
Pois então, muita gente tentou avisar. Porém durante as eleições, os ânimos estavam extremamente alterados e parece que ninguém conseguiu se entender. Muitas pessoas, muito descontentes e revoltadas com os escândalos do PT e de seus aliados, optaram por votar no atual presidente. Essas pessoas foram alertadas, mas nós falhamos em alertá-las adequadamente. Em meio ao desespero, muitos de nós fomos grosseiros e impacientes ao tentarmos explicar. Além disso, infelizmente nosso país sofre com o analfabetismo funcional e o analfabetismo científico, o que torna extremamente difícil informar. Esse enorme texto que estou escrevendo, por exemplo. Você, meu caro leitor, imagino que esteja acostumado em ler e nem vai achar grande coisa (e tenho certeza que vai querer corrigir ou acrescentar um monte de coisas). Mas tenha certeza que há muita gente que se assusta ao ler uma palavra que não conhece ou quando vê um texto relativamente grande. A vida fora da nossa bolha é assustadora.
Enfim, deixo essas discussões para um outro momento e depois desse momento “eu avisei”, vamos falar sobre os lamentáveis cortes do Governo Federal e vamos falar especificamente dos cortes na verba para o clima.
Além dos cortes de verbas para as Universidades e do congelamento das bolsas CAPES, que afetam diretamente pesquisadores (professores, alunos de iniciação científica e pós-graduação e bolsistas em geral), foram também realizados cortes no Ministério do Meio Ambiente.
Bom, já começa que a verba disponível para a implementação de políticas sobre mudanças climáticas era ridícula: R$11,8 milhões. Isso é pouco, considerando toda a arrecadação de nosso país e lembre-se que estamos falando de uma emergência, de uma crise do clima, pois estamos provocando uma extinção em massa com todas as alterações que estamos fazendo na biosfera. Bom, daí que 95% desses R,8 milhões foram bloqueados.
Lembre-se que o presidente eleito queria retirar o Brasil do Acordo de Paris, acordo esse que estabelece metas globais de redução de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global em até 1,5ºC (no máximo 2,0ºC) acima da era pré-industrial. Ou seja, esse presidente não se preocupa nem um pouco com essa questão urgente. Pelo contrário, antes de Ricardo Salles, Ricardo Felício havia sido cogitado por Bolsonaro para o cargo de Ministro do Meio Ambiente. Se você não sabe quem é Felício, ele simplesmente é um dos mais conhecidos negadores do aquecimento global aqui no Brasil.
Se você acha que os cientistas ainda estão incertos com relação às mudanças climáticas, vou explicar algo bastante importante. Há um consenso de 97% na comunidade científica de que o aquecimento global está ocorrendo devido às ações dos seres humanos. Ou seja, o capitalismo irresponsável e o consequente consumismo sem limites tem feito enormes estragos na biosfera. Além da poluição dos rios, mares e do solo, também estragamos a atmosfera e estamos vivendo uma emergência climática.
Por enquanto, Bolsonaro disse que não vai sair do Acordo de Paris, conforme afirmou em Davos. Entretanto, Donald Trump afirmou em 2017 que os EUA deixariam o Acordo, o que só poderá ser de fato feito em 2020 (veja aqui), de acordo com as diretrizes do acordo. Em 2020 haverá outra eleição para presidente dos EUA, então vamos torcer para que um candidato que entenda que vivemos uma emergência climática seja eleito. Sabemos que Bolsonaro é bastante subserviente à administração Trump, inclusive prestando continência à membros do governo (descabido e constrangedor: sinônimos do presidente). Sendo assim, acompanhar o que acontece por lá pode nos ajudar a prever algumas decisões do Governo Federal.
Vou tentar não deixar o blog pesado falando constantemente sobre política por aqui, mas acredito que vez ou outra posso condensar algumas informações para que meus leitores também reflitam sobre a desastrosa atuação do governo Bolsonaro.
Sobre a imagem de destaque: Imagem do Unsplash onde um manifestante em destaque segura um cartaz que diz: “Climate now, homework later” (Clima agora, lição de casa depois). Essa imagem é dos protestos do Extinction Rebellion. Muitos adolescentes e até crianças, participantes desse movimento, tem feito greves políticas e deixado de frequentar aulas às sextas-feiras para protestar a respeito da emergência climática.
Discordo em um ponto.
A muito tempo a pesquisa científica no Brasil é coisa de amador. O pesquisador tem de amar muito a dor para atravessar a cidade a pé pois não tem dinheiro para ir de ônibus. Tem de amar a dor para ficar sem comer pois necessita de um reagente e a verba será liberada nem D’us sabe quando e sem este reagente agora anos de pesquisa serão jogados fora. Ou seja é coisa de quem ama a dor.
O Brasil é celebre em assinar tratados de cooperação técnico-científicos e não honra-los.
Quanto ao negacionismo.
Desde os anos 50 do último século sabesse que cigarro e câncer no pulmão estão associados, mas…
No início dos anos 60 tivemos um livro, A Primavera Silenciosa, que tratava dos problemas dos agrotoxícos, mas…
No início dos anos 70 tivemos o livro Limites do Crescimento no qual, por meio de análise dinámica – você já ouviu falar de análise dinámica 8) -, usou-se um computador para avaliar o nosso futuro com base em:
– crescimento populacional;
– produção de alimentos;
– produção industrial;
– poluição e
– uso de recursos não renováveis (não só petróleo mas também ferro, ouro, alumínio e outros).
O modelo mostrou que o ápice da civilização seria por agora – 2020 – depois…
Mas qual governo, em qual país, realmente trabalhou sobre estes problemas? Falam muito, assinam muitos tratados, mas…
Talvez governos de países super desenvolvidos da Europa, mas é aquela história: eles fazem a sujeira deles em outros países.
Tem que amar muito a dor mesmo rsrs. Complicado. E ainda tem que somar os custos na saúde mental, muitos amigos e colegas que seguiram vida acadêmica ficaram muito adoecidos.
Gosto mto dos seus comentários!