
Bom, os ventos mudam não apenas de direção, mas de intensidade também. E eu vou explicar o motivo. Venham comigo!
Antes de qualquer coisa, precisamos lembrar que o vento é uma grandeza vetorial. Isso significa que apenas dizer um número (100 km/h, por exemplo) não me conta toda a história sobre o vento. Eu preciso dizer de onde o vento vem e para isso utilizamos a rosa dos ventos (falei um pouco sobre isso aqui).
Nas aulas de Geografia, quando aprendemos sobre mapas, nós aprendemos também a respeito da rosa dos ventos e das direções cardeais que ela apresenta: norte, leste, sul e oeste. Além das direções cardeais, temos as colaterais (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste) e as subcolaterais (norte-nordeste, leste-nordeste, leste-sudeste, sul-sudeste, sul-sudoeste, oeste-sudoeste, oeste-noroeste e norte-noroeste). Nos utilizamos os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais para dizer de onde o vento vem. A seguir, apresento uma imagem da rosa dos ventos, obtida a partir desse verbete bem completo da Wikipedia.

Para facilitar a consulta de quem chegou até meu blog interessado em saber mais sobre o vento, vou deixar as siglas das direções cardeais, colaterais e subcolaterais a seguir:
N – norte
NNE – norte-nordeste
NE – nordeste
ENE – leste-nordeste
E – leste
ESE – leste-sudeste
SE – sudeste
SSE – sul-sudeste
S – sul
SSW – sul-sudoeste
SW – sudoeste
WSW – oeste-sudoeste
W – oeste
WNW – oeste-noroeste
NW – noroeste
NNW – norte-noroeste
Ou seja, essas direções cardeais, colaterais e subcolaterais além de nos ajudarem na orientação em um mapa, também ajudam a definir de onde o vento vem. Importante: em Meteorologia, sempre nos referimos de onde o vento vem! Saber de onde o vento vem significa saber quais propriedades ele carrega consigo. Por exemplo, em São Paulo, um vento vindo de SE (sudeste) significa um vento que vem do sul e também vem da direção do oceano (se a gente olhar no mapa podemos ver que temos oceano na direção SE), o que implica na prática num vento úmido e mais frio.
Outro ponto importante a destacar é a respeito das siglas. Elas devem ser sempre usadas da maneira que coloquei acima, pois essa é a convenção internacional. E para saber mais sobre essa documentação internacional da Organização Meteorológica Mundial, basta clicar aqui e procurar o capítulo sobre medição do vento. Esse tipo de padronização em Meteorologia é de extrema importância, porque estamos lidando com dados que serão compartilhados entre pessoas de diversos países e esses países nem sempre se comunicam usando o mesmo idioma. Por isso, padronizar os dados fará com que um alemão entenda o que quero dizer, por exemplo.
Vejam, eu disse que o vento é uma grandeza vetorial, o que pode tornar as coisas um pouco mais complicadas e também um pouco mais interessantes. Fazendo um contraponto, a temperatura por exemplo é uma grandeza escalar e isso significa que apenas um número (30ºC, por exemplo) é o suficiente para explicá-la.
Depois de ter apresentado esses detalhes técnicos bastante importantes, vamos explicar: mas por que o vento muda de direção?
A maior causa da mudança de direção dos ventos é a diferença de temperatura entre diferentes áreas. Os raios solares são absorvidos pela superfície da Terra, mas como você já deve ter observado, a superfície da Terra não é toda igualzinha. Há áreas cobertas por gelo, vegetação de diferentes tipos, pântanos, rios, oceanos, diferentes relevos, cidades bem grandes etc. Por essa razão, diferentes pontos da superfície da Terra se aquecerão de maneira diferente.
