
Outro dia um político (desses que desperta amor e ódio, coisa comum na Internet) estava falando inglês em um evento. Não falava como um nativo, mas falava de maneira compreensível. Muita gente o criticou. Diziam que esse político, por ter tido boas condições financeiras ao longo de sua vida, poderia falar inglês melhor do que o que ele apresentou. Alguns ainda emendavam, dizendo que brasileiro “só passa vergonha” quando vai falar inglês.
Fiquei um tempo pensando sobre isso e observei o velho complexo de vira-latas em algumas opiniões. Percebi também que as críticas ao político eram meramente ideológicas e que na verdade não tinham a ver com falar ou não inglês. Esse é o perigo de se amarrar firmemente a uma ideologia e comprar todo o pacote fechado que ela representa: você acaba sendo incoerente. Se fosse alguém do partido que os críticos apoiam tentando falar inglês em um evento internacional, certamente esses críticos aplaudiriam de pé o esforço.
Mas eu gostaria de aproveitar essa situação para encorajar todo mundo que está no ambiente acadêmico e que vai apresentar um trabalho em um evento internacional: fale inglês. Isso mesmo, tente! Mesmo que saia um inglês simples, “macarrônico”: eu quero ver todo mundo tentando! Pois eu acredito que mesmo que essa tentativa seja frustrante, ela pode ser o início de um esforço consciente em melhorar a compreensão e a conversação no idioma.
Aqui eu falo principalmente para quem é da área acadêmica, mas o mesmo conselho vale para quem vai fazer turismo no exterior. Se esforce e tente bastante, tenho certeza que a cada tentativa você vai se sentir mais confiante e vai se sair cada vez melhor. E claro, permita com que essas experiências façam você sentir-se encorajada a estudar mais e aperfeiçoar seus conhecimentos.
Em eventos científicos, quando você vai de fato apresentar um trabalho, normalmente há duas opções: ou o trabalho é apresentado em slides (apresentação oral) ou em formato de pôster. Eu pessoalmente prefiro o formato de slides, pois você apresenta seu conteúdo apenas uma vez e tem a possibilidade de colocar os gráficos em um tamanho mais adequado para que a audiência possa vê-los melhor. Além disso, o pôster pode dar problemas na hora do transporte, já que pode ser extraviado ou danificado. Só que nem sempre se tem esse poder de escolha entre pôster e apresentação oral, pois normalmente quem escolhe isso é a organização do evento. Isso depende de seu nível acadêmico, relevância e grau de inovação do trabalho, questões logísticas e de espaço do evento, dentre outros fatores.
Seja pôster ou apresentação oral, procure fazer um material de qualidade. Se você ainda não domina o inglês, peça a ajuda de amigos e de seu orientador. Contratar alguém para fazer uma revisão pode ser uma ótima ideia também e um excelente investimento.
De tanto ler o seu trabalho e de tanto ler a bibliografia relacionada com seu trabalho, você certamente vai acabar dominando todo o vocabulário técnico em inglês. Isso já é um enorme diferencial e vai te deixar mais confiante na hora de apresentar.
Vou repetir o que uma colega que mora no Canadá me falou certa vez:
“Tenha orgulho de seu nível no idioma e não peça desculpas por não falar muito bem. Quem está fazendo todo o esforço para se comunicar (minha colega mora numa área do Canadá onde se fala inglês) é você e o interlocutor precisa ter o mínimo de boa vontade para te compreender. Isso não tem a ver com falta de humildade, claro que a gente precisa saber de nossas limitações, mas não precisamos nos considerar coitados.”
E é preciso considerar que em um evento científico internacional há pessoas do mundo inteiro, com diferentes sotaques e graus de fluência no idioma. Estão todos ali no mesmo evento tentando se comunicar, cada um fazendo o seu melhor e é necessário que todos se esforcem para se entender. Fico pensando que no passado, quando o “idioma oficial da Ciência” era o latim, situações semelhantes aconteciam em encontros científicos. Essa dificuldade e essa insegurança não devem ser coisas novas.
Por isso fale, se esforce e se empenhe em melhorar cada vez mais. Não ouça pessoas que te ridicularizam, essas pessoas precisam ser ignoradas e muitas delas fazem isso por puro recalque. Ouça quem te coloca pra cima e te incentiva a aprender e estudar cada vez mais, tecendo críticas educadas e te respeitando.
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Se você quiser uma dica de como fazer um pôster pela primeira vez, clique aqui onde falo um pouco de minha experiência.
Lamento a todos, mas vocês só saberão um idioma quando usa-lo. Até lá não sabem. E para usar temos de falar, ler, escrever, ouvir… usar o idioma.
Quando começam a usar o português – por exemplo – uma criança comete erros, mas com o uso ela aprende a usa-lo com certa correção.
E nunca se esqueça que “herrar é umano”.
Ótimo conselho, Nemo. Só reforça o que eu disse. Obrigada pelo comentário!