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Céu escuro na tarde de 19/08/2019 em São Paulo-SP. O que aconteceu?

20/08/2019 By Samantha 5 Comments

A imagem acima é da Região Metropolitana de São Paulo, hoje por volta das 15h. A fotografia, feita pela @looirana e publicada no Twitter hoje de tarde, mostra um céu totalmente escuro em um horário em que normalmente ainda temos bastante radiação solar. O que aconteceu? Para entendermos isso, vamos ter que viajar várias centenas de quilômetros até os focos de queimada na Região Amazônica.

O número de focos de queimadas em todo o Brasil está 70% maior do que o mesmo período de 2018 (veja aqui). Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE) também apontam que as queimadas atingiram o maior índice desde 2013. Várias regiões da Amazônia tem decretado situação de emergência devido tantos focos de queimada. Imagine só os problemas de saúde que as pessoas estão enfrentando. A Flávia Ward, colega do Scicast que é médica veterinária e mora em Rondônia, está há alguns dias se queixando da péssima qualidade do ar na cidade em que ela mora. A fumaça tem prejudicado a saúde das pessoas e atrapalhado o cotidiano na cidade.

Queimadas essa época do ano não são novidade na região. O ar seco favorece o espalhamento das queimadas e também é nessa época que muitos proprietários de terra queimam o solo para prepará-lo para o plantio (leia mais aqui). Ocorre que, conforme mencionamos, os dados tem mostrado que há mais focos de incêndio do que o normal para a época do ano, nos últimos dias.

Quem mora em Rondônia, por exemplo, não é de agora que reclama das fumaças de queimada nessa época do ano. Há muitos artigos (como esse, por exemplo) que mostram os impactos das queimadas na região na saúde dos moradores.

O INPE possui um portal dedicado apenas ao monitoramento das queimadas, com informações didáticas e explicações sobre a metodologia de seu trabalho. Clique aqui para conhecer. Dentro do site, nesse link é possível ter acesso a figuras e relatórios diários. Tudo aberto e transparente.

Ok, mas o que a fumaça das queimadas lá da Região Amazônica tem a ver com o céu escuro em São Paulo-SP na tarde de 19/08/2019? Já vamos chegar lá. Antes, precisamos entender como as gotinhas de chuva se formam.

E como as gotinhas de chuva se formam?

Eu conto todo o processo de formação de gotinhas de chuva (e com muitos detalhes) nesse post. Aqui eu vou apenas resumir para chegarmos direto no ponto. Quem me acompanha no Twitter também viu minha explicação nessa thread.

Para as gotinhas de nuvem se formarem, são necessários núcleos de condensação. Um núcleo de condensação pode ser uma partícula de poeira, sal marinho, material suspenso (aerossóis) associado a queimadas, etc. Ou seja, pode ser qualquer material que tenha afinidade com a água.

Um núcleo de condensação é uma superfície onde o vapor d’água vai se condensar. Como se fosse uma latinha de refrigerante onde o vapor d’água se condensa (e ela fica molhada).

As queimadas propiciam um aumento de partículas em suspensão, que podem atuar como núcleos de condensação. É possível que partículas de fumaça vindas de queimadas da Região Amazônica sejam transportadas para o Sudeste, porque a circulação da América do Sul favorece isso. A Cordilheira dos Andes atua como uma barreira que ajuda a canalizar o vento, que por sua vez transporta umidade e em certas situações fumaça também.

Vocês se lembram dos Rios Voadores, que nada mais são do que o transporte de vapor d’água da Região Amazônica para a Região Sudeste, sul da Região Centro-Oeste e norte da Região Sul? Pois então, esse vento que transporta umidade da Amazônia pode também transportar partículas de fumaça!

É claro que a concentração de partículas de fumaça no Sudeste é bem pequena: a concentração é muito maior (muito maior) próximo aos focos de incêndio. Além disso, a fumaça das queimadas é esbranquiçada e não escura (veja exemplo aqui, mostrando uma área sendo queimada em Rondônia).

Mas essa fumaça que chega aqui, mesmo que pouca, pode ajudar a formar mais gotinhas de nuvem. E como? Bom, as partículas de fumaça podem atuar como nuvens de condensação, permitindo com que vapor d’água se condense nelas.

Ou seja, além dos núcleos de condensação que já tínhamos normalmente sobre São Paulo-SP, chegaram mais núcleos de condensação oriundos lá da Região Amazônica. Eles viajaram um bocado e ao chegarem aqui, encontraram bastante umidade no ar porque uma frente fria chegou sobre São Paulo-SP e vizinhanças. Isso provavelmente permitiu que as nuvens crescessem bastante (verticalmente e horizontalmente) de modo que elas ficaram espessas o suficiente para cobrirem a luz solar. E dessa maneira, ficou bem escuro em São Paulo.

