Outro dia eu queria aprender uma coisa (eu já nem lembro o que foi e vocês vão ver que é irrelevante para o post) e estava chateada porque eu só encontrava tutoriais em vídeo. Eu sou uma pessoa que funciona melhor com tutoriais escritos, como os manuais. Gosto de acompanhar o passo a passo, com figuras ou ilustrações quando for possível. Só que para essa ocasião específica eu só encontrava vídeos e eu não gosto de voltar e assistir de novo, quando tenho alguma dúvida em algum ponto do tutorial. Prefiro ver todos os passos de uma vez (como num manual) e voltar em cada um dos passos quando é necessário.
Comentei sobre essa mini-revolta no Twitter, aquele lugar que a gente vai pra reclamar de tudo. Foi quando uma pessoa puxou minha orelha e disse que muita gente não é plenamente alfabetizada, há pessoas com déficit de atenção, dislexia, etc. Para esse público, vídeos costumam possibilitar que elas atinjam seus objetivos de aprendizado.
Eu costumava ter uma postura soberba e muito egoísta que estou desconstruindo na medida que leio sobre Educação. Estudando alguns conceitos de Andragogia, entendi uma coisa muito importante e que os educadores devem colocar em prática:
Prepare seu material didático usando recursos variados (vídeo, imagem, textos, infográficos, etc), de maneira que esses recursos variados se complementem. Mesmo que esses recursos pareçam oferecer algo repetitvo, apresentar o conteúdo de diversas maneiras facilita no aprendizado e atinge um número maior de pessoas. Numa sala de aula ou num ambiente de aprendizado virtual, estamos lidando com pessoas diversas, com histórias e possibilidades diversas e sempre temos que lembrar dessa diversidade quando estamos preparando um material didático.
Andragogia é a área da Educação que lida com o aprendizado de adultos. Talvez algumas coisas que vou mencionar também valham para o ensino de crianças e adolescentes, mas é que ensinar adultos é mais complicado.
Crianças e adolescentes são “telas em branco” ou quase em branco. Adultos tem uma vivência muito maior, muitos já passaram por muitos outros cursos, tiveram experiências no mercado de trabalho, conhecem pessoas, etc. Para ensinar o adulto, é necessário apresentar estudos de caso e situações em que o adulto possa entender o lado prático do conhecimento e a aplicação naquilo que já experimentou ou que experimenta.
Outro dia, numa aula sobre andragogia, estava aprendendo sobre o Ciclo de Aprendizagem de Kolb e os Estilos de Aprendizagem (leia aqui). E sobre os estilos de aprendizagem, basicamente podemos resumir que pessoas são diferentes e portanto aprendem de maneira diferente. Em seus estudos, Kolb identifica 4 Estilos de aprendizagem que eu vou transcrever direto do site Andragogia Brasil:
Divergentes: Têm como pontos fortes a criatividade e a imaginação. Recebem este nome por serem bons em situações que necessitem gerar uma variedade de ideias e implicações alternativas. A pergunta característica desse tipo de estudante é “Por quê?”.
Assimiladores: São fortes na criação de modelos teóricos e raciocínio indutivo, não focando no uso prático de teorias. Suas perguntas características são “O que há para se conhecer?” e “O que isto significa?”.
Convergentes: Destacam-se na resolução de problemas, tomada de decisões e aplicação prática de ideias. Utilizam raciocínio dedutivo e recebem este nome porque trabalham melhor em situações em que há uma só solução a uma pergunta ou problema. As perguntas características desse tipo de estudante são “Como?” e “O que eu posso fazer?”.
Acomodadores: Gostam de experiências práticas ao invés de uma abordagem teórica. Eles geralmente assumem riscos e resolvem problemas de uma maneira intutiva e em uma abordagem de tentativa e erro. As perguntas características desse tipo de estudante são “O que aconteceria se eu fizesse isto?” e “Por quê não?”.
Ou seja: pessoas com mentes diferentes aprendem de maneiras diferentes. Por isso os materiais didáticos precisam ser criados pensando em diversos recursos para contemplar pessoas com estilos de aprendizagem diferentes. Lendo as descrições de cada um dos estilos de aprendizagem é provável que você se identifique com um ou até mais estilos. Talvez você entenda porque direcionou sua vida profissional para essa ou para aquela carreira. E como eu, talvez você entenda porque prefere instruções escritas ou em vídeo.
