Dentro da série de nuvens que comecei ano passado e devagarzinho estou atualizando com o objetivo de falar dos 10 gêneros de nuvens e suas variedades, hoje vou falar da nuvem Cumulonimbus.
A nuvem Cumulonimbus (Cb) já foi muito discutida aqui no blog e o motivo é bem simples: quando temos uma nuvem de tempestade, temos uma nuvem Cb. E quando digo tempestade, me refiro àquele evento de chuva intensa que pode ou não vir acompanhado de granizo e que apresenta descargas elétricas.
Nuvens Cb não são as únicas nuvens de chuva. Na verdade, quase todos os gêneros de nuvens podem apresentam precipitação visível mas que não chega ao solo porque as gotinhas são em pouca quantidade e muito pequenas e acabam evaporando no caminho da nuvem até o solo. Quando as nuvens tem essa peculiaridade, ela recebe um nome para designar essa característica suplementar: virga. Na tabela a seguir, temos que as nuvens que podem ter a característica suplementar virga são: Cumulus, Stratocumulus, Nimbostratus, Altostratus, Altocumulus, Cirrocumulus
No cotidiano de observações meteorológicas em uma estação meteorológica de superfície, descrever as nuvens usando apenas os 10 gêneros (primeiro nome) já é o suficiente. Os sobrenomes (espécies, variedades, características suplementares, etc) são mais para quem está estudando um tipo muito específico de nuvem ou para quem curte essa parte de classificação de nuvens de maneira mais minuciosa. Muitos fotógrafos de nuvens por exemplo gostam de saber exatamente o que fotografaram como parte do hobby.
Ocorre que uma nuvem com característica suplementar virga não tem precipitação que chega ao solo. E bem, isso não importa para a maioria das pessoas porque a chuva que é importante para as atividades das pessoas é aquela que a gente consegue medir com pluviômetros. Ah sim, a garoa (ou chuvisco) que é aquela chuvinha tão ralinha que não se consegue detectar quase nada nos pluviômetros (mas que incomoda!) normalmente é originária de nuvens Stratocumulus em dias bem nublados ou de nuvens Cb mesmo, naquela situação de fim de tempestade.
Outro tipo de nuvem que possui chuva que chega no solo é a nuvem Nimbostratus, normalmente associada ao ramo quente dos sistemas frontais (frente quente). Devido ao formato do sul América do Sul (triângulo que vai se afinando em direção ao sul), nós raramente experimentamos frentes quentes sobre o continente: elas ficam no oceano e as nuvens Nimbostratus são responsáveis por problemas de baixa visibilidade e chuvas intensas para quem navega ne região e para os moradores e pesquisadores nas ilhas do Atlântico. Bom, a gente fala sobre isso no post sobre Nimbostratus, porque a estrela desse post é o Cb.
Como identificar um Cb?
Se você ouviu trovões, viu raios, tem chuva forte (com granizo ou não), tem vento intenso: você com certeza está debaixo ou muito perto de um Cb. Se você conseguir avistar um Cb de longe, vai perceber uma nuvem muito densa e de grande extensão vertical. Na figura a seguir, é possível verificar que a nuvem Cb é aquela que possui maior extensão vertical (em grandes tempestades, possui extensão vertical de mais de 10km).
Essa questão da extensão vertical é tão importante que alguns autores chamam as nuvens Cb e Cumulus (Cu) de nuvens de desenvolvimento vertical. Cabe deixar claro que essa classificação não é a adotada pela Organização Meteorológica Mundial, onde, como na figura acima, nuvens Cb e Cu são nuvens baixas (assim como Stratus e Stratocumulus).
Nuvens Cb são tão extensas verticalmente que lembram torres no céu. Outra importante característica da nuvem Cb é o topo geralmente é bem liso e ela é toda rugosa em sua extensão vertical. Observe a figura acima: mesmo que ela seja uma ilustração, ela mostra essa questão do topo alisado e da extensão vertical rugosa, que é o que a gente vê em fotos, como abaixo:
A base de uma nuvem Cb – ou seja, o que a gente vê quando olha pra cima durante uma tempestade – é bem escura e frequentemente é uma base baixa (altura de menos de 2km). É uma base que parece “fiapenta” e meio “caótica”. Em alguns casos temos mamma, vamos falar disso depois.
Com relação às espécies, uma nuvem Cumulonimbus pode ser calvus ou capilatus.