Ou seja: foram as nuvens, que podem ter ficado mais espessa devido a presença de mais núcleos de condensação, que fizeram o céu ficar escuro. Algumas pessoas disseram que era a própria fumaça das queimadas que deixou o céu totalmente cinza escuro. Não seria possível, porque a fumaça se espalhou bastante enquanto viajou dos focos de queimada até a Região Sudeste. Acredito que algumas pessoas disseram isso porque viram essa imagem de satélite e chegaram a conclusão que as cores representam a realidade fielmente. Não é bem assim, pois aqui temos uma imagem do canal visível do satélite (saiba mais aqui) e essa imagem é realçada por computador para que possamos ver mais detalhes da circulação através do brilho das nuvens. Podemos, na imagem de satélite em questão, ver de fato a pluma de fumaça se estendendo por boa parte do Brasil, mas a imagem precisa ser interpretada com cuidado e com conhecimento técnico.

Temos um termo técnico em Meteorologia para isso: advecção. Esse termo é emprestado de mecânica dos Fluídos e significa transporte (de massa ou de energia). E não é pra menos, a atmosfera é um fluido e estudamos esses fundamentos no Bacharelado em Meteorologia. Todos os lugares estão sujeitos a receberem influência de regiões vizinhas. A topografia e outras diferenças no terreno fazem com que o vento percorra caminhos preferenciais e transporte propriedades de uma região para outra. Em São Paulo-SP, por exemplo, temos também o fenômeno da brisa marítima em que o ar úmido proveniente do oceano chega até São Paulo-SP e traz aquele ar mais fresco no final da tarde, o que é um alívio em dias quentes.

Bom, com esse post espero ter esclarecido o que provavelmente aconteceu em São Paulo-SP na tarde de 19/08/2019. Eu tenho certeza que isso vai ser estudo de caso e pode virar TCC ou tema de Iniciação Científica de muitos estudantes.

Infelizmente vi no dia de hoje muita coisa estranha no Twitter, como:

  • pessoas opinando com propriedade sobre coisas que não conhecem totalmente;
  • pessoas causando caos com informações falsas ou incompletas.

Nessas horas penso o quanto as redes sociais podem ser danosas. Na ânsia de “hitar” ou ganhar algum tipo de notoriedade, as pessoas falam o que vem na mente, sem raciocinar antes. Eu não estou imune a isso, várias vezes tuitei coisas que eu não deveria ter tuitado. Quero dizer que nesses momentos em que uma situação desconhecida acontece, é muito fácil se desesperar e esquecer que devemos procurar boas fontes de informação.

Teve gente que falou em chuva ácida e se desesperou. Bom, em primeiro lugar a gente precisa lembrar que existem ácidos mais fortes e ácidos mais fracos, dependendo do pH desse ácido. Além disso, até mesmo um ácido bem forte pode estar bem diluído em água e não causar mal algum, que é o que acontece na chuva ácida. Na chuva ácida, formam-se na atmosfera ácidos bem corrosivos como o ácido sulfúrico, mas ele está bastante diluído na própria água da chuva.

Bom, colegas químicos, se falei algo inapropriado até aqui, me corrijam! O que quero dizer é que para saber se a chuva é ácida ou não é necessário coletar a água da chuva primeiro e medir seu pH. Chuva ácida indica local poluído (e fumaça de queimada é poluente), sejam esses poluentes produzidos localmente ou transportados de outras regiões. A chuva ácida prejudica a vegetação e as construções, mas os ácidos presentes na chuva ácida estão bastante diluídos em água, então não fazem mal à saúde.

Antes de se desesperar, é preciso manter a calma e buscar fontes confiáveis de informação. O que notei no Twitter essa tarde foi um monte de cochichos, um baita telefone sem fio. Isso me lembrou maio de 2006, quando a cidade de São Paulo parou devido uma onda de atentados (leia mais aqui). O que aconteceu foi realmente muito sério, porém os boatos espalhados em ônibus e trens lotados fizeram a situação parecer ainda pior. Eu lembro que eu não consegui pegar ônibus dentro da USP na ocasião (eles não estavam entrando no campus da capital, na época em fazia Mestrado em Meteorologia). Desesperada, fui com meu esposo (na época, namorado) até uma avenida fora do Campus para que eu pudesse pegar um ônibus até minha casa. No ônibus, uma senhora falava desesperadamente que “os recursos humanos (sic) não deixam matar bandido”. Na época não existia Twitter, imagino se fosse hoje. Os colegas que foram embora pra casa depois do ápice do caos encontraram uma cidade deserta e de fácil deslocamento (uma cena mágica).

Manter a calma diante de um governo tão incapaz e tão contrário ao meio ambiente é muito difícil. Mas vamos manter a calma, ouvir especialistas reconhecidos em suas respectivas áreas, buscar informação de qualidade e cuidar de nossas vidas (hobbies, cursos, trabalho, leituras e diversão são muito bem vindos). Espero de coração que meu post e minha thread no Twitter tenham ajudado a esclarecer esse assunto. Se quiserem perguntar algo ou acrescentar algo importante, por favor, fiquem à vontade.

Adendos

Eu já tinha concluído a escrita quando lembrei de algumas coisinhas. Outras coisas que ajudaram o céu de São Paulo a ficar ainda mais escuro no dia 19/08/2019:

  • Era período da tarde, o Sol já está mais baixo (menos luminosidade)
  • É inverno, temos um pouco menos de luz solar
  • A cidade de São Paulo é muito cinza, há áreas com poucos espaços abertos. Muitos prédios grudados uns nos outros, muito sombreamento.

