
As notícias que tenho para dar são muito desanimadoras, porém espero que elas possam de alguma maneira trazer um despertar para a sociedade. De acordo com o Global Carbon Project, as emissões de CO2 aumentaram em 2,7% no ano de 2018 e já haviam aumentado em 1,6% no ano de 2017. Esse aumento foi destaque na New Scientist e em outros sites de comunicação científica, conforme destacaremos a seguir.
O Global Carbon Project (GCP) reúne publicações, informações sobre reuniões científicas, dados e materiais para divulgações organizados por pesquisadores de todo o mundo. A iniciativa é liderada pelo cientista Rob Jackson, da Universidade de Stanford.
Essa triste notícia foi destaque em sites especializados de jornalismo, como o The Conversation e o site de notícias da Universidade de Stanford. As emissões de gases de efeito estufa como um todo (não apenas CO2, mas somando também CH4, N2O e outros) subiram pelo segundo ano consecutivo. Uma das razões para esse aumento de emissões trata-se do aumento do uso de energia. Notícias recentes mostram por exemplo que se tem gasto muita energia para minerar bitcoins e outras criptomoedas. Algumas estimativas falam que a mineração de bitcoins vai ser responsável por 0,5% de todo o consumo de energia mundial até o fim desse ano! Eu assisti a série de documentários Dark Net (da Netflix) e um dos episódios trata da mineração de criptomoedas e inclusive traz uma excelente explicação sobre elas. Eu que não sabia nada sobre o tema, pude aprender o básico. Fiquei impressionada com as centrais de computadores necessárias para minerá-las (para resolver rapidamente os algoritmos das transações) e realmente logo se deduz que a quantidade de energia elétrica necessária para esse processo é muito grande. Claro que a gente não pode atribuir esse aumento do uso de energia apenas ao processo de mineração de bitcoins, mas eu acredito que mencionar isso é bastante relevante. Atividades industriais de um modo geral dependem muito de energia elétrica e notou-se um aumento da demanda por alumínio, ferro, cimento, etc {x}, que são tipos de indústrias que usam muita energia elétrica.
Claro que uma das alternativas ao uso de combustíveis fósseis para gerar energia elétrica são as chamadas energias limpas (limpas no sentido de não poluírem a atmosfera). A energia eólica e a energia solar são exemplos de energias limpas. Mas a verdade é que qualquer forma de gerar energia pode causar algum impacto no ambiente (mesmo que não seja na atmosfera). A energia eólica por exemplo, causa impactos no ecossistema da região onde as turbinas estão instaladas e causam até perturbações à população, devido aos ruídos {x}. James Lovelock, em seu livro Gaia: Alerta Final, menciona por exemplo a perda na beleza panorâmica (paisagens) de uma região com turbinas eólicas instaladas. Lovelock é grande defensor da controversa Energia Nuclear, maneira muito eficiente de se produzir energia elétrica em que não há emissões de gases de efeito estufa. Muitos países europeus no entanto tem reduzido a quantidade de usinas de Energia Nuclear devido ao risco de acidentes sérios (como os que ocorreram em Chernobyl e Fukushima). Ou seja, apesar de não emitir gases de efeito estufa, as usinas nucleares podem causar problemas ao meio ambiente pois há uma enorme discussão sobre o que se fazer com os resíduos radioativos.
Como não há uma maneira de se gerar energia elétrica com nenhum custo ambiental (o custo 0 é impossível!), o ideal é se variar a matriz energética de um país e incentivar iniciativas de economia de energia e modernização de equipamentos elétricos. Incentivar a implantação de usinas de energia renovável para substituir usinas mais poluentes (como as que dependem de carvão e óleo) é uma das maneiras de auxiliarmos na redução de emissão dos gases de efeito estufa. Além disso, estimular um consumo consciente por parte da população é uma alternativa muito importante!
Em muitos países a produção de energia elétrica depende do uso de carvão e de outros combustíveis fósseis. A queima desses combustíveis faz com que gases de efeito estufa sejam emitidos. Depois de anos de discussões sobre a importância de se variar as formas de produzir energia elétrica e com muitos países incentivando a implantação de centrais de produção de energia elétrica renovável, a comunidade científica e os ambientalistas ficaram um pouco esperançosos. Mas ocorre que com as emissões de CO2 aumentando em 2,7% no ano de 2018 e em 1,6% no ano de 2017, essa esperança se desfez.
“Pensávamos, talvez esperávamos, que as emissões tivessem atingido o pico há alguns anos”, disse Rob Jackson, professor de Ciências da Terra da Stanford’s School of Earth, Energy & Environmental Sciences (Stanford Earth). Ainda de acordo com Jackson: “Depois de dois anos de crescimento [2017 e 2018, conforme mencionamos], isso foi uma ilusão.”
O relatório do Global Carbon Project, intitulado “Global Energy Growth Is Outpacing Decarbonization”, aparece em 5 de dezembro nas Environmental Research Letters (publicação revisada por pares), com dados mais detalhados publicados simultaneamente na Earth System Science Data.
O grupo de Jackson estima que as emissões globais de CO2 de fontes de combustíveis fósseis – que representam cerca de 90% de todas as emissões de atividades humanas – atingirão um recorde de pouco mais de 37 bilhões de toneladas em 2018, um aumento de 2,7% sobre emissões em 2017,que já foram 1,6% maiores do que ano anterior. Estima-se que as emissões de fontes não-fósseis, como o desmatamento, adicionem cerca de 4,5 bilhões de toneladas de emissões de carbono ao total de 2018.
