
Na brisa marítima, o ar sobre o oceano está mais frio e o ar sobre o continente está mais quente. Temos então duas parcelas de ar com densidades diferentes. O ar frio é mais denso e desloca-se na direção do ar mais quente. É o que normalmente ocorre nas cidades litorâneas ou muito próximas do litoral. No final da tarde, sentimos um vento agradável, de intensidade leve ou moderada, muito bem-vindo em dias de muito calor.

A brisa marítima é tão importante para a cidade de São Paulo (e claro, cidades vizinhas) que já foi até tema de questão de ENEM. A brisa marítima e a ilha de calor urbano são responsáveis inclusive por muitas das tempestades de verão que temos por aqui. A ilha de calor é o nome dado ao fenômeno em que um maior aquecimento ocorre em uma área densamente urbanizada quando comparamos com áreas vizinhas e também já foi tema de questão de ENEM.
As ilhas de calor são conseqüências das diferenças de temperatura entre os centros urbanos e as regiões vizinhas. O concreto, o asfalto e outros materiais típicos dos centros urbanos possuem maior emissividade que a vegetação, propiciando um aumento na temperatura nos centros urbanos (Freitas, 2004). Além disso, a impermeabilização do solo faz com que toda a água das chuvas seja drenada para bueiros e córregos, reduzindo assim a transferência de calor latente e aumentando a de calor sensível se comparado às áreas rurais, cuja cobertura (vegetação, solo, riachos, etc) proporcionam maior transferência de calor latente. Recentemente, Freitas (2004) testou no modelo RAMS (Regional Atmospheric Modeling System, Pielke et al. 1992) parametrização que trata as propriedades da superfície urbana e mostrou que fontes de calor antropogênicas de origem veicular são importantes na simulação do ciclo diurno de temperatura e umidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo.[1]
Como eu mencionei nesse post, a brisa marítima sobe a Serra do Mar. Tanto que ela chega na cidade de São Paulo, conforme mencionei anteriormente. As brisas costumam penetrar até cerca de 60-80km adentro no continente. Os meteorologistas percebem a entrada da brisa marítima através de um leve aumento na intensidade do vento e da alteração de sua direção também (que para o caso da Região Metropolitana de São Paulo -RMSP-, o vento muda para direção SE ou SSE). Além disso, esse vento da brisa marítima também transporta umidade e é mais frio. Observando portanto mudanças no vento, temperatura e umidade, os meteorologistas conseguem determinar se um dia teve ou não a ação da brisa marítima.
A brisa marítima traz umidade para a cidade de São Paulo e somada ao efeito da ilha de calor urbano, pode favorecer a formação de tempestades (como destaquei nesse post). Em um artigo recente publicado na Atmospheric Research e que usou vários dados meteorológicos (de estações automáticas, radiossondas do aeroporto e também dados convencionais da Estação Meteorológica do IAG-USP) e dados modelados pelo modelo WRF, os autores concluíram que a brisa marítima pode promover uma melhora temporária da qualidade do ar na RMSP pois ajuda a dispersar os poluentes atmosféricos. Além disso, a brisa marítima também ajuda a mitigar temporariamente os efeitos da ilha de calor sobre a RMSP. Sabe aquela “refrescada” de fim de tarde que os moradores da RMSP sentem? Então, essa é a brisa trazendo um certo alívio ao calor.
Brisas são o que os meteorologistas chamam de circulações termicamente dirigidas. Elas não ocorrem somente em mares, uma vez que há brisas de vale-montanha, brisas lacustres, brisas fluviais, etc. Onde há duas superfícies próximas com diferentes taxas de aquecimento (veja a Figura 1), teremos uma circulação local termicamente dirigida.
Essas circulações termicamente dirigidas ajudam a determinar o microclima dos lugares e de acordo com o artigo mencionado, também ajudam na melhoria da qualidade do ar nas áreas adjacentes. O foco principal do artigo em questão é entender como a brisa marítima se propaga ao longo da CLP (Camada Limite Planetária), que é a primeira faixa da troposfera, aquela que está em contato com a superfície. A CLP tem uma altura de no máximo 2km, com essa altura variando de acordo com a localidade e com a hora do dia.
A importância de estudarmos a CLP é porque é nela que acontecem as trocas de calor e umidade entre a superfície e atmosfera. E esses fluxos vão nos ajudar a entender como as nuvens se desenvolvem e como os poluentes se dispersam. A CLP recebe a interferência direta do que ocorre na superfície, como a capacidade de o solo refletir ou absorver o calor gerado pela radiação solar, tráfego automotivo, indústria, densidade demográfica e emissão de poluentes {x}. É na CLP que a ilha de calor se desenvolve.