Ao estudar esse assunto, pensei nas vezes em que não me dei conta disso. Temos o costume de achar que o outro é completamente igual a nós e cada indivíduo tem suas limitações, preferências, desejos, intenções, etc. Quanto mais leio sobre o universo da Educação tenho certeza de uma coisa: para aprender a ensinar, é preciso ter empatia. Calçar os sapatos do outro e entender que esses sapatos são completamente diferentes dos seus.
Radar Meteorópole
- Há alguns anos falei dos tipos de inteligência enquanto eu estava fazendo uma reflexão. Estou recomendando porque tem um pouco de relação com o que escrevi no post.
- Saiu episódio do SciCast sobre nuvens! E quem está participando? Euzinha! Confiram e aprendam várias coisas legais sobre meu tema favorito.
- Gravamos um episódio maravilhoso do Teolabcast. Nosso convidado foi o amável pastor Luciano Manga, que foi vocalista do Oficina G3. Ele falou sobre a banda, sobre seu ministério, sobre a vida que vivemos hoje, etc. Foi um bate-papo tão gostoso, foi uma honra conhecer uma pessoa que eu já admirava tanto. Confiram lá!
Indicações de livros
Eu gostaria de indicar livros ao final de todos os posts, mas há dias em que esqueço de fazer isso ou não me sinto inspirada.
- Hoje vou indicar A Sexta Extinção: Uma História Não Natural, de Elisabeth Kolbert. O livro foi um dos vencedores do Pulitzer de 2015 e fala da sexta extinção em massa, provocada pelas atividades humanas e que está em andamento, conforme diversas evidências científicas.
- Também quero indicar O Grande Livro de Ciências do Manual do Mundo, que é um livro indicado para o público infantojuvenil despertar seu interesse por Ciências. Mas eu também indico para professoras de Ciências, há ótimas idéias para as aulas.
- E como eu contei que bati um papo super legal com o Luciano Manga, indico também o livro que ele escreveu contando sobre sua vida no Oficina G3. Um livro muito indicado para quem é fã da banda e para a gente ler testemunhos incríveis de como a música pode transformar a vida das pessoas.
- E recomendo também um livro gratuito, disponível em inglês no Project Gutenberg. É um livro de 1906, escrito por Amy Steedman, uma professora e autora que escrevia livros para crianças, muitos voltados para fé cristã e que eram usados em escolas privadas da época. Eu gosto de mergulhar nessas épocas antigas e o livro que vou indicar é In God’s Garden – Stories of the Saints for Little Children que narra a história de diversos santos católicos de maneira bem simplificada. Se você gosta do assunto e quer treinar sua leitura em inglês, deixo a dica!
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Ravel Giordano Paz diz
Samantha, muito bom e muito rico esse post (aliás, ainda não acabei de ler). Sou professor universitário (de Literatura), e confesso que tenho muita dificuldade de lidar com as dificuldades de meus alunos, principalmente os, digamos, menos jovens. (Nos cursos de Letras, vc deve saber, são frequentes pessoas maduras e até idosas.) A minha resistência tem a ver justamente com o fato dessas pessoas já terem um longo percurso, de modo que tenho uma aversão quase instintiva a lidar com suas “cabeçadurices”. Mas, de fato, a experiência também favorece os vícios, não é? Todos nós, cada um a seu modo, é um pouco prova disso, ainda mais nesse contexto que favorece os descontroles emocionais… Enfim, é bom saber que existe toda uma área pedagógica dedicada a essas questões. Acho até que eu já tinha ouvido falar em Andragogia, mas nem me lembro quando. Vou pesquisar mais a respeito. Pra fechar, vou me permitir um reparo (desculpe, é mania de professor kkkk): eu não diria que as crianças e os adolescentes são tabula rasa (ou quase, como vc disse). Digo isso como pai relativamente experiente: a “aquisição do conhecimento”, pra falar com os pedagogos, é uma coisa espantosa, ainda mais hoje em dia, quando as crianças recebem milhões de estímulos e informações por segundo via internet. Muita força pra você e parabéns por seu trabalho!
jose h. de oliveira Filho diz
Achei muito interessante o que foi exposto , principalmente os quatro estilos de aprendizagem , os quais eu desconhecia .
Samantha diz
Obrigada pelo comentário e pela observação, Ravel.
De fato, as crianças aprendem muito rápido. Absorvem tudo, vejo pelos meus filhos. E elas questionam, dão opiniões. Isso é incrível, uma grande diferença entre minha geração e a deles.
Seja bem-vindo.