“A demanda global de energia está superando o poderoso crescimento em energias renováveis e eficiência energética”, disse Jackson, que também é membro sênior do Stanford’s Woods Institute for the Environment and Precourt Institute for Energy. “O relógio está correndo em nossa luta para manter o aquecimento abaixo de 2 graus.”
Informações do Stanford News Service
Os Estados Unidos são os maiores emissores de CO2, sendo superados apenas pela China. Nos Estados Unidos, prevê-se que as emissões de dióxido de carbono aumentem 2,5% em 2018, após uma década de queda. Os culpados pelo aumento incluem um clima incomum – um inverno frio nos estados do leste e um verão quente em grande parte do país aumentaram as necessidades de energia para aquecimento e resfriamento sazonais – bem como um apetite crescente por petróleo diante dos baixos preços do gás. No geral, o uso de petróleo dos EUA deve crescer mais de 1% este ano em comparação a 2017.
O consumo de ao menos um combustível fóssil, no entanto, não está mais em ascensão: o carvão. O consumo de carvão no Canadá e nos Estados Unidos caiu 40% desde 2005 {x}. Essa informação aparentemente traz alguma esperança, no entanto não é bem por aí. As energias renováveis em todo mundo estão entrando em grande escala on-line como complementos para fontes de energia de combustíveis fósseis e não como substituições. Em outras palavras, a demanda por energia elétrica aumentou e não é o suficiente que as energias renováveis cresçam: elas precisam substituir os combustíveis fósseis. E como disse Jackson para o Stanford News Service: “até agora, isso está acontecendo para o carvão, mas não para o petróleo ou o gás natural. ” {x}
Muito se associa aumento de consumo de energia elétrica com crescimento econômico. Mas de acordo com a cientista Corinne Le Quéré da University of East Anglia, é possível haver crescimento econômico e redução de emissões de CO2 e ela menciona alguns países que conseguiram conciliar esses dois pontos, como Suíça e Dinamarca. No entanto, acredito que é sempre importante pontuar que muitos desses países desenvolvidos não fazem a sujeira em seus próprios territórios, já que muitas empresas que possuem capital desses países e que são altamente poluentes estão operando em países pobres ou em desenvolvimento, onde a legislação ambiental não é tão forte ou facilmente pode ser driblada pela fiscalização ineficiente ou corrupta. Um exemplo é a mineradora norueguesa Hydro, que tinha até duto clandestino para lançar rejeitos altamente poluentes em nascentes amazônicas. Na Noruega, a pressão legal e da população é muito grande e eu duvido que eles fariam isso por lá. Infelizmente por aqui a negligência e a corrupção permitem essas coisas.
E querem ficar mais desanimados (meu post hoje está altamente desanimador)? O nome atualmente cogitado para o Ministério do Meio Ambiente é ninguém menos do que um negacionista do aquecimento global. Eu já esperava isso, porque esse sujeito é do partido do novo presidente e eu não poderia esperar nada de um governo que já falou em abandonar o Acordo de Paris. O mais assustador é que eles não querem nem que protestemos contra isso (ou contra qualquer outra coisa), já que falaram até em criminalizar o ativismo. Cientistas, divulgadores e popularizadores de conteúdo científico, jornalistas e ambientalistas continuarão falando sobre isso. Seremos vozes em meio a um ambiente hostil, mas é importante falarmos sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas, além de falarmos sobre todas as agressões ao meio ambiente de um modo geral. A conscientização vem da fala consistente, cientificamente correta e amigável.
Saiba mais
Quer entender melhor o que são os gases de efeito estufa e o que é o aquecimento global? Há alguns meses, fiz uma série de 3 episódios sobre o Aquecimento Global, falando de maneira geral do que se trata:
- Série sobre o Aquecimento Global – Episódio 1
- Série sobre o Aquecimento Global – Episódio 2
- Série sobre o Aquecimento Global – Episódio 3
Alguns destaques e dicas no site da Oficina de Textos e da Amazon
Agora vou falar de um livro em português que é super recomendado para quem está iniciando seus estudos em Meteorologia. Meteorologia: noções básicas conta com um time de autores excelentes (Rita Yuri Ynoue, Michelle S. Reboita, Tércio Ambrizzi, Gyrlene A. M. da Silva), todos professores de cursos de Meteorologia de diversas regiões do Brasil.
Hoje, o jornal em qualquer mídia apresenta e explica a dinâmica meteorológica. Embora façam parte de um sistema complexo, os fenômenos meteorológicos são apresentados nesta obra de forma simples e didática, desde os conceitos básicos de composição e estrutura da atmosfera até a previsão do tempo e do clima e as mudanças climáticas. {x}
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Eu resenhei o Meteorologia Prática (título acima) nesse post. O livro Atmosfera, Tempo e Clima por outro lado é um título mais geral, indicado para quem está principalmente no primeiro ano de Meteorologia.
O Para Entender a Terra é um livro mais geral, para quem gosta de Ciências da Terra de um modo geral. Excelente livro para professores de Geografia, por exemplo.
Infelizmente acho que o mundo dos nossos filhos – apesar de que eu não tenha nenhum – não será dos melhores.
Olha, essa semana eu estive bem pessimista mesmo, depois dessas notícias. Há tantos anos os cientistas e ambientalistas vem alertando, mas aparentemente não está dando o resultado esperado.