
Eu enfrento alguns desafios na minha rotina, desafios particulares a minha existência mas que talvez algumas de minhas leitoras (e leitores) se identifiquem.
Moro numa cidade onde não tenho familiares. Estou aqui há pouco tempo e ainda não tenho contatos de confiança, pessoas com quem eu possa deixar meus filhos em um caso de emergência. Peço a Deus todos os dias para que tenha misericórdia de mim e não permita que eu fique doente.
Além de minha família estar distante, estamos vivendo essa pandemia o que torna assustadora a possibilidade de imaginar que meus pais ou meus sogros, pessoas idosas, precisem de deslocar até mim.
Meu marido trabalha demais. Ele é novo em seu departamento, tem muitos projetos e exigências a serem cumpridas. Além disso, ele precisa preparar suas aulas, muitas vezes do zero, já que ele nunca lecionou aquele conteúdo antes.
Sendo assim, boa parte do serviço doméstico e das dos cuidados com as crianças ficam sob minha responsabilidade. Eu me sinto esgotada, já contei pra vocês em várias ocasiões que além de tudo isso eu também sou professora das crianças, já que com a pandemia a escola está fechada e há apenas as atividades remotas, as quais preciso acompanhar e complementar.
Eu vejo esses perfis padrão de influencers do nicho stay-at-home moms norte- americanas e por lá a prática do homeschooling é legalmente aceita e muitas delas ensinam seus filhos em casa (mesmo antes da pandemia). E elas mostram lares impecáveis, cabelos com luzes imaculadas, crianças limpas e com roupas descoladas. E elas não tem apenas um ou dois filhos não: são famílias numerosas, muitas vezes com 5 filhos ou mais.
Eu dou risada disso tudo, mas eu já fui severamente influenciada por isso a ponto de me sentir inadequada ou insuficiente. Porém de uns tempos pra cá eu tenho dado risada da nossa credulidade. A primeira coisa que precisamos considerar é que as pessoas editam suas vidas para que fiquem bonitas nas redes sociais. Vamos pensar no Instagram, uma rede social que segundo estudos, afeta a saúde mental. No Instagram, as pessoas costumam compartilhar fotos estupendas, com iluminação perfeita e no melhor momento. Aquelas imagens nos seduzem e talvez muitas de nós não conseguem pensar que para aquele clique ser alcançado, várias fotos precisaram ser tiradas. Em muitos casos, aquilo tudo é ensaiado, milimetricamente pensado para agradar: não são momentos de verdade, espontâneos. Além disso, mesmo que toda aquela perfeição seja verdade, você não é aquela pessoa. Eu não posso me comparar com quem tem uma ampla rede de apoio: pais, sogra, irmã, amiga, empregados, etc. Eu não tenho nada disso e com o pouco que tenho, sei que estou sendo maravilhosa.
Durante a pandemia, muitas mães estão se cobrando porque não conseguem ler, não conseguem escrever (eu não consigo nem gravar um podcast, acabei de fazer isso com meu filho mais novo no colo e eu pedindo para ele ficar quietinho), não conseguem fazer cursos, não conseguem trabalhar satisfatoriamente, etc. É óbvio que a gente precisa cobrar a presença masculina (aqui falo do que conheço pois vivo um relacionamento heterossexual). Precisamos cobrar que eles participem ativamente conosco para que as tarefas sejam divididas e haja menos sobrecarga. Mas quando eu falo de nós, de cada mulher que lê esse post, eu peço para que a sejamos mais gentil conosco. Fala-se muito em espalhar a gentileza para os outros e temos mesmo que fazer isso, mas temos que ter um olhar de gentileza para nós mesmas. Cada uma faz o melhor que pode com aquilo que tem naquele momento.
Imagem de abertura do post: Pixabay
Radar Meteorópole
- Para que voar dentro de um furacão? – episódio do Spin de Notícias #1006 em que falei sobre as informações que os cientistas conseguem extrair quando voam dentro de um furacão. Sim, tem maluco que faz isso! Mas é com cuidado, treinamento e por uma boa causa.
- Quanto vale o que não pode ser medido em cifrões? – desabafo triste e que proporciona uma excelente reflexão. Lamento demais pelo o que a Carla está passando com essa obra do vizinho, que prejudicou vários de seus projetos.
- Quando a saúde se tornou opinião? – excelente texto lá do Portal Deviante.
Você não está sozinha.
https://youtu.be/qBh-oGm3i-U
Não sou eu no vídeo, mas sou assisto sempre, ou quase 8) , os vídeos do TED e TEDx.
Do chaaaato
Nemo
Gosto muito da Ruth Manus, obrigada! O vídeo é excelente.