
Embora muita gente que eu acompanho nas redes sociais e que produz conteúdo semelhante ao meu lê meu blog, eu tenho certeza absoluta que esse não é um blog feito para minha bolha.
Claro que toda vez que eu escrevo algo aqui e “pessoas da minha bolha” me elogiam, claro que eu fico muito feliz e sinto aquela massageada suave no ego. Mas eu sinto a mesma alegria quando surge um leitor, que provavelmente chegou até aqui fazendo alguma busca no Google e não sabe nada sobre mim. Claro, essa alegria só é de fato consolidada se esse leitor não bagunça meu blog!
Analisando as estatísticas do blog percebo que muita gente chega até aqui e fica por aqui através de mecanismos de busca. Ou seja, não são pessoas que me acompanham no Twitter, onde de fato rola isso de “bolha”. No gráfico abaixo, do Google Analytics para o Meteorópole (consultado em 23/08/2018), percebe-se que 82,4% dos visitantes vem por mecanismos de busca (organic search), 16,4% chegam diretamente pela URL (obrigada, leitores fiéis) e o restante chega chega através das redes sociais ou a partir de listas de e-mail. Eu concluo que se eu fechasse todas minhas redes sociais hoje, meu blog continuaria com visitas expressivas! Ou seja, eu realmente não produzo conteúdo para minha bolha.

E quando falo em bolha, deixa eu explicar o que eu quero dizer. Nós geralmente tendemos a selecionar muito bem quem vamos seguir nas redes sociais. Criamos um filtro que depende de uma série de fatores internos a cada um de nós. Por exemplo, muitos se irritam com pessoas que postam várias selfies por dia ou posts muito centrados na própria vida, enquanto outros se irritam com fake news ou posts de cunho político (sempre defendendo uma figura política ou um partido, por exemplo). A maioria de nós também tende a seguir pessoas que pensam de maneira muito semelhante a nós, já que isso serve como viés de confirmação.
Quem vive no Brasil sabe que vivemos tempos sombrios de muita polarização política. Isso não começou agora, eu diria que já tinha alguma coisa lá em 2010, porém essa polarização foi só se intensificando com os anos. E eu acredito muito que quando não há bom senso e moderação na maneira de se pensar, as pessoas se tornam chatas, desagradáveis e até criminosas.
Como eu produzo um conteúdo da área de divulgação científica, vez ou outra me deparo com outros produtores de conteúdo que só pensam em “lacrar dentro da própria bolha”. Não vou cometer a indelicadeza de mencionar nomes, mas vejo muita gente escrevendo textos arrogantes, respondendo comentários de maneira sarcástica, etc. Então eu me pergunto: essa pessoa está produzindo conteúdo para quem? Ela está produzindo conteúdo para divulgar o conhecimento e atrair novas pessoas na medida que mostra as maravilhas da Ciência ou está apenas mostrando seus próprios conhecimentos do alto de seu pedestal para alguns de seus seguidores que pensam de maneira semelhante?
Tenho a impressão que esse tipo de comportamento arrogante acaba atraindo gente mesmo. Vejo pessoas que agem dessa maneira com vários seguidores nas redes sociais e blogs cheios de comentários. Se esse produtor de conteúdo faz alguma mention no Twitter para responder um comentário que considera tolo, muitas vezes surgem seus minions perseguindo quem comentou.
Vou ser muito sincera: eu prefiro meu blog sem nenhum comentário (e há posts que não fazem sucesso nenhum) do que cheio desse tipo de comentário agressivo, arrogante, sarcástico e que diminui os outros. Outro dia surgiu uma discussão bacana envolvendo minha @ no Twitter (eu nem lembro o tema) e um de meus seguidores me elogiou pela qualidade de meus outros seguidores. Não é a primeira vez que observam (ou eu observo) que minhas redes sociais agregam pessoas bacanas, que nem sempre concordam entre si mas que sabem discutir e que têm maturidade. Observo também que a maioria dos comentários que recebo aqui no blog são positivos. São comentários de qualidade, que fazem correções ou acréscimos importantes no texto ou que simplesmente me agradecem pelo conteúdo. São poucos os comentários desagradáveis, que evidentemente são ignorados. E eu quero que as coisas continuem assim nas minhas redes sociais e no blog!