Claro que essas coisas provavelmente contribuíram em menor grau, mas é importante mencioná-las.

Lembrei também de uma outra coisa. O Prof. Dr. Jorge Melendez, do Departamento de Astronomia do IAG-USP compartilhou dia 18/08 em seu perfil no Twitter a seguinte imagem:

Hoje não tem eclipse lunar. Essa lua alaranjada em São Paulo #Sampa 🇧🇷 pode ser pelo espalhamento das partículas no ar devido às queimadas na Amazônia.

The orange color of the moon tonight in Sao Paulo #Brazil may be due to airborne particles due to burning on the Amazon forest pic.twitter.com/lJkzXV1BoZ

— Jorge Melendez (@DrJorgeMelendez) August 19, 2019

Vejam como a Lua está alaranjada. Dependendo do tipo de partícula em suspensão na atmosfera, podemos ter um luar ou um pôr do Sol mais alaranjado. O nome desse fenômeno é Espalhamento Mie e eu falei sobre isso nesse post. Eu falei sobre Espalhamento Mie nessa lista de fenômenos atmosféricos curiosos (confira, ela é ótima). Ou seja, a presença de partículas de fumaça também provoca essas alterações de cor no luar. Interessante, não?

É importante deixar claro que com esse post eu não quis minimizar o problema das queimadas. O problema é sério e nosso atual governo o minimiza, desconsiderando a importância do monitoramento por satélite do desmatamento e das queimadas. O Ministro do Meio Ambiente chegou a dizer que é uma questão ideológica, o que foi elegantemente rebatido pelo ex-diretor do INPE, Ricardo Galvão. O que quis com esse post foi por pingos nos i’s e tentar explicar um pouco sobre as complexas relações entre os aerossóis e o vapor d’água.

E um apelo: jornalistas, não escrevam sem antes falarem com especialistas. Eu sei que as redações de hoje em dia pressionam por velocidade, mas isso não pode continuar assim. A informação precisa ser dada com propriedade e como resultado de trabalho de pesquisa bem orientado.

Importante!!!

Parece que as partículas de fumaça não vieram exatamente da Região Amazônica. Estão falando também em incêndios no Paraguai e na Bolívia e pode ser que essa fumaça veio de lá.

De qualquer maneira, a dinâmica de transporte dos aerossóis de queimada é a mesma, assim como a interação desses aerossóis com o vapor d’água, o que aqui foi colocado de maneira bem simplificada. Há muitos meteorologistas e outros cientistas de áreas correlatas trabalhando nessa área de pesquisa, compreendendo como diferentes tipos de núcleos de condensação atuam na formação de gotinhas de nuvem e até dei um exemplo recente sobre esse tipo de pesquisa nesse post.

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Filed Under: Aerossóis, Blog, Física de Nuvens, Nuvens, Queimadas Tagged With: ambiente, desmatamento, física de nuvens, floresta amazônica, INPE, meio ambiente, microfísica de nuvens, núcleos de condensação, queimadas, são paulo

Reader Interactions

Comments

  1. Ana Muller says

    20/08/2019 at 10:23 am

    Sou do Paraná e este fenômeno aconteceu aqui na parte da manhã o dia se tornou noite.

  2. Luciano says

    20/08/2019 at 5:01 pm

    Vc diz governo incapaz,não acha precoce essa opinião ? Certamente um governo de quase 15 anos,q não obtém resultado é incapaz,já um que começou há pouco tempo,ainda reorganizando as coisas,retirando funcionários incompetentes,boa parte nos cargos por ideologia.As mudanças demoraram demais,mas começaram,em breve acredito que todos os numeros serão melhores,apesar da torcida contra,principalmente daqueles que perderam uma boquinha.

  3. Samantha says

    21/08/2019 at 4:43 am

    Tudo aponta que o governo atual é tecnicamente incapaz e você ainda defende?
    Pelo amor…
    E dizer q esse governo é ruim não significa que eu gostava da gestão anterior. Menos binarismo.

  4. Nemo says

    22/08/2019 at 2:03 am

    Desta vez não tem muito o que comentar. Apenas posso deixar um link de outro blog que acompanho – vez ou outra.

    https://contraditorium.com/2019/08/21/uma-emocionada-carta-contra-a-desastrosa-pratica-das-queimadas/

Trackbacks

  1. Dia virou noite em São Paulo – Monolito Nimbus disse:
    22/08/2019 às 1:51 am

    […] fim, outras coisas ajudaram o céu a ficar um pouco mais escuro, conforme apontado pelo Meteorópole: no inverno, o Sol está mais baixo que no verão, ainda mais na segunda metade do período da […]

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aerossóis (aerossol)
Aerossol é uma suspensão de partículas sólidas muito pequenas ou gotículas em um gás. Os prinicipais exemplos são nuvens (aglomerado de gotículas de água e/ou gelo), poluição do ar (poeira, sal marinho, fumaça, etc).
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