Cumulonimbus calvus x Cumulonimbus capilatus
Como os nomes das espécies são antônimos, ficam mais fácil eu explicar as duas ao mesmo tempo.
O nome já sugere, Cumulonimbus calvus é uma nuvem… careca? E é mais ou menos isso. O topo da nuvem não possuem ‘fiapinhos’: esses fiapinhos seriam nuvens Cirrus (Ci) que se formaram devido aos ventos no topo da tropopausa. Esses ventos são intensos e desfiam o topo da nuvem, desmanchando uma porção da nuvem. Por outro lado, quando a nuvem possui esses fiapinhos (ou cabelinhos) temos uma Cumulonimbus capilatus.
Definir se é Cumulonimbus calvus ou Cumulonimbus capilatus vai depender da posição do observador. Muitas vezes, de um lado da tempestade a nuvem vai parecer calva e de outro lado, vai parecer cabeluda (eu estou rindo aqui hahahaha). Tem a ver com o jeito que a nuvem é penteada (ou seja, com a direção e intensidade do vento).
O segredo é olhar bem no topo da nuvem: observe acima, que na foto do Cb calvus, não há nenhum indício de fibras desfiadas no topo do Cb. Por outro lado, na foto do Cb capilatus podemos ver um aspecto de desfiado no topo.
Em uma foto anterior eu mostrei uma Cumulonimbus capilatus incus. O que seria esse incus? Bom, eu vou falar de algumas características suplementares famosas de nuvens Cb.
Características suplementares bem famosas em nuvens Cb
Existem 12 característica suplementares possíveis para nuvens Cb, mas eu vou destacar as 3 mais famosas, que a gente mais vê por aí na mídia, quando uma nuvem “diferente e assustadora” é avistada por alguém.
Quando a gente fala em característica suplementar de uma nuvem, estamos falando de um “sobrenome adicional” que vem depois do gênero + espécie. No caso do gênero Cumulonimbus, temos as espécies calvus e capilatus. E ainda poderemos ter as variedades e as características suplementares. Então por exemplo uma nuvem Cb da caracterterística suplementar incus (veremos adiante) é uma nuvem que poderia ter seu nome como nome completo Cumulonimbus capilatus incus.
Vamos então começar falando de incus. Incus significa formato de bigorna. Uma coisa que a gente lê muito por aí é que nuvens Cb tem o formato de uma bigorna, pois elas são mais largas na base, mais estreitas em sua extensão vertical e tornam a alargar no topo.
Dizer que uma nuvem Cb tem formato de bigorna é algo bem comum na literatura especializada (anvil, em inglês), mas ocorre que nem toda nuvem Cb tem um formato de bigorna “perfeitinha”. Quando ela tem esse formato de bigorna perfeitinha, dizemos que é uma nuvem com a característica suplementar incus.
Outra característica suplementar muito importante e famosa de nuvens Cb é a arcus. Bem recentemente eu falei sobre Cumulonimbus arcus aqui no blog (veja aqui) que também é chamada de nuvem prateleira.
Na nuvem Cumulonimbus arcus, temos as bordas da tempestade bem “recortadas” e elas são retas, lembram de alguma maneira prateleiras (shelf cloud, em inglês). Estão associadas com tempestades bem intensas e ventos fortes.
Outra característica suplementar bem famosa é a mamma. A nuvem Cumulonimbus mamma também é popularmente chamada de mamatus. São protuberâncias arredondadas na base da nuvem (facilmente observáveis aou olhar para cima), que lembram mamas.
Observe que nesses casos a característica suplementar é mais importante que a variedade. Quero dizer, mencionar se a nuvem Cb é da variedade calvus ou capilatus não diz muita coisa sobre a intensidade da tempestade como falar se é da característica suplementar arcus ou mamma e é por isso que essas duas características suplementares são tão famosas e direto aparecem na mídia como nuvens curiosas ou que chamaram a atenção da população de algum lugar.
Denotando a origem da nuvem
Podemos também nomear uma nuvem contando qual é a origem dela, qual sua nuvem-mãe. No caso do Cumulonimbus, o melhor exemplo é a Cumulonimbus flammagenitus, que é um Cb que se originou a partir de uma erupção vulcânica ou queimada. Eu falei sobre Cb flammagenitus nesse post.
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Espero que tenham gostado do post. As referências estão ao longo do texto. Se puderem, façam uma doação de qualquer valor via PIX: samanthansm@gmail.com.
Djalma Nogueira diz
Porque cb?