A temporada de furacões vai começar mais cedo este ano!

A temporada oficial de tempestades tropicais no Atlântico Norte, que vai de junho a novembro, inclui 97% da atividade tropical, de acordo com o NHC (National Hurricane Center, da NOAA). No entanto, a partir de 2021 o monitoramento das tempestades tropicais vai começar no dia 15 de maio, ou seja, 2 semanas antes. Vamos entender as razões ao longo do texto.

Quando falo em atividade tropical, me refiro a ocorrência de tempestades tropicais. E quando falo tempestades tropicais, me refiro a todas aquelas tempestades que recebem nome, mesmo que não evoluam para ciclone tropical (furacão).

Para que furacões se desenvolvam, é importante que tenhamos água do mar com temperatura elevada (acima de 27ºC) e pouco cisalhamento do vento.

O cisalhamento do vento é uma mudança na velocidade ou direção do vento. Se for intenso, pode ajudar a “desmanchar” uma tempestade que está se organizando. Lá no Atlântico Norte na região onde os furacões começam a se formar (costa da África) e para onde eles se deslocal (costa dos EUA e Golfo do México) o cisalhamento do vento é tipicamente intenso em maio e se enfraquece ao longo de junho e julho.

A definição de que a temporada de furacões é entre junho e novembro tem também raízes históricas. Quando o primeiro sistema de alerta de furacão nos Estados Unidos foi estabelecido em 1935, foi programada uma linha telegráfica especial para conectar as estações meteorológicas, linha essa que funcionaria entre entre 15 de junho e 15 de novembro. Essas datas oficiais foram alteradas para 1º de junho e 30 de novembro, em 1965.

Desde então, as imagens de satélite de alta resolução tornaram mais fácil para os meteorologistas ver tempestades que eles poderiam não ter identificado 30 ou 40 anos atrás. Esse histórico foi explicado pelo meteorologista Phil Klotzbach ao portal The Verge.

2020: um ano atípico

As tempestades tropicais chegaram antes do previsto no ano passado. A primeira tempestade nomeada da temporada de 2020 foi Arthur, que surgiu em 16 de maio. Isso fez de 2020 o sexto ano consecutivo a ter uma tempestade nomeada antes do início oficial da temporada.

Temos também que lembrar que 2020 foi a temporada de furacões no Atlântico mais ativa já registrada. Eu escrevi sobre isso lá no Portal Deviante, onde contei que a lista de nomes se esgotou! No texto, mostrei também essa ótima imagem:

Parafraseando meu texto lá do Portal Deviante:

A figura mostra a quantidade de tempestades nomeadas (tempestades tropicais e furacões) por ano, desde 1850 até 2015. Essa figura foi obtida no site do NHC-NOAA, que é o departamento máximo no monitoramento de furacões no Atlântico Norte. Observe que na maioria dos anos a quantidade de tempestades nomeadas é inferior a 20. Há evidentemente um destaque para o ano de 2005, que contou com 28 tempestades nomeadas. Agora temos também o ano de 2020, que até esse momento (escrevo em 14 de novembro) registra 29 tempestades nomeadas. A temporada de furacões no Atlântico Norte, climatologicamente falando, vai de meados de maio até 30 de novembro. Sendo assim, o ano de 2020 registra um recorde: é o ano com mais tempestades nomeadas.

E eu repeti esse trecho do texto só para lembrarmos como 2020 foi um ano bem atípico. Tão atípico que o NHC emitiu 36 avisos especiais antes de 1º de julho de 2020! Esses avisos especiais falam de possíveis áreas de interesse onde pode ocorrer o desenvolvimento de tempestades. Em outras palavras, os avisos especiais falam de “áreas para ficar de olho”.

Sendo assim, o fato de 2020 ter sido tão ativo ciclonicamente também contribuiu para essa mudança na data de início de monitoramento do Atlântico Norte para a ocorrência de tempestades tropicais.

Finalizando

Faltando menos de 2 meses para a temporada, o NHC já está alertando o público para se preparar e ficar atento aos relatórios e comunicados do orgão.

O NHC publicou um documento explicando todas as mudanças no monitoramento para a temporada de 2021 (veja aqui), mudanças essas que devem persistir ao longo dos anos. Outro ponto importante é o aumento da ocorrência de furacões de categoria 4 e 5, os mais destrutivos. Esse aumento tem relação com o aquecimento global e há cada vez mais dados para comprovar essa relação.

É importante lembramos que o NHC, apesar de fazer parte da NOAA (agência do governo norte-americano), é de extrema importância para todo o Golfo do México, já que o monitoramento dos furacões é feito ao longo de vários dias e é preciso estudar a trajetória das tempestades. Portanto, o NHC acaba sendo importantíssimo para todos os países do Golfo do México. Isso sem contar que o NHC também monitora a ocorrência de ciclones tropicais na faixa do Oceano Pacífico que banha a América do Norte. Fenômenos meteorológicos não obedecem fronteiras territoriais, sendo assim é comum e esperado que agências de vários países atuem de maneira conjunta. A Meteorologia só funciona plenamente como ferramenta para salvar vidas e minimizar estragos materiais se houver colaboração.