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Olhando para o céu em busca de respostas

03/12/2020 By Samantha 2 Comments

Nuvens Cumulus em um céu azul.
Cortesia de Stock Unlimited

Quando eu era criança, lá pelos meus 6 anos, eu adorava deitar no capô da Brasília do meu pai e ficar olhando para o céu. Eu fechava os olhos com força e depois ia abrindo devagarzinho. Havia alguma coisa na alteração lenta da entrada de luz nos meus olhos que eu gostava. Hoje eu sei que eram as minhas pupilas, que ficavam bem grandes (olhos fechados) e depois pequenas (olhos abertos).

Eu olhava para as nuvens e imaginava figuras variadas dependendo do formato delas. Lembro que eu gostava quando o céu estava uns 30% encoberto, porque desse modo é possível ver as nuvens e elas também podem cobrir o disco solar ocasionalmente. Isso é bom, é gostoso sentir a pequena mudança de temperatura que isso provoca. Deitada ali eu imaginava como aquelas nuvens eram de perto, como elas poderiam estar ali no alto, do que elas eram feitas, etc. E eu me deixava envolver pelos sons e cheiros que me eram familiares. Aquilo era contentamento: o prazer da indagação e da curiosidade e o prazer das sensações agradáveis, proporcionados por um ambiente que eu considerava seguro.

Boa parte da minha família é crente e eu frequentei muitas igrejas protestantes ao longo da minha infância, adolescência e vida adulta. Era uma maneira de me sentir aceita pela minha avó e pelos meus tios. Eles pareciam me amar mais se eu frequentasse a igreja e para uma criança como eu, de uma família numerosa e unida, essa aprovação por parte da família estendida é bem importante. Era como se dessa forma eu pudesse fazer parte daquela unidade, com todo mundo cantando louvores enquanto um dos tios tocava violão.

Com o tempo foi mais do que a necessidade de ser aceita pela família. Eu buscava respostas e surgiu o medo. Eu olhava para o céu e buscava respostas diferentes das respostas que eu procurava quando era uma garotinha pequena deitada no capô da Brasília. Houve um dia em que uma tia teve uma conversa comigo, eu devia ser pré-adolescente. Ela falou sobre o fim do mundo, sobre a volta de Jesus, sobre quem iria ficar e sofrer, etc. Eu lembro que senti muito medo. Temi pela vida do meu pai, que não é evangélico. Foi uma conversa muito pesada para mim e que eu tomei como uma verdade absoluta por muitos anos. Essa conversa e tantas outras semelhantes que a sucederam, palestras de tantos outros adultos, me fizeram sentir um medo que paralizou minha vida em muitos sentidos. Nenhum desses adultos me ouviu sobre meus medos ou deixou claro que aquela era a opinião cristã e que haviam outras maneiras de pensar. Para dizer a verdade, poucos adultos me ouviram ao longo da minha infância e adolescência, pois para eles eu tinha apenas que ouvir e seguir o que diziam, não podia questionar ou dar sugestões. Apenas me diziam que as coisas eram daquele jeito, gravadas em pedra, que Jesus voltaria a qualquer momento e que eu poderia ser pega desprevenida e então padecer no inferno.

Eu realmente acredito que precisamos de freios morais. Não vou discutir isso aqui, já que não sou muito versada em Filosofia. Eu não queria roubar um carro ou matar pessoas, já que eu fui criada em um ambiente muito seguro de amor e acolhimento e dificilmente eu me tornaria uma criminosa. Eu também me sinto super mal quando meu cérebro me acusa justamente sobre algo que fiz errado, sobre ter perdido a paciência ou tratado alguém de maneira grosseira. Costumo pedir perdão, tentar melhorar, essas coisas todas que pessoas razoáveis procuram fazer.

