
Por que é tão difícil falar sobre as coisas? E aqui quando falo coisas, falo assuntos. Talvez esse seja um questionamento que não te aflija, cara leitora ou leitor. Mas eu fiquei pensando sobre isso na última semana, quando rolou no Twitter aquele desafio de mencionar assuntos sobre os quais você poderia falar 30min a respeito sem preparação prévia.
No título do post, quando falo coisas eu me refiro a assuntos. E digo isso, porque muitas vezes tenho a impressão de que criar conteúdo sobre nós mesmas é muito mais fácil do que falar sobre um determinado assunto. Veja bem, não critico quem simplesmente liga a câmera e começa a falar sobre o que acha sobre determinado assunto. Muitas vezes eu simplesmente sento na frente do computador e começo a escrever em fluxo de pensamento, falando exatamente o que vem na minha cabeça. Bom, não exatamente, tenho procurado filtrar ainda mais (principalmente porque eu tive alguns problemas recentes). O que eu fiquei pensando é que quando falamos sobre nós mesmas ou sobre nosso pequeno universo particular, não precisamos ficar nos preocupando com dados ou fontes (e podemos florear bastante). A fonte é o que “dá na nossa telha”, embora essa fonte tenha sido alimentada por experiências pessoais diversas, leitura, estudos, etc.
Sendo assim, quando o desafio perguntava sobre qual assunto eu conseguiria falar por 30min sem preparação prévia, eu disse que poderia falar sobre classificação de nuvens, klingons, causos no transporte público e causos na igreja.
Do que eu consigo falar por 30min sem me preparar:
— Coach Meteorológica (@samanthaweather) May 10, 2019
– classificação de nuvens
– causos da igreja
– Klingons
– causos do transporte público paulistano https://t.co/EaCjlGMBhY
Vejam só, falar sobre Classificação de Nuvens para mim é a coisa mais fácil que tem. Eu já escrevi muitos posts sobre o assunto. Já dei palestras sobre o assunto. Já participei de podcast sobre o assunto. As pessoas me perguntam sobre o assunto semanalmente, eu tenho quase uma década de experiência em observações meteorológicas e na Estação Meteorológica onde trabalho, fazemos observação dos tipos de nuvens. Inclusive, para meu trabalho, criei esse excelente conteúdo didático sobre nuvens. Ou seja, tenho total segurança em começar do zero, sem olhar em nenhum livro ou site, uma palestra sobre o assunto. E ainda assim, se me pedissem para palestrar sobre o assunto, eu gostaria de me preparar para pegar imagens de qualidade e trazer algum tipo de novidade. Além disso, sempre gosto de confirmar algum detalhe para evitar erros de escrita ou de informações numéricas (datas, quantidades, etc).
Sobre klingons, bom, eu adoro Star Trek os klingons são meus personagens favoritos. Eu curto isso desde a adolescência e além das séries, sempre li revistas, livros, blogs, fanfics, etc sobre o assunto. Então eu consigo me virar bem. Com relação aos causos de igreja e de transporte público, bom, eu estaria falando basicamente sobre mim ou sobre parte de minha vida. Frequentei por anos diversas igrejas evangélicas e tenho amigos e familiares evangélicos. Vivi muita coisa estranha e também soube de várias histórias ainda mais estranhas. E em minha adolescência e em boa parte de minha vida adulta até agora eu andei nos diferentes tipos de transporte público paulistano e presenciei e ouvi muitas histórias. De qualquer maneira, nesses dois casos, eu estaria falando sobre mim e não sobre um assunto técnico.
Diante desse desafio no Twitter, fiquei reparando que a maior parte das respostas que as pessoas davam diziam respeito às suas vivências. Mais uma vez, nada contra e eu gosto muito de consumir esse tipo de conteúdo. Aprendo muito com a percepção dos outros, muitas vezes mudo meu ponto de vista diante de um assunto porque a história de alguém me fez refletir. Se eu tivesse que fazer uma palestra sobre a história da minha vida, eu organizaria uns slides com fotos e contaria algumas coisas. Mas eu não iria precisar do mesmo empenho que deveria ter (e acho saudável ter) para falar sobre algum tema técnico ou científico. Veja bem, mesmo tendo anos de experiência com Classificação de Nuvens, isso significa que eu tenho condições de preparar um material e buscar boas fontes de pesquisa. Quando fazemos a imersão nos estudos em uma determinada área (como ocorre em um curso técnico ou universitário), aprendemos as bases daquele conteúdo e não só isso: aprendemos a pesquisar sobre aquele conteúdo para sabermos ainda mais. Aprender a pesquisar significa aprender a encontrar materiais bons, ter um senso crítico para julgar a qualidade do material para sempre aperfeiçoar o aprendizado dentro da área.
Bom, e depois desse post não fiquem pensando que eu acho fácil falar sobre nós mesmas. Não acho não e claro, esse grau de dificuldade varia de pessoa para pessoa. Até porque quando falamos sobre nós mesmas, tendemos a omitir aspectos embaraçosos ou mal resolvidos, o que para mim é saudável: não acho legal se colocar numa situação constrangedora diante de algo revelador que mencionou para quem não deveria ouvir.
Além disso, quando falamos sobre nós mesmas, falamos sobre nossas percepções. Quase nunca temos todos os elementos para julgar algo, passamos vergonha emitindo certas opiniões (quem nunca) e claro, evitamos certas situações que podem nos prejudicar.
O que você acha? É mais fácil falar sobre você mesma ou sobre as coisas?
Dicas do dia
Sério, as vezes eu acho que eu deveria manter uma newsletter. Esse tipo de post talvez caiba melhor em uma, mas eu já me comprometo com tanta coisa que eu acho melhor usar essas reflexões como conteúdo para meu próprio blog.
Eu vou listar algumas coisas curiosas que vi na internet nesses últimos dias e que podem ser de interesse de meus leitores também.
- Os 10 maiores desertos do mundo: o texto fala dos aspectos meteorológicos dos principais desertos do planeta
- Aprenda os nomes dos números grandes: sabe quadrilhão, quintilhão, etc? Então, no dia a dia de estudante de exatas a gente não aprende esses nomes porque a notação científica é o que importa na hora de fazer as contas, os nomes não importam. Mas você já precisou escrever algum texto em que saber o nome daria algum tipo de impacto ou ideia de grandeza? Bom, dia desses eu precisei e esse texto foi bem útil.
- Matéria muito boa e completa do El País sobre os cortes na ciência, anunciados pelo desastroso governo Bolsonaro.
- Thread curiosa sobre os castelos pernambucanos
- As ideias curiosas e radicais para conter as mudanças climáticas
- Geografia e mundos fictícios. Se você gosta de escrever ficção, já deve ter se deparado com a situação de ter que descrever um local real onde a ficção se desenrola ou até mesmo um universo imaginário que você criou. Pois bem, a Sybylla é geógrafa e escritora e dá excelentes dicas nesse post.
Imagem que abre o post: Auditório vazio, cortesia de Stock Unlimited.
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