Eu quero realmente acreditar que meus textos possam fazer a diferença. Possam ajudar a professora que está preparando aula, o aluno que está fazendo alguma pesquisa, o pai e a mãe que se deparou com alguma pergunta sobre Meteorologia feita por seus filhos, o curioso que gosta de Ciências, aquele cético que ouviu alguma teoria da conspiração maluca e quer saber a verdade, etc. Eu já recebi vários relatos por e-mail que me fazem crer que sim, meu blog faz a diferença. Claro que é um trabalho de formiguinha, mas eu vou contar uma historinha rápida para vocês. Eu cresci na periferia e estudei minha vida inteira em escolas públicas. A escola onde estudei o Ensino Fundamental era particularmente a mais periférica, tinha vários alunos das favelas em volta, muitos problemas de indisciplina, etc. Enfim, aqueles problemas que toda escola pública (especialmente as periféricas) apresentam e que se a escola contasse com uma equipe integrada de assistentes sociais, psicólogos, médicos e professores mais preparados, talvez a situação seria bem melhor. Bom, eu estudei em salas de aula muito caóticas. Lembro especialmente da sétima série (era assim que falávamos antigamente), onde a turma contava com vários repetentes e problemas de indisciplina. Sempre fui uma aluna muito esforçada e estudiosa, meus pais incentivavam muito esse comportamento. Um dia, um professor de matemática desabafou que tinha dias que acreditava que só dava aulas para mim, pois eu era uma das únicas que prestava atenção e a única que conseguia acompanhar e que realmente entendia a importância daquele conteúdo. E por causa de alunos como eu, aquele professor disse que não desistiria e simplesmente entraria na sala sem ter preparado aula. O que aquele professor fez por mim fez a diferença. Se eu conseguir que uma pessoa que nega o aquecimento global entenda que a questão é científica, há um consenso de 97% dentro da comunidade científica e que molécula de CO2 não tem ideologia política eu já fico satisfeita!
Acho que já mencionei em outras ocasiões que eu acredito que alguns posts do meu blog, principalmente de alguns anos atrás, possuem uma tônica equivocada, meio arrogante, meio “sem paciência”. Eu mudei muito, diria que meus filhos foram o principal motivo de minha transformação, mas felizmente também tive a sorte de encontrar pessoas muito bacanas no meu caminho e passei a observar o comportamento de divulgadores de Ciência e escritores que eu já admirava (como Jacob Bronowski e Carl Sagan). Aprendi a ter paciência e entendi que essa é a melhor maneira de transmitir um conteúdo para transformar a maneira de pensar das pessoas. Falei um pouco sobre isso nesse post recente sobre vacinação, onde comento o caso de um leitor que queria convencer sua cunhada de que a vacinação é importante. Veja bem, não quero “vender ideologia”, mas acredito que tenho um importante papel aqui que é combater desinformação e transmitir informação de qualidade (principalmente sobre Meteorologia), sempre colocando referências e provocando um pensamento crítico nos leitores. E claro, fazendo isso de maneira gentil e responsável.
Sendo assim, não quero agradar minha bolha. Se a minha bolha lindinha é composta por pessoas que eventualmente concordam com algo que eu disse, claro que é bacana. Mas eu também gosto quando chega gente aqui que eu não conheço das redes sociais, pois chegou através de mecanismos de busca. Talvez essa pessoa não tenha nada a ver comigo, mas se o conteúdo que eu postei aqui de alguma maneira a ajudou e isso é muito importante para mim.
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