Quando adolescente, eu só queria me apaixonar, queria jogar RPG, queria rir de uma piada besta, queria dançar numa balada. Eu só queria viver e não pude fazer isso na plenitude porque a todo momento eu ouvia uma voz massacrante dentro da minha cabeça que dizia que eu iria para o inferno. Eu fiz todas essas coisas: joguei RPG, ri e me apaixonei. Mas eu fiz isso tudo afogada em muita culpa, sem saber manejar bem meus sentimentos e sem ter responsabilidade sobre os sentimentos das outras pessoas durante todo o processo. Ser da igreja me transformou numa pessoa odiosa, numa péssima amiga, numa hipócrita, numa pessoa egoísta e soberba, tomada por uma pretensão de salvação de ser a única com as respostas corretas. O medo de ir para o inferno por coisas idiotas (beijar um menino) era maior do que a grandiosidade da salvação dada por Jesus, uma grandiosidade que nos torna pequenos e cheios do Espírito, que nos permite caminhar num caminho de misericórdia e paz. Esse amor que nos torna boas pessoas, bons amigos prontos para acolher e animar.

Claro, essas coisas faziam com que frequentementeeu me sentisse muito culpada. Passaram os anos e eu fui conhecendo algumas pessoas muito boas pelo caminho. Algumas se tornaram amigas, outras passaram rapidamente pela minha vida, outras foram apenas palavras em livros ou textos de fóruns. Essas palavras com o passar de muitos anos foram me ajudando num processo longo de cura e entendimento. É curioso que boa parte desse processo ocorreu enquanto eu cursava Bacharelado e Mestrado em Meteorologia. Ou seja, eu olhava para o céu buscando respostas. Eu sentia o ambiente, vivia ao lado das pessoas. Ambiente diferente, pessoas diferentes. Eu comecei a me reconectar com aquela menina curiosa e vivaz que ficou para trás e foi aprisionada por dogmas religiosos transmitidos por pessoas com horizonte limitado.

Quando eu olhei para o céu eu obtive respostas. Quando olhei para o conhecimento, obtive respostas. E as respostas eram muito fáceis de encontrar – o que não quer dizer que elas sejam simples. Eu tinha que olhar para a diversidade que me cercava. Quando eu era criança eu não tinha noção do que era essa diversidade, já que eu basicamente convivia com pessoas com o mesmo pensamento. Quando eu pude apreciar isso, eu pude viver. Eu quase descobri isso quando eu era criança, estava perto disso. Sabe quando Isaac Newton quase descobriu as franjas escuras entre as cores no espectro de cores? Por pouco ele descobriria, mas isso foi mérito de Fraunhofer somente algum tempo depois. Eu estava quase lá, quase descobrindo esse segredo que me traria enorme contentamento. Mas infelizmente fui impedida de conseguir isso.

Há alguns anos conversava com um rapaz que dizia que ter sido de uma igreja evangélica só atrapalhou a vida dele, já que ele poderia ter evoluído muito mais, e a conversa era sobre evolução em termos de “obter mais conhecimento” ou “ter a mente mais receptiva para o conhecimento”. Acredito que em parte ele tenha razão. Mais do que a questão religiosa, ao menos no meu caso, é que infelizmente enquanto criança eu não tive a oportunidade de conviver com pessoas diferentes (com religiões e opiniões diferentes) e não tive a oportunidade de conhecer pessoas estudadas, que gostassem de ler, que falassem sobre coisas que não fosse Bíblia, igreja, fofocas de parentes, etc. Hoje, até por conta do Teolabcast, eu conheci muitos cristãos com pensamento mais progressista e com uma vida bastante interessante que ultrapassa os muros da igreja. Naquele tempo de menina eu não conhecia quase ninguém assim, quer dizer, crentes progressistas, crente que bebe vinho, crente que só tenta ser uma pessoa legal a cada dia e que as vezes, como qualquer ser humano, desliza porém levanta e tenta ser alguém melhor, sem hipocrisia e nem nada. Eu não conhecia pessoas assim.

Lembro que quando criança eu conheci alguns amigos e colegas de trabalho de meu pai e ficava encantada com as conversas deles, porque eram completamente diferentes daquilo que eu via nos ambientes que envolviam igreja e pessoas religiosas. Eram assuntos diferentes. Alguns falavam sobre filmes ou livros. Outros falavam coisas engraçadas ou piadinhas talvez (provavelmente) muito ruins, mas que eram assuntos diferentes.

Vejam, eu não concordo quando pessoas meramente preconceituosas simplesmente dizem que evangélicos são ignorantes. Muitos falam isso de maneira acusatória ou tem enorme mágoa com situações envolvendo evangélicos ou simplesmente resumem todos os evangélicos a um estereótipo que tem relação com preconceito de classe. Ou seja, muitos mascaram seu preconceito de classe com o preconceito contra evangélicos.

