Eu realmente não sei elaborar títulos para minhas postagens. A verdade é que eu escrevo o título primeiro, ele é meu ponto de partida para o post. E isso me causa problemas, porque talvez eu devesse deixar o título para depois. Deve ser ansiedade e empolgação. E no caso do post de hoje, uma enorme necessidade de desabafar.
Enfim, deixando de lado meus processos de escrita, eu queria falar sobre uma sensação que eu tenho experimentado nas últimas semanas. Bom, meus leitores recorrentes sabem que eu deixei a Estação Meteorológica do IAG-USP porque eu tive que mudar de cidade. Eu sou casada, tenho dois filhos e meu marido teve a oportunidade de trabalhar na área dele. Nós conversamos a respeito disso e tem toda uma história familiar que levou a esse momento. Analisamos e concordamos que seria a melhor decisão, mas não está sendo fácil para mim.
Eu estava escrevendo um outro post aqui para o blog e tive que consultar alguns boletins da Estação Meteorológica do IAG-USP. Gente, foram 10 anos trabalhando lá. Na verdade eu completaria 10 anos agora em outubro. Eu era muito boa no que eu fazia, acredito que todos os 3 chefes que tive ao longo desses anos vão concordar com isso. Foi um período muito bom para mim, sem sombra de dúvidas. Quando olhei os boletins e percebi que mais de 80% do material foi elaborado por mim, fiquei pensando no quanto eu era uma boa profissional no período em que trabalhei lá e talvez eu não tenha tido autoestima o suficiente para internalizar isso. E é aquela história: se você não acredita no seu trabalho, outras pessoas também não acreditarão.
Eu tenho um delay mental esquisito. Eu só percebo as coisas boas que eu tinha depois de perdê-las. E eu acho que só agora percebo o quanto era bom trabalhar lá. Tinha os problemas, claro. E qual trabalho não tem?
Bom, e quem é Tasha Yar? Vou resumir bem resumidinho para quem não é trekker. Ela era uma funcionária da USS Enterprise. O chefe dela era o Capitão Jean-Luc Picard. E a fulana era boa, uma excelente profissional de segurança. Os colegas gostavam dela, era competente pra caramba. Daí ela morreu. Uma morte bem idiota, os fãs da série ficaram bem indignados, porque ela era uma mulher forte que antevia o perigo. A morte foi imbecil, foi tudo culpa de uma gosma-tipo-um-piche.

Eu estou me sentindo um pouco egoísta e injusta ao sugerir que eu saí do meu trabalho por uma razão imbecil. Não foi isso. É que eu estou bem chateada e frustrada, talvez porque eu imaginava que agora eu estaria voltando de minha licença maternidade, matriculando meu filho mais novo na antiga escolinha do meu mais velho, buscando os meninos de carro na escola, etc. Estou chateada e muito frustrada porque eu realmente notei que eu era uma boa funcionária e que talvez eu não tenha sido devidamente valorizada (e isso pode ser uma percepção equivocada de minha parte). Eu achei que sairia de lá daqui muitos anos, talvez aposentada ou talvez porque teria encontrado um outro emprego incrível.
É inevitável não deixar de pensar no futuro. O que eu fiz? Eu saí de lá, e agora? Um dia vou trabalhar fora de casa novamente? Será que prejudiquei minha independência? Será que eu poderia ter feito outras escolhas ou proposto outra solução? É horrível me torturar com essas perguntas estúpidas, pensar em situações que já não podem ser mudadas. O ponto é que eu me sinto bem frustrada e cansada, mãe de duas crianças pequenas e de um bebê de menos de 1 ano. Ah, esqueci: mãe não pode reclamar. Eu nunca pude reclamar na minha vida toda. E isso dói. Porque qualquer reclamação é vista como “ah, ela é tão ingrata”. Eu tenho certeza que eu não sou ingrata. Estou escrevendo aqui e pensando que eu não estou sabendo lidar muito bem com minha nova vida, a rotina tem sido cansativa demais e eu sinto falta de várias pessoas e por isso estou falando tudo isso. Sempre me foi negado o direito de reclamar. É eu começar a reclamar e pessoas chegam até mim sugerindo uma certa ingratidão, antes mesmo de me ouvir. Não é mimimi, eu também não acho saudável reclamar demais. Mas nunca nem PERMITIRAM que eu reclamasse de qualquer coisa. Então eu me fechei, como uma concha num jogo do contente para que tudo fique bem e nem sempre está. O lado bom: sou otimista pra caramba e acho que vai melhorar.
Sim, você foi uma ótima funcionária. Quanto ao reconhecimento que você merecia… alguma vez damos aos nossos subordinados o reconhecimento que eles merecem?
Quanto a mudança, vocês dois decidiram.
O que você tem de ser é humana. E os humanos são: teimosos como um Tellarite, arrogantes como um Andoriano, emoções fortes e senso de honra de um Klingon e lógico como um Vulcano.
Sei que este é apenas um momento, pois em breve, quando você estiver com a vida mais organizada, Ele te dará um caminho.
Nemo
o Chaaaaaato