Apesar de promover uma melhora temporária na qualidade do ar, a brisa marítima também pode ter um efeito contrário. A chegada da brisa marítima provoca uma inversão térmica que deixa a CLP mais estável, situação que faz com que a dispersão de poluentes seja dificultada. Sendo assim, a brisa pode atuar no sentido contrário: o de deixar os poluentes aprisionados na região onde foram emitidos.
A brisa consegue mesmo subir a Serra do Mar?
A brisa marítima consegue subir a Serra do Mar quase todos os dias. Há dias em que ela não consegue penetrar em toda RMSP, porém os bairros e municípios mais à sudeste e mais próximos do final da Serra ainda assim conseguem sentir um resfriamento e um aumento da umidade.
Dependendo dos ventos de escala sinótica predominantes no local (a passagem de uma frente fria, por exemplo), a brisa pode não conseguir “penetrar” na RMSP. Além disso, a presença da Serra do Mar acaba sendo favorável, uma vez que ela impulsiona a brisa marítima. A brisa marítima é portanto propagada com a ajuda da circulação vale-montanha, fazendo com que o ar da costa suba e esfrie ainda mais quando atinge o topo da Serra.
Bibliografia
[1] Samantha N. S. Martins. Mestrado em Meteorologia (Conceito CAPES 7) .
Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Título: Avaliação da sensibilidade do ciclo diurno à física de interação superfície-atmosfera sobre a Região Metropolitana de São Paulo, Ano de Obtenção: 2008. Download aqui.
- Meteorologia no ENEM 2017
- Artigo mencionado ao longo do texto – Ribeiro et al (2018): Effect of sea breeze propagation on the urban boundary layer of the metropolitan region of Sao Paulo, Brazil
- Meteorologia no ENEM 2011
- A influência da brisa marítima no clima da Grande São Paulo – Revista FAPESP
- O que é o vento?
- São Paulo – A terra da tempestade
Livros indicados

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E preciso indicar também dois livros de Climatologia, matéria essencial nos cursos de Geografia e Meteorologia (embora com abordagens diferentes). Indico Climatologia Fácil, de Ercília Torres Steinke. De acordo com o texto de divulgação:
O que faz a asa-delta voar? O que é o fenômeno El Niño? Como são formados os desertos? Qual a diferença entre furacão e tornado? Perguntas cotidianas, feitas por alunos e reunidas pela autora durante seus mais de 15 anos de experiência no ensino de Climatologia, servem como ponto de partida para explicar conceitos e fenômenos climáticos de forma prática e original.
Ricamente ilustrada, a obra utiliza exemplos práticos para explicar os principais conceitos da Climatologia Geral, como movimentos de rotação e translação da Terra, radiação solar, umidade, precipitação e circulação atmosférica. Ao final do livro, a autora discute o aquecimento global e as polêmicas que o envolvem, levando o leitor a refletir sobre esse importante tema.Climatologia fácil é uma referência prática e descomplicada para alunos de graduação em Geografia e Meteorologia e professores de ensino fundamental e médio, assim como todos aqueles interessados em conhecer mais sobre os fenômenos climáticos a partir de exemplos do nosso dia a dia. {x}
O próximo livro de Climatologia é o Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. Os autores são Francisco Mendonça e Inês Moresco Danni-Oliveira. De acordo com o texto de divulgação:
Climatologia: noções básicas e climas do Brasil é uma obra de referência que reúne conceitos básicos de climatologia e meteorologia, com destaque para os domínios climáticos e sistemas atmosféricos que regem tempo e climas do continente sul-americano e Brasil.
Ao longo de sete capítulos, o livro traz um panorama sobre o clima e define didaticamente as diferenças entre climatologia e meteorologia. Iniciando com o ambiente onde ocorrem os fenômenos, analisa as propriedades da camada atmosférica com 10km de altura em torno da Terra e sua circulação. Mostra a dinâmica determinada por massas e frentes de ar na América do Sul.
O livro resgata o papel histórico das classificações, discute os modelos de classificação climática da Terra e apresenta os grandes domínios climáticos. Analisando as variações de temperatura e pluviometria ao longo dos anos, nas diversas regiões do País, define e apresenta os tipos climáticos do Brasil.
O livro reserva um capítulo final para falar sobre efeito estufa, desertificação, El Niño e La Niña, associados às mudanças climáticas globais.
Francisco de Assis Mendonça é mestre em Geografia Física, doutor em Clima e Planejamento Urbano. Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisador do CNPq, consultor da CAPES e FAPESC. É professor colaborador do mestrado em várias universidades do País. Atua nas áreas de climatologia, epistemologia da geografia, ambiente urbano e geografia da saúde.
Inês Moresco Danni-Oliveira é mestre e doutora em Geografia Física. Atualmente é professora adjunta da UFPR. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Climatologia Geográfica, atuando principalmente em clima urbano, poluição do ar e saúde, acidentes climáticos, impactos socioambientais e variabilidade climática. {x}
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