
Hoje decidi falar sobre um tipo de nuvem bem comum. São nuvens que você já viu por aí várias vezes, mas vamos falar sobre esse tipo de nuvem mesmo assim para então observá-las melhor. São as nuvens Stratus. Em tabelas com dados de observação meteorológica, você vai ver a abreviação St para esse tipo de nuvem.
Quando temos uma nuvem St no céu, normalmente não vamos conseguir identificar a base da nuvem bem definida, porque tudo parece meio “fragmentado”, “indefinido” ou rasgado. Quando temos neblina ou nevoeiro, o que temos é uma nuvem tipo St que se formou na superfície. Nuvens St são portanto nuvens baixas, daquelas cujas bases que se formam a uma altura de até 2000m.

A imagem acima é bem conhecida de quem estuda nefologia. São os 10 gêneros de nuvens divididos nas 3 camadas (nuvens baixas, nuvens médias e nuvens altas). Eu já citei essa imagem várias vezes aqui no blog. A propósito, se você quiser saber mais sobre nuvens, nesse post separei uma seleção de links com sugestões de estudos.
ATENÇÃO: se você for entusiasta da aviação, não me corrija com sua régua em pés. Nós meteorologistas estudamos as nuvens sob uma perspectiva diferente, então vocês podem ter outra ideia sobre o que é uma nuvem baixa, por exemplo. Nós meteorologistas seguimos o Atlas Internacional de Nuvens, publicação da Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization).
Nevoeiro de Encosta. Foto de http://ciclotp.blogspot.com.br
Nuvens St estão associadas apenas a situações de nevoeiro ou neblina? Não. Elas podem se formar acima da superfície. O próprio nevoeiro, daqueles que se formam na madrugada, vai se dissipando nas primeiras horas da manhã e podemos ainda ver no céu uma camada de St um pouco mais alta.
Uma camada de St é uma camada de nuvens acinzentadas e pode apresentar garoa ou neve e em situações assim, normalmente a nuvem St está associada com nuvens Sc (Stratocumulus). Sabe aquele dia feio, cinza e garoento, que a gente nem tem vontade de sair de casa? Quem mora em Curitiba ou São Paulo-SP com certeza sabe do que estou falando. Dias assim são dias em que temos uma camada formada por St e Sc. Geralmente isso acontece quando a frente fria está passando pela localidade, naquele momento de temperatura mais baixa e garoa/chuvinha. Passa um ou dois dias e a visibilidade melhora e daí vem aquele céu azul lindo, porém o frio de fato chega, porque temos então a massa de ar polar. O inverno dessas duas cidades que mencionei (e outras próximas, claro) costuma apresentar esse tipo de quadro com frequência no inverno. Quando a nuvem St se apresenta dessa forma, encobrindo todo o céu e deixando o tempo feio, podemos até acrescentar um “sobrenome” na nuvem, sua espécie: Stratus nebulosus.

A imagem acima está nomeada não somente com o gênero + espécie da nuvem. Aqui temos o gênero + espécie + variedade. Com essa combinação, temos Stratus nebulosus opacus. Na tabela ao final desse post essa questão está bem explicada. O caso é que uma nuvem pode ter um gênero e uma espécie (apenas um de cada). Já quanto a variedade ou característica suplementar, que são características adicionais da nuvem, pode-se colocar mais de um, se isso ajudar a descrevê-la com exatidão.
Em algumas situações a gente vê o céu azul e só uns fragmentos de nuvem no céu. Quando isso acontece também temos nuvem St. E em situações assim a nuvem pode ser chamada de Stratus fractus.

Observe que na imagem acima temos umas nuvens que parecem “rasgados” ou fragmentadas acima dos picos dos montes. Esses “rasgados” são os Stratus fractus. Normalmente temos esse tipo de situação nas primeiras horas da manhã quando um nevoeiro que se formou no fim da madrugada vai se dissipando.
Abaixo, circulei na cor roxa alguns dos lugares da fotografia em que podemos ver Stratus fractus, caso a explicação acima não tenha ficado muito clara.

Lembrando que as nuvens são classificadas por gênero e podem apresentar apenas uma espécie. Porém como disse anteriormente, elas podem apresentar mais de uma variedade ou características suplementares. Veja a tabela a seguir criada pela Estação Meteorológica do IAG-USP e que pode ser consultada em detalhes nesse link.

História do nome Stratus: a palavra stratus significa camada, em latim. Quando Howard, no comecinho do século XIX criou o Sistema de Classificação de Nuvens, ele já tinha escolhido esse nome para classificar esse tipo de nuvem. Abercromby (1887) no periódico Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society reforçou essa nomenclatura e ainda falou da importância das fotografias, muito mais adequadas para ajudar na identificação das nuvens. Observem que as primeiras fotografias começaram a surgir na primeira metade do século XIX, poucas décadas depois da publicação de Howard, On the modifications of clouds(1803). Além de Abercromby (1887), Hildebrandsson (1887) também fez comentários sobre a classificação de nuvens na mesma edição do Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society .
É um tipo de nuvem fácil de identificar, acredito que muita gente já observou aquelas nuvens “rasgadas” ou fragmentadas que aparentam se mover mais rapidamente do que as outras nuvens que estão em camadas acima. Normalmente, quando vemos isso, estamos vendo Stratus (ou mais precisamente, Stratus fractus). Além disso, nevoeiros são bem comuns e quando temos nevoeiro, temos necessariamente uma camada de nuvem Stratus bem próxima da superfície.
Em breve voltaremos com um próximo post falando sobre mais nuvens, meu assunto favorito em Meteorologia e também o assunto no qual tenho mais experiência. Até a próxima.
E modéstia a parte, esse post ficou bem legal. Sabe, se você for usá-lo para qualquer finalidade, mencione a autoria. Por favor, valorize o trabalho dos produtores de conteúdo. Não é porque está na internet que não tem autor, pensem nisso.
Fontes:
International Cloud Atlas – WMO – Stratus
Estação Meteorológica do IAG-USP – Nuvens
Thread que montei no Twitter com um monte de links sobre o assunto
Bom-dia!
Você irá falar sobre todos os tipos de nuvens? É um assunto muito interessante, e um dos poucos que leigos – como eu – percebem na metodologia.
E como sou o chaaaato
Além de Abercromby (1887), Hildebrandsson (1887) também fez comentários sobre a classificação de nuvens, na mesma edição do uarterly Journal of the Royal Meteorological Society .
8)
Nemo
Ola Nemo, obrigada pela correção. Então, vamos ver no que vai dar. Tomara que eu transforme isso numa série e fale de todos os tipos. Obrigada pelo toque. 😉
E você está falando do erro em Quaterly (onde esqueci o Q) né? Não pesquei rsrs
Abraços