para os padrões da internet. E não, isso não me faz querer me afastar da tecnologia ou da produção de conteúdo. Acredito que ainda sou perspicaz e acredito que a minha experiência pode em muito contribuir na produção de conteúdo. Acredito que inclusive essa experiência agrega em meu conteúdo, porque ter uma maneira diferente de me expressar (não consigo acompanhar todos os memes) contribui para a pluralidade da rede. Ora, o icônico ator Kirk Douglas escreve em um blog (e ele tem 101 anos)! Eu quero continuar aprendendo e escrevendo pra sempre.
Conheço por exemplo gente nos seus 20 e poucos anos que não tem nada de perspicaz, hahaha. Na verdade, isso depende de cada um, porque o importante é ter vontade e disposição para aprender e eu peço a Deus para que eu mantenha isso forte dentro de mim e quem sabe até cada vez mais forte!
Claro que enquanto escrevo esse post (sobretudo o parágrafo acima), logo aquela música famosa do seriado Chaves toca na minha mente. Hoje eu entendo o que é ter o espírito jovem. Isso independe de roupas que se veste ou condições físicas plenas para jogar 90min de uma partida de futebol. Significa ter disposição mental para a vida. E isso envolve compreender que o mundo está em constante transformação, por exemplo.
E para quem está curioso, a aula que dei foi sobre Radiação Solar. Deixo a seguir os slides de minha aula. Penso em um futuro próximo poder colocar áudio nos meus slides e disponibilizá-los no Youtube, por exemplo. Mesmo com os slides sem som, vocês vão ver que indico vários links ao longo dos slides e eles podem te ajudar a preparar e organizar aulas ou a ter uma ideia inicial sobre os conceitos que apresento.
Como vocês podem notar, essa não é exatamente a palestra que dei. Como dou essa palestra semestralmente ou anualmente, a versão acima é a que apresentei no ano passado (falei sobre ela aqui). O Slideshare está com algum problema e não consigo fazer upload da apresentação atualizada para 05/07/2018 (foram poucas atualizações). No entanto, se tiver curiosidade pode consultar a versão de 2018 aqui.
Abraços a todos e que a memória de grandes mestres como o Prof. Hamburger se mantenha viva. Obrigada por ter feito parte de minha formação, professor. Foi uma honra enorme para mim.
Fiquei triste também ao saber da notícia. Infelizmente não tive aulas com ele, mas o conheci da Estação Ciência. Um apaixonado pela ciência! Imagino que tenha ficado decepcionado com o destino que teve a Estação Ciência.
Sobre o slideshare, eles não deixam mais atualizar apresentações antigas (e não pretendem voltar com esse recurso). Tem que subir os slides como uma nova apresentação (que vai ficar com uma outra URL) e descartar a antiga (com todo o histórico de visualizações dela). Foi um dos motivos pelos quais abandonei o slideshare.
Nossa, que pena que não consigo atualizar mais. E o pior, no dia em que escrevi esse post, nem consegui subir como uma apresentação nova! Fiquei bem chateada, vou acabar abandonando o slideshare também.
O fim da Estação Ciências foi uma lástima. O pior, não há nada em São Paulo com aquele porte e com aquela visibilidade. Muita gente conhecia a Estação Ciências e muita gente com quem me deparo sequer sabe que fechou. Lastimável. Certamente o Prof. Hamburger deve ter ficado mto triste com esse fim.