Uma das coisas que tornam escrever uma arte, na minha opinião, é que nem sempre você está inspirada. E aqui me refiro a escrita criativa de todo tipo e até mesmo escrita científica, que não deixa de ser uma escrita criativa também, já que é necessário saber expressar suas ideias de modo a ser o mais precisa possível. Quando falo escrita científica, me refiro a monografias, dissertações, teses, artigos científicos, artigos de divulgação científica, etc. Você está criando quando está escrevendo essas coisas, por mais que faça uma revisão bibliográfica, está criando seu próprio texto, sua própria comunicação.
Quando você precisa escrever um relatório padronizado, basta substituir figuras e informações. Quero dizer, não há um esforço criativo nesse trabalho, embora evidentemente deva ser feito com primor. Fazer um relatório de uma aula de laboratório, embora trabalhoso, não exige sua inspiração (pelo menos é assim para mim).
Eu estava escrevendo uma pauta para o SciCast e notei que empaquei feio. Isso acontece em posts daqui do blog também, estou com alguns pela metade, inclusive. No caso da pauta que mencionei, eu domino o tema (domino mais que a média, claro que há sempre o que aprender) mas simplesmente não conseguia sair do lugar. Poxa vida, que sensação horrível! E o pior, eu tinha prazo para entregar, prazo esse que já foi generosamente estendido pela amiga responsável pela abertura de pautas.
Acredito que nesse caso o cansaço tem me afetado bastante. Eu alterno minhas tarefas do dia entre coisas mecânicas e rotineiras (arrumação básica da casa e cuidados básicos com as crianças) e coisas mais complexas e que exigem maior olhar (brincadeiras com as crianças, ensino, dedicação, carinho, etc). Tudo isso me provoca um imenso desgaste físico e mental. Chega no fim do dia eu já nem sei meu nome, como vou saber o que é um núcleo de condensação ou um Cumulus mediocris radiatus virga? Não sei de mais nada.

Eu juro que tem dias que penso que eu poderia deixar qualquer tipo de trabalho particular (só meu) para lá e me dedicar apenas às coisas da casa e das crianças. Juro para vocês que há dias da minha vida que eu gostaria de fazer apenas essas coisas que preciso fazer mesmo. Eu entendo porque há mulheres robotizadas, muitas ficam tão cansadas e se sentem tão pressionadas que mal conseguem dar carinho aos filhos. Quem não conhece mulheres frias, que só se preocupam com a impecabilidade da casa e com os olhares reprovadores? Elas ficam assim, meus queridos leitores, porque essa vida é louca e ela nos consome. Ela nos engole sem mastigar e somos digeridas vivos em suas entranhas. Você tem que correr muito pra evitar ser engolida e isso é extremamente cansativo. Eu preciso correr uma maratona para continuar viva e eu realmente preciso. Eu sei que se eu deixar de correr haverá um dia que não irei me perdoar. Se eu não fizer minhas coisas (leitura, escrita, colagem etc) eu realmente não sei se conseguiria recarregar minhas baterias e ser uma boa mãe, algo que é essencial para mim. Há quem precise correr, se exercitar bastante, etc. Eu preciso disso também, gosto de me mexer. Mas eu preciso escrever, preciso pensar, recortar e colar, argumentar, discutir, etc. Isso está dentro de mim, é como algo que impulsiona uma seiva que sobe pelo meu corpo e permite que meus galhos e folhas sejam alimentados.
Radar Meteorópole
- Abuela Grillo: uma animação sensível e delicada feita por artistas bolivianos e europeus. Nos ensina sobre a importância da água. Eu fiquei com raiva, senti tristeza, senti esperança, tudo misturado. A música é encantadora e muito doce. Lindo.
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