Na série que tenho feito sobre cada um dos gêneros de nuvens, eu tenho tratado dos gêneros e das espécies. Quando falei recentemente sobre a nuvem Cumulonimbus no contexto dessa série, falei também de algumas características suplementares famosas (mamma, incus e arcus). Só que eu esqueci de falar de uma característica suplementar bastante perguntada: tuba.
Mas não tem problema ter esquecido! Até porque a série foca mais nos gêneros e nas espécies. Ocorre que ontem (dia 12/02/2021) surgiu uma notícia sobre a observação de uma Cumulonimbus tuba lá em Camaquã, no Rio Grande do Sul. E essa notícia é ideal para falarmos de Cumulonimbus tuba! Abaixo, o registro feito por um morador da cidade:

Observando a foto acima você provavelmente já imagina que quem fez esse registro pode ter sentido um pouco de medo. A nuvem Cumulonimbus tuba é a nuvem precursora de um tornado. Ela pode se formar e não ter força suficiente para iniciar a rotação e tocar o solo e ela pode ter relação com funis de ar frio (falaremos a diante), mas só observá-la já garante um certo medinho. A nuvem Cumulonimbus tuba é popularmente chamada de nuvem funil (em inglês, funnel cloud). Sempre gosto de colocar os termos em inglês entre parênteses porque há muito mais material nesse idioma e sei que muita gente que chega até aqui gosta de pesquisar outras imagens depois.
Uma nuvem funil normalmente desenvolve-se a partir da base de uma nuvem cumuliforme (Cumulus congestus ou Cumulonimbus). Como eu disse, podem ter a precursora do desenvolvimento de um tornado que subsequentemente atinge o solo, mas também podem estar associada aos chamados funis de ar frio que são bem mais tranquilos que os tornados.
Os funis de ar frio, surgem de vórtices convectivos e de cisalhamento bem localizados e não estão associados a mesociclones de escala maior, como os tornados estão. Geralmente os funis de ar frio não atingem o solo, mas quando o fazem (como tornados), são muito menos violentos do que os tornados associados à mesociclones.
No caso do episódio de Camaquã em 12/02/2021, penso que devido as condições em mesoescala e escala sinótica, já havia condições para se formarem muitas áreas de instabilidade. Então essa nuvem funil poderia evoluir para um tornado, se houvesse energia suficiente. Eu me baseio na análise sinótica e na previsão do CPTEC/INPE:
“Nesta sexta-feira (12/02), o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que já pode ser visto na análise e que já instabiliza o tempo, manterá a instabilidade no centro-sul do país, onde haverá condição para temporais isolados. Os temporais, inclusive com eventual queda de granizo, deverão ocorrer principalmente na parte da tarde, devido ao aquecimento diurno, que potencializa o ambiente para a formação deste tipo de evento com maior condição para a faixa entre o oeste do PR, parte de SC e norte do RS.”
CPTEC/INPE
Para acessar a análise acima, basta procurar por 12/02/2021 nesse link do CPTEC/INPE. Acho bem ruim que eles não colocam a possibilidade de existir um link direto para cada uma das análises, fica a sugestão pro CPTEC.
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Pois bem, falar de Cumulonimbus tuba sem falar de Cumulonimbus murus me pareceu injusto. Sabe aquela nuvem de tempestade ameaçadora que parece “um paredão de nuvens descendo dos céus”. Bom, ela é mesmo um paredão de nuvens descendo dos céus e muitos chamam de “nuvem muro” ou “nuvem parede” (wall cloud). Cumulonimbus murus indicam uma área da nuvem com correntes ascendentes muito fortes e podem tornar-se nuvens Cumulonimbus tuba se houver rotação (vorticidade) suficiente.

Sendo assim, uma Cumuloninbus murus não necessariamente pode evoluir para uma Cumulonimbus tuba que não necessariamente vai evoluir para um tornado. Só que é uma nuvem de tempestade mesmo assim e isso significa que é importante buscar abrigo para evitar ser atingido por descargas elétricas.
Radar Meteorópole
Hoje quero indicar dois posts do Monolito Nimbus que tem tudo a ver com essa postagem:
- O Vinícius analisou as nuvens de uma cena do The Office. Se você gosta da série, corre lá pra ver.
- E ele também falou sobre chemtrails e contrails. Corre lá pra ler também, porque há muita desinformação e teorias da conspiração sobre contrails.
E eu também gostaria de indicar um projeto do curso de Geologia da Universidade Federal de Uberlândia. Trata-se do Pergunta de Pedra, projeto com o objetivo de divulgar Geologia (leia mais).
Parabéns pelos posts sobre a Cumulonimbus. Esses dias eu descobri o site What’s This Cloud e lá tem uns desenhos interessantes que ajudam a ilustrar as características suplementares da Cb: https://whatsthiscloud.com/cloud-types/cumulonimbus/ Pena que o perfil deles do Twitter não está postando mais nuvens classificadas (nem nada) desde o final de 2019 =/
Nossa, muito didático. As ilustrações são incríveis, eles arrasam.
Obrigada pela visita 🙂