
Como muitas mulheres, me ensinaram que eu deveria ser boazinha. Sorrir, ser simpática, disposta, essas coisas. Porque é assim que devem ser as tais mulheres de Deus, me disseram.
Eu fui enganada e manipulada várias vezes quando era mais jovem, porque eu fui boazinha e acreditei demais. Foram muitas as vezes que tive prejuízo financeiro, perdi tempo, energia e saúde porque eu tinha que pensar no outro primeiro.
Teve um dia nessa semana que uma pessoa fez um simples pedido sem noção, que se ela estivesse no meu lugar diria não sem nem pensar. Por que essa pessoa achou que eu diria sim? Acho que tenho cara de boazinha. Mas então eu disse não e ainda e senti culpada por isso! Depois a culpa passou e eu me senti muito bem. A única autocrítica nessa situação é que eu quis me explicar e eu não tinha a menor necessidade. Nota mental: parar de se explicar.
Esse acontecimento me fez pensar que se eu continuar nessa estrada da mulher boazinha meus filhos também vão se aproveitar disso. E claro, as outras pessoas continuarão manipulando. Aprender a dizer não é um longo caminho, se você foi criada como eu. Mas nunca é tarde para aprender.
Vejam, eu não quero ser o oposto de boa. Não quero ser uma pessoa cruel e sem empatia, não se trata disso. Eu só quero ser uma pessoa justa. Justa comigo e justa com os outros. Até porque isso de ser boazinha nem é bondade de verdade. A bondade é um fruto do espírito bem mais elaborado do que simplesmente sorrir e não saber dizer não. Bondade de verdade tem a ver com justiça, sabedoria e equilíbrio.
Dizem que a gente tem que sorrir e isso meio que tem a ver com ser boazinha. Pois bem, eu estive conversando com uma amiga sobre essas coisas e ela lembrou da história de uma celebridade famosa conhecida por nunca ser vista sorrindo. A história por trás desse fato seria que essa celebridade costumava sorrir no passado, mas passou por uma situação envolvendo um stalker. A tal celebridade então teria passado por algum tipo de tratamento psicológico após essa situação horrível e parece que deicidiu que não iria mais sorrir para não facilitar a aproximação das pessoas.
Durante essa conversa com minha amiga, lembrei de uma história de outra amiga. Essa outra amiga é muito simpática e brincalhona, sempre diverte as pessoas próximas. Eu a conheço há uns 15 anos então pudemos participar e testemunhar as nossas mudanças de vida. Nos tempos de faculdade, essa amiga simpática num belo dia estava tomando um lanche na única mesa livre. Ela viu um rapaz em pé e todo desajeitado e resolveu oferecer o lugar vazio na pequena mesa para que ele se sentasse também. Ele se sentou. E depois desse dia passou semanas perseguindo minha amiga. Ela teve que arrumar uma aliança de compromisso falsa para que o rapaz desistisse de persegui-la. Ou seja, ele parou de persegui-la não porque ela pediu, mas sim por respeito a um outro homem.
Essa segunda amiga mudou bastante nos últimos 15 anos. Continua simpática e alegre com os amigos próximos, mas percebo um semblante mais pesado, uma armadura, quando o ambiente é do tipo terra incongnita.
Eu também desenvolvi essa armadura. Moro atualmente numa cidade pequena. Todos são simpáticos, dão bom dia, puxam conversa, esse tipo de coisa. Eu só respondo o cumprimento de senhoras e de mulheres em geral. Só respondo homens se vejo que se trata de um casal idoso e ainda assim evito sorrir. Eu estou aprendendo a sorrir menos, como a segunda amiga que citei e como a celebridade que mencionei. Foi um processo longo. Em meu último emprego, onde trabalhei por 10 anos, acho que nunca dei um beijo no rosto dos meus colegas homens e eu já fui do tipo de dar beijinho em colega. Eu parei. Mas eu ainda sorria bastante, agora estou parando.
Os homens não merecem nosso sorriso. Não merecem nossa boa vontade. Meu Deus, eu já fiz tanta coisa por homens e mulheres (principalmente homens!) que não mereciam, coisas que tomaram recursos, tempo, energia, paciência, sono, etc. Não ter sido reconhecida, ter sido desrespeitada e ter tido minhas atitudes de bondade e gentileza confundidas com interesse sexual foram situações que me destruíram, como destroem tantas mulheres diariamente.
Quando você ver uma mulher carrancuda, não a julgue. Não diga que ela é mal amada. A gente não sorri mais porque o mundo nos destruiu.
“Os homens não merecem nosso sorriso”. À luz da razão leia isso que escreveu novamente e veja o quanto o feminismo é tóxico.
Seu comentário apenas comprova o ponto que apresentei no texto.