
Eu gosto da Greta Thunberg. A mensagem dela é muito importante: conscientizar os jovens a respeito das consequências das mudanças climáticas. Ela é ouvida, transmite a mensagem de maneira muito precisa. E por isso ela tem inspirado jovens por todo o mundo. Além dos jovens, muitos adultos tem aprendido e se inspirado com a mensagem dessa adolescente, uma menina, mas com um carisma e com uma força que tem conquistado muita gente. Uma inspiração, todos os jovens deveriam se sentir empoderados dessa maneira.
Uma coisa que gosto na Greta é essa ideia de que a sala de aula é o mundo. Você aprende fora da sala de aula, desde que seja estimulado a isso. Participar de uma greve ou manifestação é uma forma de aprender. É aprender a ser cidadão. E quando a gente fala de emergência climática, é algo tão grande, tão grande, que ultrapassa a reivindicação por áreas verdes ou por um posto de saúde no seu bairro. A emergência climática ultrapassa fronteiras e deveria fazer com que todos os seres humanos sentissem que tem algo em comum, apesar das diferenças e das barreiras linguísticas, religiosas, sociais, culturais, etc.
Bom, a Greta está o tempo todo na mídia. Isso deveria ser bom para a causa, afinal ela poderia inspirar lideranças locais com seus discursos. E tem acontecido isso, muitas crianças tem se inspirado nela. Porém o fato de ela estar o tempo todo discursando, aparecendo muito em diversos portais, sites de fofoca, especulações em redes sociais, etc, tem desgastado a imagem dela. Tem gente que simplesmente pegou birra dela. E do outro lado tem gente que a transformou numa espécie de ídolo, o que eu acho muito assustador.
Eu tenho ranço dessa ideia sebastianista. Aqui no Brasil estamos vendo os resultados disso no meio político, com pessoas que adotam políticos para sua própria adoração e como resultado, temos time A x time B e pouca discussão realmente produtiva. As pessoas precisam o tempo todo seguir suas narrativas, então usam suas paixões no lugar do senso crítico.
Claro que a Greta, quando começou com esse movimento, apenas resolveu dar um passo em prol de uma causa, resolveu colocar a mão na massa. Ela encontrou, além de uma grande força interior, incentivo por parte de sua família, comunidade escolar e grupo social em que vive. Quero dizer, ela não queria ser vista como uma figura messiânica, penso eu. Quem a transformou numa profeta foi a própria mídia, os jornalistas em suas colocações inexatas e as redes sociais com seu poder de ecoar todas as coisas. O mundo é cheio de problemas e quando imaginamos a figura de um salvador, alguém que pode resolver os problemas por nós, ficamos seduzidos e tendados a segui-lo. Esse messianismo fez com que para alguns, Greta se tornasse uma figura intocável. Recentemente um religioso fez uma piada, comparando-a com a Wednesday Adams e chamando-a de ‘Greta Thornbug’ (tipo de vespa, o nome meio que parece com o sobrenome da garota) e teve gente que ficou horrorizada com o religioso, como se a moça fosse intocável. Eu particularmente não achei essa piada ofensiva. A menina está na mídia e piadas vão surgir. A piada não foi sexista ou preconceituosa de qualquer outra maneira. Apenas comparou seu estilo de cabelo com o de uma personagem icônica (no caso, a interpretada pela Christina Ricci) e quem assistiu os filmes sabe o quanto a menina era revolucionária e protestava contra a sociedade. Ou seja, a comparação foi bonitinha. Se a Greta por algum acaso não gostar dessa comparação, evidentemente tem todo o direito de se manifestar e até buscar apoio legal. O que quero dizer aqui é que me incomoda muito esse “peso do ícone” sobre uma única pessoa, uma menina que evidentemente tem um discurso lindo e inspirador, mas que não merece ter esse peso de divindade.
Ninguém merece esse peso, na verdade. Somos todos seres humanos incríveis e dignos, com potencial para causar boas mudanças e colher bons frutos, mas somos falhos. Estamos o tempo todo acertando e errando, ninguém possui o segredo da perfeição. Podemos e devemos admirar pessoas como a Greta, podemos nos inspirar por discursos poderosos. Mas nunca podemos esquecer que ela é uma pessoa, uma moça famosa que está sujeita a ser criticada, está sujeita a ser alvo de piadas (respeitosas, óbvios), está sujeita a errar (todos erram), cometer excessos, faltas, etc. O melhor que fazemos pela Greta é admirar sua mensagem e enxergá-la como um ser humano.
Para mim um lado ruim ao transformarem a Greta numa figura que desperta paixão e ódio é que a mensagem que ela carrega vai acabar sendo alvo disso. Ela já representa a luta por ação diante da emergência climática. Já tem gente com raiva do assunto, mesmo antes de ler mais a respeito, porque a garota “está em todas”. Deixando de lado evidentemente a raiva com viés machista de alguns (porque ela é uma menina jovem) ou as críticas com certo peso de outros (porque ela é de um país rico onde pode fazer greve de escola), muita gente pegou raiva da menina porque a imagem dela está muito gasta, repetida, sempre aparecendo na mídia. Eu espero que o saldo final de tudo isso seja uma causa fortalecida, com pessoas se conscientizando cada vez mais sobre a emergência climática. Só espero que essa idolatria por parte de alguns não faça tudo caminhar num sentido ruim.
Comente