
O Weather Channel divulgou um estudo publicado em maio/2020 na PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America). Esse estudo, conduzido por cientistas da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) e da University of Wisconsin-Madison, sugere que as mudanças climáticas estão colaborando para que os ciclones tropicais (chamados também de furacões ou tufões) fiquem mais intensos, ou seja, com ventos máximos mais fortes.
No estudo foram analisados dados de 1979 até 2017. Ou seja, foram quase 40 anos de dados. Quando fazemos estudos climatológicos, são necessários dados de um período de pelo menos 30 anos para descrever o clima de uma região.
Ciclone tropical é o nome técnico dado a um furacão. É uma área de baixa pressão atmosférica com uma circulação organizada, chuvas bem concentradas e e ventos muito intensos. Em outras regiões do planeta, ciclones tropicais também são chamados de tufões. Furacão é o nome regional dado para os ciclones tropicais que ocorrem no Atlântico Norte.
Nesse estudo, foram utilizados dados de superfície e também dados de satélites meteorológicos, que se tornaram muito abundantes nas últimas décadas. Os satélites meteorológicos são muito importantes no monitoramento dos ciclones tropicais, uma vez que eles permitem que a nebulosidade associada ao fenômeno seja vista em sua totalidade, sendo possível monitorar sua área de formação e seu deslocamento.
O grupo de cientistas observou uma conexão entre o aumento da temperatura da superfície nas últimas décadas e o aumento da intensidade dos furacões. Essa conexão já havia sido observada anos antes em outro artigo publicado pelos mesmos autores e que usou metodologia semelhante, porém foi analisado um período de apenas 28 anos de dados.
No estudo mais recente, os cientistas apontaram um aumento na proporção de ciclones tropicais intensos (são os ciclones tropicais de categoria superior a 3 na Escala Saffir-Simpson). A Escala Saffir-Simpson classifica os ciclones tropicais de acordo com os ventos máximos sustentados. E claro, ventos mais intensos significam maior potencial de destruição. Os autores identificaram, ao analisar dados de quase 40 anos, um aumento de 6% por década na proporção de ciclones tropicais intensos.
Os autores analisaram dados de todo o globo e esses 6% foram obtidos considerando todas as bacias de formação de ciclones tropicais. No entanto, os cientistas observaram que a área em que esse aumento na quantidade de ciclones tropicais intensos foi mais evidente é no Atlântico Norte.
Entretanto, é preciso ressaltar que há outros fatores que podem responder por essa variabilidade encontrada no estudo e os autores fazem essa anotação. Atividade vulcânica e variações nas correntes oceânicas também podem explicar essa variabilidade. No entanto, as evidências tem cada vez mais mostrado que a ação humana tem papel preponderante.
Muitos estudos tem apontado como grandes desastres meteorológicos tem se tornado comuns. Isso tem relação com as mudanças climáticas, mudança de uso do solo, crescimento desordenado das áreas urbanas (com impermeabilização do solo), etc. Os estudos de maior impacto são agregados periodicamente nos relatórios do IPCC. É muito provável que o estudo que mencionei ao longo do post seja citado no próximo relatório.
Referências (além das indicadas ao longo do texto) e Bibliografia Complementar
- O texto que escrevi é o roteiro que utilizei para gravar o Spin de Notícias #942. Se você gosta de acompanhar podcasts diariamente, acompanhe o Spin de Notícias!
- Para saber mais sobre ciclones tropicais e seus estágios de desenvolvimento, recomendo: Como se formam os furacões?
- Episódio #384 do SciCast em que falamos sobre ciclones. Eu tive a honra de colaborar com a pauta e com a gravação, ao lado de uma equipe incrível.
- Se você chegou até aqui e ainda tem a seguinte dúvida: ok, mas o que é um tornado? Leia este texto e você vai aprender que tornado é um fenômeno completamente diferente de ciclone tropical.
- Sobre Aquecimento Global: O famoso gráfico de temperaturas que viralizou há algum tempo.
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