Eu estava caminhando com meus filhos e nós descobrimos coisas incríveis. Descobrimos, mais uma vez, que a vida encontra um jeito, como disse o Dr. Ian Malcolm.

A primeira coisinha incrível que a gente viu foi esse arbusto de carrapicho (Bidens pilosa). Ele estava cheinho de abelhas que se deliciavam com as florzinhas. O local é um ponto comercial fechado e parece que reformaram por dentro, portanto muito provavelmente vão cortar essas plantinhas.

Tempos atrás indiquei um post da Lorena em que ela falava sobre o desaparecimento dos insetos (leia aqui). Há artigos científicos que descrevem observações sobre a redução da quantidade de insetos em diversas partes do mundo. Conforme pontuou a Lorena:
“As causas desse fenômeno ainda não são totalmente conhecidas, apesar dos cientistas discutirem que o aquecimento global, a perda de habitats para a agricultura e o uso indiscriminado de agrotóxicos são alguns dos motivos mais prováveis. O caso do declínio das populações de abelha talvez seja o exemplo mais conhecido pela importância econômica desses insetos na polinização de espécies vegetais usadas na alimentação humana. Mas outros himenópteros, além de borboletas, mariposas, besouros (entre eles vagalumes, joaninhas e escaravelhos) e as principais ordens de insetos aquáticos (como as libélulas) estão entre os grupos em que foram documentadas maiores perdas populacionais, entre o final do século passado e o início deste. “
Lorena, em seu blog Das Minúncias
As causas dos desaparecimentos dos insetos parecem ser várias, algumas mais impactantes que as outras. A agricultura (e o uso indiscriminado de agrotóxicos) e o aquecimento global parecem ser as principais causas em nível macro, mas aqui quero falar de uma causa em nível micro que acontece em muitas cidades: os matos são todos cortados, sem dó. Quando falo matos, uso o termo de propósito. Quando falam em mato, falam de plantas indesejáveis que são consideradas feias ou aparentemente não oferecem nenhuma vantagem econômica, porque tudo tem que servir aos interesses do dinheiro. E olha que Bidens pilosa é PANC e o chá de suas folhas tem propriedades terapeuticas, mas infelizmente esse saber é perdido ou ignorado.
Esse pequeno arbusto de carrapichos que consegui fotografar é um local cheio de vida, mas que provavelmente será eliminado porque é considerado feio. É possível que plantem no lugar uma espécie considerada ornamental, que talvez nem atraia as abelhas da mesma forma. Ou talvez seja cimentado. Quando olho para a cidade onde moro, vejo com certa tristeza que o modelo de desenvolvimento copia o das cidades maiores, onde a impermeabilização dos solos acaba sendo a norma. Muitas casas não possuem mais área com terra, pois quando reformam mandam cimentar tudo. Como disse Fernanda Young em um de seus últimos textos:
O cafona manda cimentar o quintal e ladrilhar o jardim.
Fernanda Young
Quando consigo prever esses padrões eu fico desapontada porque sei que é uma previsão acertada, cansei de ver isso se repetindo. Ter terra em casa é por muitos considerado feio, a não ser que você possa pagar uma empresa de jardinagem e paisagismo que possa deixar tudo de uma maneira organizada e “chic”. Não estou dizendo que a gente tem que deixar o mato crescer e encher de mamoneira, mas creio que é possível encontrar um meio termo e fazer algo diferente e ambientalmente saudável.
No mesmo passeio com meus filhos, encontrei bredo ou caruru (Amaranthus deflexus), cujos ramos foliares podem ser consumidos refogados, em forma de suflê, em sopas, etc. Ele nasceu numa fenda na calçada, num local ignorando pela maioria das pessoas. Colhi um pouco para tentar plantar em casa (como pretendo fazer com a tansagem) e fico um pouco triste pela minha casa não ter áreas de terra, mas vou fazer alguns testes em vasos grandes.

Eu leio muito sobre PANC e eu acredito que elas podem ajudar a revolucionar a maneira que nos alimentamos e nossa relação com o ambiente. Elas podem proporcionar novas fontes de nutrientes, novos sabores e o entendimento de que existem vários matos de comer e que muitos podem estar nascendo naquele cantinho da sarjeta, o que significa que o olhar para o nosso entorno deve ser modificado.
Radar Meteorópole
- Esse link da UNESP descrevendo algumas plantas medicinais do Cerrado.
- Resenha de A Máquina do Tempo, de H.G. Wells
- Esse livro Plantas Medicinais do Brasil – Nativas e Exóticas. Maravilhoso.
- Esse texto que fala da importância da divulgação científica para idosos
- Mas eu falei, falei, falei e falei sobre Meteorologia (uma visão geral) no podcast Um Tanto Sobre. Ouça aqui. Obrigada pelo convite, Matheus!
Oi Samantha,
Olha só como são as coisas, eu estou tentando escrever um texto que fala sobre muitas das coisas que você tá abordando nesse seu! Ainda não consegui pari-lo, minha semana tá meio cheia (última semana de trabalho) e eu preciso de um pouco de paz de espírito pra conseguir desenvolver o raciocínio. Mas te ler me deu um gás pra continuar, pra que a gente possa conversar sobre esses assuntos por meio dos nossos textos, como você tem feito quando traz meus textos pra cá. E eu adoro, me sinto muito grata de figurar aqui no seu site! Muito obrigada por me dar voz.
No mais, eu também tenho tentado ter uma relação mais próxima com todos esses matos do jardim do meu prédio, mas é difícil quando os outros usuários do espaço e moradores do prédio não tem o mesmo pensamento que a gente. Estou sempre sendo surpreendida com as plantas sumindo ou sendo depredadas. Sigo tentando cuidar dele como dá, trazendo também sementes da rua como você faz e pesquisando sobre o que aparece e eu ainda não conheço. Eles arrancam e eu tento trazer de novo, e vamos assim num estica-e-puxa dos matinhos do jardim.
Adoro que você fale sobre esse assunto, me sinto muito próxima mesmo por gostar das mesmas coisas que você. 🙂
Um beijo!
Que comentário mais gostoso!
E não seria uma forma de protesto, trazer de novo logo após eles arrancarem? Eu considero dessa forma sim. Mas tem dias que dá muito desânimo, principalmente quando você é considerada “a maluca da vila” ou coisa assim rsrs.
Um grande beijo e desejo muita inspiração para esse texto 🙂