Lembram-se do ciclone tropical Catarina ou furacão Catarina, que atingiu a costa catarinense no final de março de 2004? Pois então, na época o fenômeno acabou ganhando esse nome simplesmente porque ganhou mais força e atingiu a costa de Santa Catarina.

Aqui no Brasil, ciclones tropicais são incomuns. Ciclone tropical é o nome técnico dado para furacões e tufões, como procurei deixar claro em meus posts sobre a temporada de ciclones tropicais de 2018. O nome utilizado tem a ver com a região onde ele se forma. Aqui na costa brasileira, chamamos de ciclone tropical ou de furacão mesmo, porém esses fenômenos são bastante raros por aqui. Dependendo da localização onde o fenômeno se desenvolve e de suas características, ele ainda pode ser chamado de ciclone subtropical, que é quando possui características de ciclone tropical (furacão) e também características de ciclone extratropical (aquele ciclone que está associado com frentes frias).
Nesse post, explico como os furacões se formam!
Pois bem, o Furacão Catarina ganhou esse nome pela óbvia razão de ter ganhado força na costa catarinense. Nós não temos uma tradição de dar nomes para os furacões (falei muito sobre isso de nomes nos posts sobre a temporada de ciclones tropicais de 2018). Eu contei um pouco sobre a história dos nomes dos furacões no Atlântico Norte e no Pacífico nesse post.
Ocorre que agora nós brasileiros também temos uma lista de nomes para chamar de nossa. Como o fenômeno é relativamente incomum por aqui, a Marinha do Brasil (que monitora os ciclones tropicais e subtropicais na costa brasileira) propôs uma lista de 15 nomes, de origem tupi-guarani, que estão sendo utilizados em ordem cronológica:
1 – Arani (tempo furioso) – usado em março de 2011 – falei do Arani aqui e aqui.
2 – Bapo (chocalho) – usado em fevereiro de 2015
3 – Cari (homem branco) – usado em março de 2015
4 – Deni (tribo indígena) – usado em novembro de 2016
5 – Eçaí (olho pequeno) – usado em dezembro de 2016
6– Guará (ave das águas) – usado em dezembro de 2017
7 – Iba (ruim) – poderá ser usado em março de 2019?
8 – Jaguar (lobo)
9 – Kamby (leite)
10 – Mani (deusa indígena)
11 – Oquira (broto de folhagem)
12 – Potira (flor)
13 – Raoni (grande guerreiro)
14 – Ubá (canoa indígena)
15 – Yakecan (o som do céu)
A ideia é semelhante a do NHC: se o ciclone for muito intenso e provocar muitos danos, o nome será retirado da lista e substituído por outro.
Sendo assim, pelo o que entendi, há apenas uma lista cujos nomes poderão ser substituídos:
” Os fenômenos que forem considerados de significativa relevância serão retirados da lista e não serão mais utilizados, mediante aprovação do Diretor do CHM.” {x}
Ressalto essa questão da substituição porque a ideia é diferente do sistema do NHC, onde há 6 listas de nomes que se alternam anualmente onde os nomes também podem ser substituídos em casos de furacões muito devastadores.
Outra coisa a ressaltar é que a Marinha sinaliza que esses nomes poderão ser utilizados para estágios anteriores ao de furacão. Ou seja, se não houver organização suficiente (com olho e tudo) para que possamos de fato chamar de ciclone tropical ou furacão, mas esteja no estágio de tempestade tropical, os nomes também poderão ser usados.
Esta relação [a lista em questão] apresenta uma lista contendo sugestão de nomes em Tupi Guarani, na ordem alfabética, que poderão ser adotados para nominar os Sistemas Tropicais e Subtropicais Significativos que venham a se desenvolver no Atlântico Sul, mais especificamente dentro da METAREA-V, área marítima de responsabilidade do Brasil.
No Atlântico Norte, quando o fenômeno está no estágio de tempestade tropical, ele também já recebe um nome da lista. Leia esse post onde explico todos os estágios de desenvolvimento de um furacão.
Vejam que na lista de nomes eu destaquei o item 7, Iba. Isso porque o CPTEC/INPE soltou um comunicado hoje informando sobre a possibilidade do desenvolvimento de um ciclone tropical na costa da Bahia para o dia 23 de março de 2019, conforme indicam simulações meteorológicas recentes. No comunicado, o CPTEC/INPE diz:
Cachoeira Paulista, 21 de Março de 2019.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE) em colaboração com o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM- Marinha do Brasil) esclarece que há possibilidade da formação de um ciclone com características tropicais nas proximidades do litoral do estado da Bahia, com centro previsto na posição 15º S e 38º W, a partir do dia 23 pela manhã, com previsão de deslocar-se para sul. O fenômeno poderá provocar ventos fortes entre o litoral sul da Bahia e o estado do Espírito Santo, de direção Sudeste a Nordeste em alto-mar e de direção Noroeste a Sudoeste próximo à costa, até 89 km/h, com rajadas, entre o dia 23 pela manhã e o dia 25 pela manhã.
A Marinha do Brasil mantém todos os avisos de mau tempo em vigor no endereço eletrônico https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-smm-avisos-de-mau-tempo/avisos-de-mau-tempo. Adicionalmente, as informações meteorológicas podem ser visualizadas na página do Serviço Meteorológico Marinho no Facebook, disponível no link: https://www.facebook.com/servicometeorologicomb/ e por meio do aplicativo “Boletim ao Mar”, que se encontra disponível para download na internet, tanto para o sistema Android quanto para o IOS, desenvolvido em parceria entre a Marinha do Brasil e o Instituto Rumo ao Mar (RUMAR) e também no site do CPTEC: www.cptec.inpe.br ou pelo facebook: @inpe.cptec
Alerta-se aos navegantes que consultem essas informações antes de se fazerem ao mar e solicita-se ampla divulgação às comunidades de pesca e esporte e recreio.
CPTEC/INPE e Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil
Sendo assim, se este ciclone tropical realmente se desenvolver, ele poderá receber o nome de Iba, conforme a lista de nomes da própria Marinha do Brasil. Mesmo que não chegar a ser um ciclone tropical (ou seja, ficar só no estágio de tempestade tropical), o fenômeno também usará o nome.
É muito importante (MUITO IMPORTANTE!) deixar claro que qualquer informação sobre a formação de ciclones tropicais devem ser obtida nos órgãos oficiais: Marinha do Brasil e CPTEC/INPE.
Eu suplico: NÃO ACREDITEM NAS COISAS QUE VOCÊS RECEBEM PELO WHATSAPP. Procurem as informações nos sites oficiais, sempre! Nessas horas, sempre tem gente que gosta de semear o caos e propaga fake news. Como infelizmente sensacionalismo gera cliques e seguidores, muitos oportunistas aproveitam-se de ocasiões assim para conseguir fama. Por favor, isso é extremamente sério: acompanhe essas previsões somente nos sites oficiais indicados.
Sim: há fake news até sobre Meteorologia.
Mas e então, será que teremos um fenômeno com o nome Iba? Se tivermos, ele afetará principalmente o litoral sul da Bahia e o litoral norte do Espírito Santo. Nesse caso, espero que os avisos sejam recebidos a tempo e que as recomendações sejam respeitadas.
A coincidência é que no dia 23 de março comemora-se o Dia Meteorológico Mundial. O tema esse ano será “O Sol, a Terra e o Tempo”. Será que teremos um ciclone tropical em águas brasileiras justo nesse dia?
Nota
Agradeço ao colega Rodolfo pela informação sobre a lista completa de nomes.
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