Além disso, a Terra passa pelas estações do ano e isso significa que enquanto é inverno no Hemisfério Sul, é verão no Hemisfério Norte. Como o nosso planeta possui um eixo de rotação inclinado, os dois Hemisférios (as duas metades do planeta, a metade Norte e a metade Sul) recebem quantidades diferentes de radiação solar no período de Verão e Inverno. Isso naturalmente faz com que áreas do nosso planeta se aqueçam mais do que outras áreas, agora some isso com o que mencionei anteriormente (diferenças de relevo, vegetação, urbanização, etc).
Bom, essas diferenças de temperatura vão fazer com que o ar logo acima dessas superfícies se aqueça de maneira diferente. Uma superfície mais quente vai fazer o ar se aquecer mais, fazendo com que a pressão do ar seja menor. Uma superfície mais fria por outro lado vai ter a pressão do ar maior.
Pressão do ar maior significa na prática “mais ar” e o ar portanto flui dos locais de maior pressão para os locais de menor pressão. Isso acontece o tempo todo em nosso planeta e pode ser percebido localmente, quero dizer, aí mesmo onde você mora. Se a sua cidade for perto do mar, você vai perceber que vai ter horas que o vento vai vir do mar para a praia e em outros momentos o oposto vai ocorrer. Isso ocorre porque a capacidade de aquecimento do continente, da terra firme, é diferente da capacidade de aquecimento do oceano. Há momentos em que o oceano está mais quente que a terra firme, então temos o vento fluindo do oceano para o continente. O nome desse fenômeno é circulação de brisa. Fenômenos parecidos são vistos em locais onde temos montanhas e vales, formando o que chamamos de brisa vale-montanha, Se você mora próximo de algum rio ou lago bem largos, também vai notar o fenômeno (que nesse caso chamamos de brisa fluvial e brisa lacustre).
Sendo assim, o vento muda de direção porque a superfície da Terra não é homogênea (toda igualzinha) e portanto ela se aquece de maneiras diferentes, gerando assim áreas com pressões do ar diferentes. Como o vento vai das áreas de maior pressão para as de menor pressão para que tudo fique equilibrado, temos assim a formação de um movimento de ar que damos o nome de vento. E esse movimento pode mudar de direção, dependendo do horário do dia e da época do ano, por exemplo.
Leia mais:
- Dúvida do leitor: informações sobre o vento.
- Urubus amam Meteorologia
- De onde vem a palavra anemômetro?
- Vento: conversão da direção (post bem técnico explicando como converter a direção do vento para graus e para suas componentes)
- O que é o vento?
Leia mais (externo):
Descrição da imagem: Menino em meio a dunas de areia, sentindo o vento. Cortesia de Stock Unlimited
Gosto muito do embasamento que este blog fornece aos leigos, como é o meu caso.
Gostaria de saber se existem formas de prever aqueles fenômenos extremos de vento que derrubam torres de linhas de transmissão, etc. através de satélites, por exemplo.
Como são vento que abrangem pouca extensão e duram pouco tempo, como identifica-los ?
“Há momentos em que o oceano está mais quente que a terra firme, então temos o vento fluindo do oceano para o continente. O nome desse fenômeno é brisa marítima”. Esta afirmação não esta correta. A brisa marítima ocorre durante o dia devido ao contraste térmico entre o continente que esta mais aquecido (baixa pressão) e o oceano que esta menos aquecido (alta pressão). Como o vento se desloca sempre da alta para a baixa pressão, neste caso o vento vai se deslocar do oceano (menos aquecido) para o continente (mais aquecido) originando a brisa marítima. A brisa terrestre ocorre a noite e é o oposto da brisa marítima pois a noite se forma no continente menos aquecido um centro de alta pressão e no oceano mais aquecido um centro de baixa pressão. Assim a noite o vento sopra do continente para o oceano originando a brisa terrestre. Os pescadores que utilizam jangadas saem para pescar a noite aproveitando a brisa terrestre e retornam para o litoral no começo da manha quando surge a brisa marítima.
Expliquei exatamente a mesma coisa, porém com palavras simplificadas. Esse texto foi usado como base num podcast que responde perguntas de crianças.
Sou meteorologista, com todo respeito, não precisa vir até aqui ensinar o padre a rezar.