É preciso pontuar também que no meio evangélico, em muitas igrejas, há sim um pensamento anti-intelectual. Não é incomum saber de pastores que falam mal de Universidades sempre evocando a questão das festas e supostas imoralidades. Alguns pastores também criticam o que eles chamam de “ciência dos homens” (mas quando tem dor de garganta tá no hospital tomando Benzetacil) e dizem que se ir para a Universidade de alguma maneira atrapalhar no seu ministério, então melhor não ir. Ué, ter estudo e contribuir com a sociedade a partir do seu saber não é um ministério? Mas enfim, só posso concluir que esse tipo de pastor não quer ovelhas pensantes que possam questionar sua autoridade.

Demorou muitos anos para que eu pudesse resgatar de dentro de mim aquela garotinha que observava a natureza com paixão e sem medos. Ainda é um processo, essa garotinha é um pouco assustada as vezes e lhe falta auto-confiança. Mas hoje eu consigo falar sobre isso com meus amigos, consigo escrever sobre isso aqui no blog, no Teolabcast, nas redes sociais, etc. E a troca de experiências é incrível, já que há uma identificação muito interessante.

Para finalizar, confesso que faz mais de uma semana que venho trabalhando nesse texto. Quando a gente publica algo nas redes sociais, está sujeita a receber leitores variados. Nem todos vão entender o que você quer dizer e não é necessariamente culpa do leitor, muitas vezes a autora falha em transmitir a mensagem adequadamente. Outra coisa que temi é que algum parente meu poderia chegar até a aqui e por alguns dias fiquei preocupada em mais uma vez causar mau estar, como já causei outras vezes com opiniões minhas. Bem, hoje estou disposta a pagar esse preço, que é baratinho se formos avaliar. Eu reli e não estou falando mal de ninguém, não citei nomes e estou apenas divindo com meus leitores sobre como certas coisas me afetaram. E os ganhos são muito maiores, porque desejo que você, que se indentificou com esse texto, também salve a criança que mora dentro de você.

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  • Já que indiretamente falei sobre pareidolia no post, então leiam esse post onde falo sobre ver figuras e formas nas nuvens.
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  • Eu escrevi sobre a lista emergencial de nomes de furacões usada em 2020 (as letras gregas) em um post no Portal Deviante. Confiram e entendam a temporada de furacões de 2020, que foi um grande recorde em total de tempestades nomeadas.

Imagem de abertura do post: nuvens Cumulus (Cu) em um céu bem azul. Via Stock Unlimited. É o tipo de nuvem fofinha que nos faz pensar em ovelhinhas. Seja uma ovelha relbelde, seja como a ovelha dessa história. E se quiser ler sobre classificação de nuvens, leia por exemplo esse post.

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Filed Under: Blog, Crônicas, Escrever, Nuvens Tagged With: espiritualidade, nuvens, reflexões, religião

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Comments

  1. Vinicius says

    03/12/2020 at 11:19 pm

    O título não podia ser melhor para o texto, ainda mais pra quem é da Meteorologia. Ele me fez lembrar sobre as discussões em que vivemos em bolhas por causa dos algoritmos de redes sociais. Parecia que a comunicação na internet viria aproximar pessoas, mas ainda existe um desafio de encontrar pessoas com pesamentos diferentes e tentar aproveitar melhor isso, sabendo conviver bem.
    Logo que fiquei sabendo do monolito já escrevi o post rsrsrs to acompanhando as notícias até descobrir de onde veio e vou atualizando no final do texto. Muito boa a dica do post sobre pão de queijo também, muito elucidativo. Parabéns pelo post e pelo spin sobre furacões, estava com a dúvida sobre a questão dos nomes.

  2. Samantha says

    08/12/2020 at 5:42 am

    Olá Vinícius
    Pois é, acho que se comunicar com tanta gente (e com tanta gente diferente de nós) ainda é um enorme desafio. A polarização está nos sufocando.
    Esse post sobre pão de queijo é muito fera, o blog inteiro da Carla merece leitura. Muito elucidativo, informativo e gostoso. É como conversar com aquela vizinha gente boa.

    Obrigada pela visita 🙂

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