
Há alguns meses, eu estave caminhando com meus filhos e vimos uma plantinha ornamental na frente de um pequeno prédio. Fui pesquisar e descobri que se tratava da Duranta erecta e que a planta é bastante utilizada para fins ornamentais.
A imagem que encontrei para ilustrar meu post é desse link da Unirio. Uma imagem linda, onde podemos observar os cachos com os frutos alaranjados brilhantes (não comestíveis) e as lindas florzinhas roxas. A planta, que é nativa do México, atrai insetos polinizadores.
Um dos nomes populares da Duranta erecta aqui no Brasil é brinco-de-oxum. E foi esse fato que me fez querer escrever esse post (além de uma rápida conversa com a Lorena, pelo Twitter). Na conversa, uma observação sobre ebós me fez pensar sobre coexistência e tolerância religiosa. É comum vermos por aí oferendas belamente adornadas elaboradas por diversos motivos. É o sagrado do outro e tem tanto valor quanto a minha oração, só que eu demorei muitos anos para entender isso e então respeitar o sagrado do outro. E pensar sobre essa planta também me fez refletir mais uma vez sobre essa questão das religiosidades.
Aqui temos uma planta cujo nome popular faz uma referência a Oxum. Bom, se você fala isso para um fanático religioso cristão, é capaz de ele sugerir a eliminação da planta. Eu consigo imaginar uma situação em que um brinco-de-oxum está plantado em um jardim ou praça pública. Ao descobrir que a planta tem um nome popular que faz referência a um orixá, o fanático pode muito bem sugerir que a planta seja removida. E se nessa praça tiver acontecido um crime ou acidente, não duvido que uma relação completamente sem sentido seja feita. A espada-de-são-jorge (Dracaena trifasciata) é um clássico exemplo de planta que já vi sendo demonizada por fanáticos. Uma vez uma pessoa me disse que precisava cortar as plantas que nasceram em grande quantidade em seu quintal para que “os vizinhos não pensem que ele é macumbeiro”.
Praticantes de religiões afro-brasileiras são muito ligados à natureza. Uma amiga recentemente me contou sobre a relação dos orixás com elementos da natureza. Comentei em um post recente sobre um terreiro que ficava próximo à casa de meus pais e sobre como esse terreiro se destacava no bairro por ter um quintal grande e com muitas plantas. Com os anos aprendi a admirar essa característica, entendendo que a impermeabilização dos solos é prejudicial ao ambiente, pois muitos motivos: escoamento da água da chuva, perda da biodiversidade, alterações no microclima, etc.
Por um mundo em que nenhuma planta seja demonizada por estar associada a alguma prática religiosa. Por um mundo onde as áreas verdes e as pessoas, com suas diferentes manifestações de fé, sejam respeitadas. Eu desejo muita coisa para 2021, mas eu gostaria principalmente que o respeito ao outro fosse reforçado em todas as nossas práticas diárias.
Radar Meteorópole
- Episódio novo de Teolabcast onde falamos sobre Natal e um monte de coisa aleatória. Está imperdível, foi muito gostoso de gravar.
- Resenha feita por mim de Stephen Hawking – histórias de Física e de uma amizade, livro de Leonard Mlodinow. Excelente livro, recomendo bastante.
- Texto sobre a origem dos pterossauros, escrito pelo Júlio Marsola ná no Portal Deviante.
- 52 livros para 2021, dica da Sybylla para você que ainda não montou nenhum tipo de objetivo de leitura para o novo ano. Crie metas realistas, não tente “competir para ver quem lê mais livros”. O importante é ler e aproveitar a leitura.
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